Cidade ganha primeira bolsa de créditos de carbono do país e vê diversas iniciativas vingarem em prol da sustentabilidade
Projetos do poder público e da iniciativa privada estão dando ao Rio de Janeiro protagonismo no cenário dos negócios verdes no país. A proposta é tornar a cidade a capital de atividades com foco na sustentabilidade e criar um ecossistema favorável à instalação de empresas voltadas ao meio ambiente que contariam com a vantagem dessa integração e com incentivos fiscais.
A ideia já começou a sair do papel com a instalação no Centro da cidade da multinacional AirCarbon, com sede em Cingapura, que já opera desde dezembro de 2021 uma bolsa de créditos de carbono. O principal negócio da empresa é a realização de leilões de títulos de empresas de energia limpa ou de reflorestamento, por exemplo, responsáveis pela redução de emissão de CO2 para a atmosfera. Na plataforma da empresa, são feitas as negociações digitalmente, com clientes que justamente precisam mitigar suas próprias emissões.
O diretor-presidente da AirCarbon Brasil, Carlos Martins, explica que a cidade foi escolhida para sediar a bolsa brasileira pelo seu potencial, pelo apoio do poder público e por sua visibilidade internacional. A empresa também atua em outros serviços afins como o cálculo da pegada de carbono e tem uma operação globalizada.
“Foi um passo importante o Rio ter adotado um discurso de promoção do meio ambiente. Além disso, a cidade tem uma visibilidade global, o que vai ajudar na realização dos negócios”, afirma Matins.
Segundo ele, é esperado que outras empresas com a característica verde venham a se instalar na cidade em seguida. “Acredito que estamos contribuindo com a criação de um ecossistema de negócios verdes. Devemos atrair empresas que vão gravitar em torno da bolsa como ocorreu em Cingapura e Abu Dhabi”, diz.
Cadeia produtiva dos créditos de carbono
A instalação da AirCarbon no Rio foi comemorada pela prefeitura, que tem um grupo de trabalho que estuda mecanismos de incentivo para a vinda de empresas da cadeia produtiva dos créditos de carbono. “A ideia é conceder o benefício para marketplaces, certificadoras,
auditorias e demais prestadores de serviço relacionados com esse mercado. O grupo também avalia a concessão para empresas que financiarem iniciativas públicas e privadas que diminuam a intensidade de emissão de carbono no Rio”, diz nota das secretarias municipais de Fazenda e Desenvolvimento Econômico, que avaliam dar descontos no ISS.
O Rio, que já sediou as conferências da ONU Rio 92 e Rio+20, tenta aproveitar esse histórico e atrair empresas que transacionam ativos ambientais, consultorias, certificadoras, entre outras. O projeto também inclui o incentivo à inovação atraindo negócios tecnológicos e que têm baixíssimo impacto ambiental. Um exemplo é o Porto Maravalley, um projeto coordenado pela Invest.Rio, que pretende fazer um hub de inovação e tecnologia, ancorado na região do Porto. Elas seriam beneficiadas pelo ISS Tech, com alíquota reduzida de 2% para empresas de inovação, tecnologia da informação e economia criativa que se instalarem na região do Porto.
Em outra frente, o Governo do Estado também procura dotar a capital de uma nova âncora para negócios verdes. Em parceria com a Nasdaq, bolsa de empresas de tecnologia de Nova York, e a Global Environmental Asset Plataform (GEAP), pretende criar a Bolsa de Ativos Ambientais. Nela, seriam negociados, além de créditos de carbono, outros ativos como energia e florestas.
Entidades engajadas
De olho na mudança de mentalidade dos consumidores a Fecomércio do Rio está buscando essa transformação e apoiando o protagonismo da cidade nos negócios verdes. No fim do ano passado, a entidade criou o Instituto Fecomércio de Sustentabilidade – IfeS, que pretende estimular as práticas ESG por parte de empresas do comércio e serviços.
“A economia verde tem o potencial transformador para reduzir os impactos negativos derivados dos atuais problemas ambientais relacionados às mudanças climáticas, a escassez hídrica, a poluição dos ecossistemas, e a rápida redução dos ativos ambientais. A cidade do Rio tem aptidão para a geração de energias renováveis, especialmente a energia fotovoltaica, assim como o reaproveitamento de resíduos sólidos, na forma de insumos reintroduzidos na cadeia produtiva ou redirecionando a funcionalidade do bem ou material como é praticado pela economia circular”, afirma Vinicius Crespo, diretor do Instituto Fecomércio de Sustentabilidade – IFeS.
A Firjan também está engajada no estímulo à sustentabilidade e premia todos os anos iniciativas em diversas categorias que promovem o meio ambiente. Com isso, não só a cidade como o estado começam a construir as bases de uma economia mais afinada com os novos tempos e que tendem a criar perspectivas de crescimento. Entre os projetos já premiados, estão o De Olho no Lixo, que recolhe material reciclável em comunidades carentes cariocas, gerando renda para os moradores, e o Uçá, da ONG Guardiões do Mar, que atua na recuperação de manguezais no entorno da Baía de Guanabara.
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil