Reitores e instituições se unem em debate sobre o futuro das universidades públicas

A queda progressiva dos investimentos federais nas universidades públicas brasileiras revela uma situação insustentável para o país já a curto prazo. Sem pesquisa, ensino e extensão — pilares da universidade pública —, não há desenvolvimento e superação das desigualdades sociais. A fim de discutir este complexo cenário, o Clube de Engenharia e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) organizaram, no dia 1º de junho, o debate "Financiamento Federal das Universidades Públicas, situação atual e próximos encaminhamentos".

"Estamos hoje assistindo a destruição de conquistas de 90 anos" afirmou na abertura, o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, ressaltando que o projeto atual é de desmonte da universidade, símbolo da possibilidade de Nação que o Brasil ainda persegue. Mantendo a análise crítica, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, lembrou que não há Nação desenvolvida no mundo que não tenha, em sua história, valorizado suas universidades e investido nelas. "E o investimento público é fundamental para geração de conhecimento que, num círculo virtuoso, pode gerar inovação e fazer o Brasil deixar de exportar commodities para exportar alta tecnologia", destacou. Confirmando o consenso que foi a marca do encontro, o reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antonio Claudio, registrou o fato inquestionável do papel das universidades como indutoras da redução das desigualdades sociais em diferentes níveis. "Hoje, dois terços dos estudantes de universidades federais vêm de famílias com renda de até 1 salário mínimo e meio por pessoa", exemplificou.

Propostas de ações concretas
Para o reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ricardo Lodi Ribeiro, o desmonte é deliberado. "O contingenciamento de recursos das universidades e das agências de fomento é uma escolha de natureza política, não financeira", criticou. A curto prazo, disse, é crucial acionar a Justiça contra os cortes imediatos e os contigenciamentos. A médio prazo está a criação de uma Lei Orgânica das Universidades Públicas que garanta, de fato, a autonomia universitária, inclusive financeira.

A cultura do ajuste fiscal também foi apontada pelo vice-reitor da UNIRIO, Benedito Adeodato: "Nos últimos anos, infelizmente, nós entramos na cultura do imediatismo econômico e largamos o planejamento", disse. Na mesma linha de pensamento, o reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Roberto Rodrigues, salientou que a cultura do ajuste fiscal não leva em consideração o papel do Estado como planejador da economia e da sociedade.

"Nós percebemos o potencial de investimento na formação profissional e técnica, que ao longo dos anos foi se perdendo", criticou Rafael Barreto Almada, reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Essa perda foi dimensionada por Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC): "a redução do orçamento fez com que os recursos de Ciência e Tecnologia recuassem 20 anos", disse. Entre outras sugestões, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, reforçou a necessidade de as entidades da educação estarem presentes no Congresso Nacional, buscando apoio dos parlamentares.

O debate, organizado pelo conselheiro do Clube de Engenharia Artur Obino, contou ainda com a participação do professor Luiz Bevilacqua, primeiro reitor da Universidade Federal do ABC; Luiz Pinguelli Rosa, ex-diretor da COPPE/UFRJ; Carlos Frederico, vice-reitor da UFRJ; Sebastião Soares, 1° vice-presidente do Clube de Engenharia; Luiz Cosenza, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (CREA-RJ); Paulo Jerônimo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Gulnar Azevedo, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO); e o professor e deputado federal Waldeck Carneiro.

Clique aqui para assistir ao debate na íntegra.

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