Preservação do solo é fundamental para a biodiversidade e para a humanidade

Evento de Divisões Técnicas do Clube mostra a importância de se aliar preservação de terrenos e flora para maior equilíbrio ambiental

Apesar de dar nome ao país, o pau-brasil é uma das milhares de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. O risco do fim dessa e de outras variedades da nossa biodiversidade e a importância da boa conservação do solo foram temas debatidos no evento “Um milhão de espécies em extinção – A Nossa Parte II: Degradação e Consciência Ambiental”, que apresentou técnicas e iniciativas que buscam evitar maior degradação ambiental e até reverter danos causados à natureza. 

O debate foi organizado pelas Divisões Técnicas de Recursos Naturais Renováveis (DRN), de Recursos Minerais (DRM) e de Geotecnia (DTG) e foi a segunda edição de  encontro realizado em 2020, sob a coordenação do chefe da DRN, Ibá dos Santos Silva e do vice-presidente, Márcio Patusco. Ibá abriu o evento ressaltando a importância da conservação do solo e contenção de encostas em áreas protegidas, como o Parque Estadual da Chacrinha, onde deslizamentos também ameaçam a flora.

A primeira palestrante foi a bióloga Patrícia da Rosa, professora da UERJ e ex-diretora do Livro Vermelho das Espécies em Extinção. Ela ressaltou que o número de espécies sob ameaça só da flora brasileira alcançou a cifra de 3.209. E apesar de diversas campanhas no passado de preservação, até a árvore-símbolo do país figura na lista.

Segundo a pesquisadora, diversas unidades de conservação do país têm exemplares de pau-brasil, que de fato foi beneficiado por ações de plantio. No entanto, as ameaças são constantes a essa espécie por ações de desmatamento na região de Mata Atlântica e por um extrativismo ilegal. 

Da Rosa explicou que na época da descoberta do Brasil, a árvore tinha muito valor na Europa para a fabricação de corantes para tecidos, sempre em tons avermelhados. Apesar de a indústria ter encontrado substitutos para o corante natural, no século XIX estudos mostraram o grande valor dessa madeira para a produção de instrumentos musicais.

Essa continua sendo a destinação principal da extração da árvore, o que pode ser realizado de forma legal, mas ainda se vê muito contrabando da madeira.

Essa exploração do pau-brasil durante 350 anos foi bastante intensa, marca a história do nosso país, marca o nosso papel econômico no mundo e também marca a espécie, principalmente pela relação com a exploração da Mata Atlântica. Mas a partir do século XIX marcheteiros europeus, principalmente o François Tourte, mudaram o formato do arco de violino e violoncelos, e elegeram a madeira do pau-brasil como a de melhor em consistência, resistência e fibras para a produção”, conta a bióloga.

Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Solos, Claudio Capeche expôs na sua palestra a importância de se conjugar os fatores de biodiversidade, água, solo e rochas, formando um só ciclo. Ele explicou que a própria vegetação ajuda na conservação do solo por evitar processos erosivos e acidente com quedas de barreira ou assoreamento de rios. 

Portanto, cuidando da cobertura vegetal, já há um importante avanço contra a degradação. Lamentavelmente, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 33% dos solos no mundo sofrem algum tipo de degradação. No entanto, é possível reverter esse processo não só com o replantio de espécies nativas, como com ações de recuperação. Para se evitar por exemplo que enxurradas destruam plantações, há a criação de terraços, curvas de nível e outras práticas que ajudam na drenagem.

É muito importante reforçar a importância dos serviços ecossistêmicos, ou seja, o que a natureza oferece de benefícios para a sociedade. Me refiro a esses quatro recursos: biodiversidade, tanto vegetal quanto animal, acima e dentro do solo, os recursos minerais e a água. O solo sustenta toda essa vida, mas ele depende de todos esses recursos para isso”, declarou o palestrante que citou o exemplo do programa Embrapa & Escola, como iniciativa educativa pela preservação

Os palestrantes responderam a diversas perguntas dos participantes que colocaram questões relativas a práticas de reflorestamento inadequadas, sobre desertificação e também sobre iniciativas de leigos no plantio de mudas sem as devidas orientações. Os especialistas afirmaram que todas as ações de plantio e recuperação precisam ser supervisionadas por profissionais gabaritados e seguir orientações técnicas. 

Podemos fazer um programa de contenção de encostas e de recomposição dos solos que são muito frágeis, como no Estado do Rio, sujeitos a deslizamentos e perdas. Podemos contribuir de modo a que a recuperação seja acelerada e possamos ter a satisfação de ver a contribuição para a perpetuação das espécies”, defendeu Ibá.

Assista à íntegra do evento: https://www.youtube.com/watch?v=PoN7ZT2ahUK

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