"Of Mice and Men" — A economia verde é a nova economia

A economia verde é a nova economia, também chamada de economia de baixo carbono. É para ela que o mundo está acordando neste ano de 2021. Foto: Agência BNDES.

Por José Luiz Alquéres, no Diário de Petrópolis em 6 de junho de 2021

Esta crônica bem poderia ter o título do livro de Steinbeck, que pode ser traduzido como Sobre Ratos e Homens.

Nos tempos em que a química apenas começava a se livrar da pecha de bruxaria, o químico e teólogo inglês, Joseph Priestley (1733-1804), realizou uma experiência que deixou a todos pasmos, mas que até hoje pode nos ensinar o básico sobre certos fenômenos que nos preocupam.

Ele colocou em um recipiente de vidro, hermeticamente fechado e cheio de dióxido de carbono (sinônimo de gás carbônico, na época denominado ar fixo), uma pequena planta e a expôs à luz. Verificou que a planta se desenvolvia. Caule e folhas. Processo mais tarde denominado fotossíntese. As plantas são compostas basicamente por carbono, o elemento constituinte do carvão vegetal, que elas capturam em grande parte do dióxido de carbono. Carbono é vida atual ou vidas passadas. Por isso, a parte da química que estuda seus compostos chama-se Química Orgânica.

Priestley repetiu a experiência colocando no recipiente, igualmente cheio do dióxido do carbono, um ratinho. O animal morreu asfixiado, naturalmente.

O mais surpreendente ocorreu quando colocou no mesmo recipiente a planta e outro ratinho e ambos sobreviveram.

Na época, já se sabia do papel dos pulmões nos mamíferos: transformar o sangue venoso em arterial por sua aeração. Assim, foi intuído que o rato, ao inalar o ar do ambiente, retinha o oxigênio em seu sangue e exalava, como produto da queima de energia do seu corpo, o gás que alimentava a planta. Priestley, anos depois, conseguiu isolar o elemento oxigênio, tão vital para a vida, como constatamos agora por sua criminosa falta em Manaus durante a pandemia, coisa de ratos e não de homens.

A discussão de mudanças climáticas pode se beneficiar desta singela experiência bicentenária ao elucidar o importante papel das florestas e do reflorestamento na captura do gás carbônico. Se mantivéssemos uma cobertura vegetal adequada para a renovação do oxigênio, a sustentabilidade da vida seria muito beneficiada.

O problema está quando, rompendo este ciclo natural, passamos a retirar do subsolo, quantidades apreciáveis de petróleo, carvão e gás natural e o consumimos em nossas residências, na indústria e no transporte. Atualmente, estima-se que este volume seja de 100 milhões de barris de petróleo por dia no mundo. Não há floresta suficiente para absorver todo o dióxido de carbono que resulta desta utilização. Pior, estes gases da combustão vão para a atmosfera onde criam uma camada que até deixa a luz do sol entrar, mas não deixa o calor da Terra se dissipar como deve. Com isso, o planeta vem se aquecendo progressivamente, o que está provocando mudanças climáticas (secas, inundações, alagamento de planícies costeiras, extinção de geleiras, de espécies de microrganismos e animais, mais sensíveis), afetando a cadeia de sobrevivência da nossa espécie, a saúde dos oceanos e do ar que respiramos.

Não queremos perecer como os ratos da experiência. Nem que as nossas florestas e biomas, como Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, continuem desaparecendo para proveito de madeireiros criminosos acobertados por parceiros aboletados em alguns ministérios, outra vez, coisa de ratos e não de homens.

Temos que usar nosso conhecimento científico para substituir a queima de combustíveis fósseis por alternativas que não aumentem a concentração de gases na atmosfera - energias limpas a exemplo da eólica ou solar - ou, caso sejam queimados, os gases sejam capturados, transformados quimicamente e o carbono enterrado o que ainda requer processos bem caros.

Não há outra maneira para se evitar o desastre climático. Lógico que isso tem um custo. Este custo, porém, representa nossa sobrevivência como espécie. São despesas com equipamentos, matérias primas e outros insumos que resultarão em empregos e meios de vida para muita gente.

Esta é a nova economia. A economia verde, também chamada de economia de baixo carbono, para a qual o mundo está acordando neste ano de 2021. Em 2020 o consumo de petróleo se reduziu em 13%. Neste ano, deve cair mais 5%. Isso provou que se pode viver com menos energia produzida de forma mais limpa. As maiores empresas de energia já estão investindo nisso, forçadas pela justiça ou por seus acionistas, como é o caso da Shell, da Exxon, e da Chevron. Países produtores de petróleo, como o Kuwait e a Arábia Saudita, anunciam grandes projetos de transformação da energia solar em hidrogênio e em eletricidade, formas limpas de utilização de energia.

Temos no Brasil abundância de condições para sermos destaque neste novo cenário energético. Precisamos formar gente boa e valorizar a ciência, o que começa nas famílias e nas escolas e segue pelas empresas. E, é claro, recompor a competência e a meritocracia no âmbito do governo que precisa acordar para tudo isso. E vamos tirar os ratos do caminho.

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