Encerramento de programas de pós-graduação da Unisinos gera protestos

Decisão de instituição gaúcha afeta 12 áreas de ensino e pesquisa, afetando linhas de referência nacional

Entidades ligadas à educação e à ciência vêm protestando nos últimos dias contra a decisão da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) de encerrar 12 de seus 26 programas de pós-graduação. A instituição privada de São Leopoldo (RS) anunciou recentemente a descontinuidade das atividades de ensino e pesquisa nas áreas de arquitetura, biologia, ciências contábeis, ciências sociais, comunicação, economia, enfermagem, engenharia mecânica, geologia, história, linguística aplicada e psicologia. Apesar da promessa de manutenção das bolsas e cursos em andamento, a medida causa apreensão em toda a comunidade acadêmica local e nacional e preocupação quanto ao impacto em projetos dos quais ela participa.

Em comunicado, a Unisinos informou que a decisão foi motivada por questões financeiras. Segundo a nota oficial, "houve significativa redução do número de matrículas, resultado da crise econômica do país, da redução expressiva de financiamento público para o ensino superior e da pandemia”. O texto também ressalta que o objetivo da medida é “promover o equilíbrio financeiro da instituição e sua preparação para crescer de forma sustentável nos próximos anos”.

Na última terça-feira (26/07) um grupo de estudantes realizou um protesto no campus. Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DEC) foram recebidos pela Reitoria, após a manifestação, e conseguiram o compromisso de adiamento da inclusão da medida na pauta do Conselho Universitário. No entanto, não há garantias quanto a um debate mais amplo com o corpo discente e docente nem de reversão de demissões já efetuadas.

A decisão da Unisinos gerou protesto do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), que divulgou nota de repúdio. Segundo o texto, a decisão unilateral da administração da Unisinos desmantela redes de pesquisa, fluxos de trocas de conhecimento e de formação, além do irreparável impacto nas vidas das pessoas diretamente envolvidas, como pesquisadore(a)s docentes, pesquisadore(a)s em formação e trabalhadore(a)s técnico(a)-administrativo(a)s”.

A medida da instituição gaúcha também provocou protestos de entidades ligadas às áreas afetadas. A Diretoria Executiva da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), o Fórum dos Cursos de Geologia do Brasil e a Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO) divulgaram nota conjunta lamentando a descontinuidade de pesquisas em andamento, em que a universidade é “referência nacional”. Segundo o documento, a instituição gaúcha “possui forte tradição na área de concentração Geologia Sedimentar, e com linhas de pesquisa em Estratigrafia e Evolução de Bacias, Paleontologia Aplicada e Sensoriamento Remoto e Modelagem Geológica”.  

A Unisinos também é referência em Ciências da Comunicação, área em que obteve o grau 6 de no máximo 7 na avaliação da CAPES. Houve protesto também da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação contra a medida. História é outra área de referência. Neste setor, destacam-se as pesquisas sobre escravidão e povos originários. O Grupo de Trabalho Nacional Emancipações e Pós-abolição divulgou uma carta aberta de solidariedade aos professores Paulo Roberto Staudt Moreira, autor de paradigmáticos estudos sobre a escravidão, as emancipações e o pós-Abolição, e Eliane Cristina Deckmann Fleck, referência em história indígena.

Em contraposição, foi aberto em setembro do ano passado pela Unisinos uma turma de pós-graduação em “Engenharia e Sistemas de Produção Taurus”. O fabricante de armas tem sede também em São Leopoldo.

Segundo o jornal “Folha de S.Paulo”,  representates da Unisinos foram convocados a discutir o assunto com a CAPES, em Brasília. A esperança é de que decisão tão drástica e danosa seja revertida.

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