Complementariedade entre energias renováveis e a nuclear pode dar ao Brasil matriz livre de carbono

Combate ao aquecimento global e limitação hídrica forçam o país a repensar mix de fontes energéticas e buscar alternativas livres de emissão de CO2


Dois importantes fatores trazem a necessidade de o Brasil reestruturar sua matriz energética em busca de uma maior diversificação de fontes. Em primeiro lugar, o país enfrenta o problema da queda da produção hidroelétrica nos períodos de seca ou estiagem, colocando em risco o atendimento à demanda. Outro elemento de extrema relevância é a busca pela redução da emissão de CO2 com o objetivo de se combater o efeito estufa. Para resolver essa equação, em que há a combinação da segurança energética a custos previsíveis e baixos e com menor potencial poluidor, a solução é uma combinação entre fontes renováveis e a geração nuclear.
 

É importante ressaltar que a energia hídrica continua sendo a principal fonte de fornecimento no país, respondendo por 64% da matriz nacional. Além disso, sua geração independe de uso de combustíveis, sendo a mais barata que existe, e não produz gases responsáveis pelo aquecimento global. As represas das usinas, quando a níveis razoáveis, também contribuem para a estabilidade do sistema por fornecerem eletricidade de forma praticamente ininterrupta. No entanto, essa continuidade é ameaçada durante o inverno, quando tradicionalmente o volume de chuvas diminui, e em secas esporádicas. 

O problema não é novo, tendo em vista a preponderância da energia hidrelétrica no Brasil durante todo o século XX e a imprevisibilidade das chuvas. As secas sempre levaram a crises no suprimento desde os anos 1920, mas a expansão do setor, devido a seu enorme potencial, foi elevando a produção a patamares cada vez mais altos, o que afastou o fantasma do racionamento em diversas ocasiões. O problema não pôde ser evitado, no entanto, entre os anos 2000 e 2001, quando o país teve de fato que economizar energia em quase todo seu território.  

Novas barragens

Além da dependência do regime pluvial, a energia hidroelétrica enfrenta outro limitador político, pois a construção de novas barragens é duramente criticada pelo impacto que as inundações causam. A necessidade de remoção de populações ribeirinhas vem representando um entrave para novos projetos. Por esses motivos, o Brasil vive desde o início do século a chamada transição hidrotérmica. Ou seja: as limitações dessa importante fonte renovável hídrica estão sendo supridas em grande parte por usinas a gás, diesel, óleo combustível ou carvão. Essas unidades, altamente poluidoras, já são responsáveis por cerca de 14% da matriz. 

Tal tendência é reflexo da falta de planejamento adequado e de uma correta análise de todos os custos envolvidos. Usinas que consomem combustíveis fósseis produzem uma energia em média mais cara e colocam em risco as metas de redução de emissões de CO2, cuja tonelada pode atingir níveis estratosféricos até 2050.  

Por essas razões, a complementariedade da energia eólica é louvável, pois ventos fortes dão impulso para essa fonte durante o inverno, possibilitando ao país poupar suas hidroelétricas nessas estações de estiagem. A fotovoltaica tem potencial quase infinito e pode ser bastante explorada em localidades do país de alta insolação, como no interior do Nordeste, com fornecimento em quase todos os dias. O maior uso dessas renováveis, incluindo a biomassa, permitiria ao Brasil manter os reservatórios de água cheios, propiciando a manutenção de um poderoso estoque energético. 

Essa maior diversificação respeitando o meio ambiente ganha em termos de segurança energética se o país investir paralelamente na construção de usinas nucleares, cujo funcionamento também evita a emissão de gases do efeito estufa. A possibilidade de instalação de reatores no litoral, com condições favoráveis ao resfriamento, também apresenta a vantagem estratégica de ser essa região costeira a de maior consumo, reduzindo assim a necessidade de extensas linhas de transmissão. A evolução tecnológica vem, por outro lado, possibilitando a criação de plantas mais seguras através do desenvolvimento de reatores modulares pequenos (Small modular reactors ou SMRs em inglês), reduzindo ainda mais o risco de acidentes. 

Atualmente, o país conta apenas com as duas usinas em Angra dos Reis (RJ), com potência somada de aproximadamente 2 mil MW, o que representa cerca de 2% da matriz nacional.  O país tem muito a ganhar com a conclusão das obras de Angra 3, que acrescentará 1.405 MW ao sistema. No entanto, outras unidades podem ser acrescidas, dando ao Brasil maior potencial de crescimento econômico sustentável. 

Foto: Governo Federal/Agência Brasil e Bruno Batista/VPR/Agência Brasil

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