Movimento ‘Anda Metrô Gávea’ é lançado no Rio

Entrega à população da única estação inacabada da linha 4 vai beneficiar milhares de usuários ao dia, aumentar integração entre bairros e melhorar qualidade do ar; site tem link para adesão popular.

Associações de moradores e entidades da construção civil lançaram com a Concessionária Rio Barra (CRB) o movimento ‘Anda Metrô Gávea’, em defesa da finalização da obra parada desde 2015. A estação Gávea é a única inacabada da linha 4 do metrô no Rio de Janeiro, a maior obra de infraestrutura urbana no Brasil.

Detentora do contrato de concessão da linha 4, a CRB identificou o apelo popular pela entrega da estação e obteve apoio de entidades que subscrevem o site ‘Anda, metrô Gávea!’ (www.andametrogavea.com.br). Ele reúne argumentos ao público, depoimentos de dirigentes de associações de moradores, e do Clube de Diretores Lojistas (CDL), visando a sensibilizar o Governo do estado, responsável pela obra, a realizar a entrega definitiva à população.

No link https://aws.homolog.inf.br/paradometro/html/assinatura-manifesto.html, é possível a adesão de populares à iniciativa, com a participação no abaixo-assinado pelo reinício imediato da empreitada e a conclusão por inteiro. As associações de moradores da Gávea (AMAGÁVEA), do Alto Rebouças (AMAR) e de São Conrado (AMASCO) subscrevem a ação e destacam a importância para moradores e comerciantes da cidade.

“A estação vai reduzir a cultura do automóvel, e isso é importante para a cidade toda”, afirma René Hasenclever, presidente da Associação de Moradores da Gávea (AMAGÁVEA) – a estimativa é que o metrô linha 4 retire, por dia, 10 mil carros de circulação das ruas.

Governo do Estado X usuários
A obra da Estação Gávea está paralisada desde 2015, já com 43% dos trabalhos prontos. Na época, o Governo do Rio disse não ter dinheiro para finalizá-la. Desde então, a estação está inundada com 36 milhões de litros d’água, em solução de engenharia para evitar riscos à sua estrutura e à de prédios vizinhos. Em abril último, porém, em vez de optar pela conclusão e entrega à população, o Governo do Estado lançou edital para reforçar a estrutura da obra, em mais gastos sem data para os usuários desfrutarem o bem público. A decisão frustrou as entidades, que lançaram o movimento.

Uma intervenção provisória, sem terminar a estação, custaria em torno de R$ 300 milhões – equivalente a 40% dos R$ 750 milhões estimados para entregar toda a estação pronta para uso da população. Mas o Estado diz que planeja gastar numa obra temporária R$ 70 milhões, valor que não cobriria as necessidades técnicas de uma adequada contenção. Pelos cálculos da engenharia de custos, faria sentido o gasto total para beneficiar 22 mil usuários por dia, integrar cinco bairros (Ipanema, Leblon, Gávea, São Conrado e Barra da Tijuca), e fazer valer o dinheiro público já investido na construção.

Especialistas dizem que estação precisa ser concluída
Participam também do movimento ‘Anda Metrô Gávea’ entidades como Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações de Classe de Infraestrutura (BRASINFRA) e o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (SINICON). Os especialistas destacam que a importância da estação Gávea é ainda maior que sua usabilidade na região, visto que terá papel fundamental para uma futura expansão do metrô no Rio.

Gávea expande metrô no futuro
No Plano Diretor Metroviário (PDM), da Secretaria Estadual de Transportes, estão previstas ligações da Gávea com a estação Uruguai, na Tijuca – o que permitiria integração mais rápida entre as Zonas Sul e Norte, formando um anel metroviário –, e com a Carioca, no que seria o traçado original da Linha 4, que desafogaria o tráfego pela linha 1.

Francis Bogossian, presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE), destaca que “as obras precisam ser reiniciadas, com urgência e segurança, visando à sua conclusão, e deixando o Metrô fluir livremente para as estações General Osório, Jardim Oceânico e Carioca, o que é fundamental a uma melhor mobilidade urbana” (http://portalclubedeengenharia.org.br/2021/03/09/o-deploravel-abandono-da-estacao-gavea-do-metro/) .

Já o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, apela “à sensatez das autoridades do Estado e do TCE para que saiam da postura imobilista e façam esforços para o término da Estação Gávea” (http://portalclubedeengenharia.org.br/2021/04/19/estacao-gavea-por-pedro-celestino/).

Ruído de comunicação - Em meio à defesa pelo término da obra, uma outra discussão está para ganhar corpo, envolta em ruído de comunicação. Técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE) fizeram relatório, em que apontam sobrepreço de R$ 2,3 bilhões na construção da linha 4, que consumiu até agora R$ 8,4 bi. A conclusão do TCE, contudo, é contestada em outro relatório, de autoria de um dos maiores especialistas no assunto, o professor Aldo Dórea Mattos.

Parecer técnico mostra equívocos em relatório do TCE
A pedido da concessionária, Mattos realizou análise, item a item, com base em patamares testados em outras obras e aprovados por outros tribunais. O resultado aponta que o TCE se equivocou ao utilizar bancos de dados sem parâmetros para a construção da linha 4.

“Em auditorias, é preciso ter um “custo-padrão” para se buscar nos bancos de dados oficiais. Mas não há como estabelecer um paralelo da obra da Linha 4 do metrô do Rio com qualquer outra do mesmo porte. Tudo nela é diferente e novo, seja pelo tamanho ou pela tecnologia aplicada, como o ‘tatuzão’ (equipamento-gigante que constrói túneis), o sistema de ventilação dos túneis e a ponte estaiada em curva”, afirma Mattos.

O professor listou exemplos de discrepâncias entre os dois relatórios. Na composição de preços adotada pelo TCE-RJ para o concreto projetado na obra, o equipamento imaginado por técnicos do tribunal é uma betoneira de 320 litros – máquina usada para fazer calçadas –, enquanto a obra do metrô utilizou duas centrais de concreto de alta capacidade de produção. Outro equívoco é que essa obra ocorreu em três turnos, com custos de adicional noturno e serviços sobre os quais houve incidência de adicional de periculosidade, além de benefícios aos empregados regidos por convenções trabalhistas – mas o TCE não levou nenhum desses gastos em consideração.

Para a CRB, cabe ao TCE-RJ analisar as diferenças para chegar à sua conclusão sem dúvidas, e de acordo com os custos de engenharia reais. A concessionária acredita que, ao verificar os equívocos, o tribunal restabelecerá a verdade e dissipará ruídos que podem, por ventura, frear o Governo do Rio para o caminho da retomada e do término para a entrega completa da obra aos cidadãos.

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