No Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a perspectiva de adesão do Brasil ao Acordo de Compras Governamentais, patrocinado pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Na prática, isso significa a previsão do Brasil extinguir a atual política brasileira de compras governamentais na área de bens e serviços e obras de construção civil e liberar nosso mercado para as empresas estrangeiras.

A competição com o mercado internacional nunca foi problema para nossas empresas. Ao contrário, nas últimas décadas nossa engenharia esteve presente em mais de 40 países, inclusive nos Estados Unidos e nos principais países europeus. Concorrências internacionais existem no Brasil desde a década de 80. O que é inaceitável é a decisão de atrelar os serviços e obras de engenharia à concessão de financiamento. Não é a concorrência estrangeira, e sim o modelo de financiamento a ser implementado, que deixará as empresas brasileiras em uma posição de dependência absoluta dos investidores internacionais.

O Estado, que hoje contrata, será substituído pelo investidor internacional, que traz com ele, nos serviços de engenharia, o projetista, a construtora e a montadora. É o fim da política de conteúdo local. Com o índice de desemprego no setor em torno de 150 mil profissionais e as principais empresas em regime falimentar ou em recuperação judicial, a engenharia brasileira pós Lava-Jato agoniza. Com a dependência ao financiamento externo deixar-se-á para trás a trajetória vitoriosa que a colocou na vanguarda da engenharia mundial. É o fim da engenharia nacional.

A política deliberada de exterminar a nossa inegável capacidade de competição está expressa nos ataques sistemáticos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). Importante instrumento de financiamento de obras e serviços de engenharia nos últimos 60 anos, o BNDES está sendo destruído. Um crime que se insere na política do Estado Mínimo. Na contramão da história, hoje optamos por esperar que investidores estrangeiros venham solucionar nossos problemas ao invés de usarmos parte das reservas brasileiras para um Fundo de Investimento em Infraestrutura, utilizando o BNDES como instrumento organizador.

Em um cenário no qual o Brasil torna-se incapaz de exercer sua soberania, as consequências vão muito além do trágico fim da engenharia nacional e do maior banco de investimentos do país. O atrelamento ao financiamento externo também decreta o fim da possibilidade de retomada de uma política industrial, já que é o Estado, maior comprador em qualquer economia, que estimula os setores estratégicos para o desenvolvimento nacional. Assim fazem os países desenvolvidos. E os frutos são inquestionáveis: mais empregos, maior renda e desenvolvimento econômico. São essas as razões que levam, por exemplo, o governo dos Estados Unidos, por lei, a dar preferência aos bens e serviços de seu país.

Para valer, o acordo deverá ser aprovado pelo Congresso Nacional. Depende de nossa capacidade de diálogo com os parlamentares, com a participação direta dos representantes da indústria nacional, das empresas e profissionais das engenharias, e da conscientização de todos os setores da sociedade brasileira, a possibilidade de impedirmos que o Brasil, que projetávamos como a Nação Protagonista do século 21, volte aos tempos do Brasil Colônia.

A Direção

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