Humanidades traz história do Bendegó, o ‘Baiano Sideral’

Evento do Clube conta com participação do historiador Nireu Cavalcanti, que pesquisou
sobre o meteorito

O Humanidades na Engenharia apresentou episódio, que pode ser considerado uma
verdadeira epopeia brasileira. A história do meteorito Bendegó, que pertence ao
Museu Nacional, foi contada pelo historiador Nireu Cavalcanti, que pesquisou desde a
descoberta desse objeto na Bahia no século XVIII até sua sobrevivência ao recente
incêndio que atingiu o Palácio da Quinta da Boa Vista. Por isso, a palestra ganhou o
título "Meteorito Bendegó: o ‘Baiano Sideral’ símbolo de resistência do Museu
Nacional”.
Ele contou no evento como uma mobilização nacional permitiu no século XIX a
realização do transporte da gigantesca rocha até o Rio de Janeiro, envolvendo diversas
entidades, incluindo o Clube de Engenharia. Para se ter uma ideia do feito para a
época, foi necessário quase um ano para trazer o meteorito do Interior baiano até a
então capital do Império. Entre 1887 e 1888, a peça foi transportada primeiramente
por um carretão até uma ferrovia, que o levou a Salvador. Lá houve o embarque em
navio e até os bondes que faziam transporte de passageiros no Rio foram usados para
leva-lo ao Campo de Santana, onde funcionava o Museu.
Apesar de ter sido descoberto em 1784, o meteorito Bendegó foi durante mais de cem
anos muito mais motivo de curiosidade do que de estudo. Como contou arquiteto e
historiador, a primeira tentativa de retirá-lo do local fracassou, pois ele tombou logo
sobre o rio que lhe deu nome. Por isso, apesar da fama internacional por ter sido um
dos maiores do mundo na época, era difícil o acesso por parte dos cientistas a ele.
Foi em 1887 que se formou uma campanha envolvendo diversas instituições
científicas, a imprensa, empresários, políticos e a Família Real para viabilizar o
transporte. O trecho mais complicado foi justamente a parte terrestre inicial de cerca
de 120 quilômetros até a ferrovia mais próxima. Nireu Cavalcanti, que é professor da
UFF, diz que recebeu da neta do engenheiro Vicente José de Carvalho, que participou
da missão, o mapa com a trajetória da viagem. Esse e outros documentos estão sendo
reunidos para a publicação de um livro.
O palácio da instituição científica mais antiga do Brasil, na Quinta da Boa Vista, em São
Cristóvão, pegou fogo em setembro de 2018, mas o meteorito sobreviveu e deve
voltar a ser exposto ao público. “Bendegó sempre foi um símbolo do Museu Nacional.
Desde o século XIX é a peça mais emblemática do museu. Sempre foi o abre-alas de
todas as exposições. Era o que recebia os visitantes há década e décadas, seja no

Campo de Santana seja na Quinta da Boa Vista”, explicou o conselheiro do Clube,
Renato Ramos, que também é professor da instituição vinculada à UFRJ.
O palestrante também elogiou a qualidade do relatório da missão, escrito pelo
engenheiro José Carlos de Carvalho. O livro faz parte do acervo da Biblioteca do Clube
e o historiador acredita que possa ter servido de inspiração para o clássico “Os
Sertões”, de Euclides da Cunha, pela qualidade literária e riqueza na descrição da
paisagem do interior baiano, cenário parecido com o de Canudos. Ele, e os colegas
Vicente de Carvalho e Humberto Antunes formaram o trio de engenheiros que
planejaram o transporte.
“Para a tecnologia e para a ciência foi realmente um momento marcante e importante
para que a sociedade abraçasse a ciência. Foi essa a grande contribuição. Hoje estamos
abandonando isso. Essas entidades todas, seja o Clube de Engenharia, o Instituto
Politécnico, a Sociedade de Geografia, o Instituto Histórico-Geográfico, a Sociedade de
Medicina, a Escola Politécnica, a Escola de Medicina e o Colégio Pedro II tinham uma
missão que era construir o Império brasileiro com a maior capacidade tecnológica
possível”, disse Nireu.

O historiador, que é alagoano de nascimento, mas tem no Rio um tema central de seus
livros, também pesquisou a reação da sociedade com o feito. O meteorito foi exposto
em Salvador e no Recife antes da chegada ao Rio. Na capital pernambucana, causou
tanto frisson que virou nome de penteado. Houve filas para conhecê-lo também na
capital do Império.
“Nós aprendemos com o Bendegó de que quando a sociedade organizada se une, é
possível vencer qualquer desafio. Então, eu peço para que a sociedade atual se una
por soluções para este país”, ressaltou o historiador.
A vice-presidente do Clube, Maria Alice Ibañez Duarte, coordenou mais uma vez o
evento, que contou com a participação do público com perguntas e indagações sobre o
tema. Ela ressaltou a importante contribuição do Humanidades na Engenharia para
destacar o lado humano das ciências, em especial na engenharia, o que ficou em
evidência nessa epopeia do Bendegó.

O evento pode ser visto no link: https://www.youtube.com/watch?v=0WuPcV_F49s

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