Brasil poderia ser autossuficiente em derivados de petróleo

Esta é a visão do engenheiro químico Elie Abadie, que falou sobre o parque de refino do país a convite da Divisão Técnica de Petróleo e Gás (DPG) 

O Brasil conseguiu se tornar não só autossuficiente na produção de petróleo como um grande exportador de óleo cru, mas não alcançou a produção do volume de derivados necessário para atender sua demanda interna. Esse paradoxo e suas consequências foram mostrados na palestra do professor e engenheiro químico Elie Abadie, que faz parte de um ciclo organizado pela Divisão Técnica de Petróleo e Gás (DPG) do Clube de Engenharia. O especialista, que atuou durante décadas na área de refino da empresa brasileira, defendeu medidas que reduzam o impacto dos preços dos combustíveis no custo de vida da população e garantam a autossuficiência também no abastecimento.

"A Petrobras tem condições para baixar seus derivados e garantir a rentabilidade adequada a seus acionistas, não uma rentabilidade absurda, proporcionando dividendos astronômicos."

Em “Panorama do refino no Brasil: venda das refinarias da Petrobras”, Abadie apresentou uma radiografia do parque de refino do país num momento em que a empresa nacional está privatizando parte de suas unidades. Ele ressaltou que nas últimas décadas as refinarias da Petrobras sofreram uma série de modernizações e estão em sua grande maioria preparadas para processar tanto óleo leve quanto pesado. Portanto, levando em consideração uma capacidade instalada para o refino de até 2,28 milhões de barris por dia, seria possível atender a demanda nacional com a utilização de 90% desse potencial.

Foto: Agência Petrobras/Geraldo Falcão

Autossuficiência explicada
No panorama do mercado internacional, o Brasil ocupa o nono lugar em termos de capacidade de refino, com um total de 16 refinarias, distribuídas principalmente pelas regiões Sudeste e Sul. O país ainda não tem qualquer unidade no Centro-Oeste, que é abastecido pelo Sudeste, e apenas uma em Manaus, na Região Norte. O Nordeste ocupa uma posição intermediária, mas tem um significativo déficit em relação ao consumo.

“Se nós operássemos com um fator de utilização de 90%, teríamos um refino útil de 2 milhões e 81, que é maior do que o mercado nacional. Então, reparem que os números seriam em alguns lugares superavitários, principalmente na região Sudeste e Centro-Oeste, a Região Sul equilibrada e a região Nordeste com um pequeno déficit que poderia ser suprido com o excedente do Sudeste. Como isso não acontece, temos importações razoáveis de derivados”, declarou o palestrante, que estimou a importação em 487 mil barris diários.

Conheça a evolução do parque de refino brasileiro neste vídeo da Petrobras de 2013:

Mesmo sem grandes ampliações do parque nacional, seria possível sustentar essa garantia de fornecimento interno, já contando com um crescimento do consumo na ordem de 3% ao ano até a virada da próxima década. Abadie também criticou a atual política de preços da Petrobras, de Preço de Paridade de Importação (PPI), que vem sendo a vilã da inflação no país. Ele defendeu a revisão dessa equação para adequar os preços à realidade da população. Segundo o engenheiro, com uma redução no preço de 12%, mesmo assim a margem de lucro final da Petrobras seria de 160%.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

“Eu chamo atenção para o fato de que a Petrobras tem condições para baixar seus derivados e garantir a rentabilidade adequada a seus acionistas, não uma rentabilidade absurda, proporcionando dividendos astronômicos. Eu fico feliz porque sou acionista, fico satisfeito, mas como cidadão brasileiro eu fico indignado com isso porque no interior o preço do GLP está de tal maneira extorsivo que o pessoal está usando lenha. Os fretes aqui estão absurdos porque o combustível é alto. A gasolina também é alta. Esse valores poderiam ser reduzidos”, declarou o engenheiro.

Vendas de refinarias
Abadie questionou a decisão da Petrobras de vender grande parte do seu parque de refino, afirmando que a medida deixa a companhia em situação vulnerável, apesar de atualmente, com a alta do preço do barril do petróleo no mercado internacional, a margem de lucro na exploração ser a mais rentável. Seria estratégico, segundo ele, que a empresa refinasse seu próprio óleo para não ficar refém das cotações externas e para garantir o bem-estar e a segurança nacional do país. Com a privatização, o Brasil correria o risco de desabastecimento, tendo em vista a não obrigatoriedade de fornecimento interno.

O chefe da DPG, Rubin Diehl, agradeceu a contribuição do palestrante e ressaltou que a DPG está se preparando para receber novos convidados nos próximos meses a fim de esmiuçar os diversos temas relativos à indústria do petróleo e buscar um maior esclarecimento da sociedade sobre os rumos dessa importante cadeia produtiva.


Confira as palestras anteriores do ciclo de eventos sobre a Petrobras promovido pela DPG:

 DPG promove ciclo de palestras sobre Petrobras em série de encontros que prosseguirá em 2022

O vídeo com o registro da palestra de Elie Abadie estará disponível ainda esta semana no portal e no canal do Clube de Engenharia no YouTube.

Da redação
Foto: Ministério de Minas e Energia

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