A engenharia nacional como eixo do desenvolvimento

Foto: Pixabay


Por Francis Bogossian, 
presidente do IBEP e da ANE e ex-presidente do Clube de Engenharia

A crise que assola o Brasil exige que se busque um consenso em torno de soluções, tendo por base o interesse nacional. Para tanto, é urgente a compreensão de que não há desenvolvimento de uma nação sem a engenharia, assim como não há engenharia em uma nação sem desenvolvimento!

Por décadas e em diferentes governos, mesmo com recursos limitados, era presente a relevância dada à educação, formação de recursos humanos especializada e à ciência brasileira, em prol da soberania nacional, hoje ameaçada por uma desastrosa política anti-conhecimento e negacionista. Numa época atribulada, jamais antes vista no Brasil, com a engenharia nacional sendo desmontada, a situação é muito grave, justo num momento de ascensão e ampliação da digitalização - disseminação da tecnologia 5G e da indústria 4.0, o que fará aumentar nosso distanciamento em relação aos países desenvolvidos. Não há investimentos e nem perspectivas para a retomada do desenvolvimento, em áreas estratégicas e fundamentais para a estabilidade e a subsistência de uma nação e de seu povo, sobretudo os mais carentes.

A ameaça à soberania nacional e o distanciamento em relação aos países desenvolvidos se verifica também na área dos recursos minerais. Nossa posição é privilegiada como território rico nesses recursos, matéria prima essencial à indústria moderna. Se não os utilizarmos como insumo industrial, com agregação de conhecimento tecnológico, seremos levados a exportá-los a preços irrisórios, para em seguida importar, a com valores majorados. Nessa situação estaremos destinados a aprofundar nosso distanciamento em relação aos países desenvolvidos. Embora com reservas em abundância nos limitaremos a participar da economia mundial como meros exportadores de commodities agrícolas e minerais. É preciso avançar em um processo endógeno e dinâmico de Inovação, com impulso na formação e engenharia nacional, fatores decisivos para que o Brasil possa avançar em seu desenvolvimento.

O quadro se agrava com o setor público endividado com o setor privado, nos três níveis, federal, estadual e municipal. Como a iniciativa privada provedora de serviços ao Estado sobrevive com tal frente ampla de inadimplência? São portas e empregos que se fecham, quando, em vez de calote, deveriam receber do Estado suporte.

As construtoras brasileiras, além de empregar, exercem o papel de educar. São elas, as empregadoras da mão de obra não qualificada e ainda analfabeta, que provêm cursos de alfabetização nos canteiros de obra, assim como treinamento profissional dos trabalhadores sem qualificação, nos ofícios de pedreiros, armadores etc.

É por eles que precisamos lutar!

Tais empresas são formadas, majoritariamente, por conjuntos de profissionais, que nelas aplicam seus conhecimentos e habilidades ao longo de décadas. Equipes agora sendo desmanteladas. O conhecimento, em especial a engenharia, deve ser colocado no centro das questões nacionais e revalorizados como alavancas para o crescimento econômico, para a reindustrialização do país e consequente redução da pobreza, buscando uma economia ambientalmente sustentável e solidária. Não por acaso, no passado, as grandes potências, EUA e URSS, mensuravam suas potencialidades pelo número de engenheiros que formavam a cada ano.

Nos últimos anos, o mercado da engenharia vem sofrendo crescente dependência da indústria estrangeira, devido ao desmantelamento, em âmbito nacional, das políticas governamentais. Temos que investir em um crescimento expressivo no setor nacional de pesquisas, em vez de ficar aguardando para adquirir resultados externos. Nessa crise, que estamos vivendo, testemunhamos a desarticulação de nossos principais centros de pesquisa, pela absoluta falta de verbas.

O Brasil poderia ter um grande crescimento, caso atacasse duas de suas maiores mazelas: a desigualdade e a oferta pública de bens e serviços sociais. É fundamental a geração de renda para a população, promovendo um círculo virtuoso: a criação de um mercado consumidor, que gera demanda, e um investimento industrial que a atenda. A oferta de equipamentos e serviços públicos envolve uma grande atuação da engenharia.

O combate à corrupção é essencial e deve ser mantido, mas não pode ser usado para provocar a estagnação da economia nacional, como vimos recentemente ocorrer. As punições de atos, comprovadamente ilegais, devem existir, sem, porém, atingir as empresas como um todo, levando ao desemprego profissionais probos e competentes e ainda a mão de obra dita “não especializada”, que está sem seu pão de cada dia e sem ter como morar.

Colapsar as empresas brasileiras é extinguir nossa soberania. A crise na economia fere mais especificamente a engenharia. Não há prioridade para os investimentos produtivos capazes de promover um desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável, enquanto os brasileiros desempregados já somam 15 milhões.

É indispensável manter o auxílio emergencial, como forma de injetar recursos produtivos no país. Sem isso não há promoção de consumo. Não se pode esquecer o incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico, através de investimentos em ciência, tecnologia e inovação, para a atualização do parque industrial brasileiro.

A população não pode prescindir de educação pública de qualidade e gratuita, envolvendo a construção de mais escolas. Outro problema, que é histórico, o saneamento, precisa ser atacado decisivamente. No que concerne à saúde, é fundamental e urgente a construção de mais hospitais e a internalização de toda a cadeia produtiva de saúde no país, mormente para combater com presteza e eficácia a pandemia, que está liquidando a população do país.

Com a pandemia, alongou-se o tempo de realização das obras públicas, aumentando seus custos, face à escassez de materiais de construção, com o consequente aumento de seus preços, e às necessidades de adequações sanitárias nos canteiros de obras. Nada disso está sendo observado pelas autoridades.

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