Engenharia pode ser mais afetiva sim, garante Superintendente da UERJ

Luanda de Moraes participa do projeto Humanidades na Engenharia e fala do desafio de conciliar técnica com as necessidades da sociedade

O projeto Humanidades, do Clube de Engenharia, trouxe na edição de julho a engenheira química Luanda Silva de Moraes, ex-reitora da UEZO e atual Superintendente de Unidades Estratégicas da UERJ. Ela falou sobre o tema “Engenharia com Afeto para Contratos Sociais Humanistas”, mostrando como tem contribuído dentro da universidade para uma mudança na compreensão do papel da profissão junto à sociedade. Apesar dos pré-requisitos técnicos requeridos para o exercício da atividade, seu impacto sobre a vida das pessoas também exige uma visão mais holística e de responsabilidade social e ambiental.

Sua própria experiência se mostrou muito afinada com o objetivo projeto do Clube de Engenharia, que busca alinhar os conhecimentos científicos com as Humanidades. Luanda ressaltou que nos últimos anos tem sido desafiador adaptar aulas e currículos às novas diretrizes do Ministério da Educação, que procura incrementar as competências dos estudantes de Engenharia. A aprendizagem precisa incluir uma visão mais humanista, holística, critica e ética do exercício profissional. 

 Segundo a palestrante, os engenheiros daqui para frente terão cada vez mais que enxergar diversas consequências de suas decisões, que não se limitam mais a avaliar a resistência dos materiais empregados e calcular as forças envolvidas, entre outras avaliações técnicas. As demandas tendem a colocar como desafio também pensar nas necessidades dos usuários, os impactos ambientais, econômicos e sociais de obras e projetos em geral. 

Temos que buscar não somente a solução de desenvolvimento de novas tecnologias a partir da Engenharia, ou da Ciência por ela mesma, mas a partir daquele que a sociedade usufrui dos avanços tecnológicos, a partir das necessidades do outro. É um avanço que precisa ser feito”, explicou a palestrante. 

Luanda contou que grande parte dessa transformação já se fez necessária diante da crise da pandemia. De um momento para o outro, universidades tiveram que se reformular, buscar novos métodos de ensino remoto e principalmente atender aos estudantes mais carentes, que não tinham acesso à internet em casa. Foi um desafio e ao mesmo tempo uma revolução tanto na antiga UEZO quanto na UERJ, que recentemente incorporou essa universidade da Zona Oeste carioca.

Sua missão agora como superintendente de Unidades Estratégicas é buscar maior integração entre as diversas ciências e romper barreiras. Dificuldades não faltam, mas Luanda, uma carioca de Rocha Miranda, formada pela UFRRJ, já tem no currículo importantes vitórias, como o fato de ter sido a primeira reitora negra da UEZO.

Ela contou na palestra que grande parte de sua inspiração vem dos ensinamentos do líder sul-africano Nelson Mandela, que enfrentou o regime do Apartheid em seu país. Se estivesse vivo, ele, que sempre defendeu a democracia e o combate às desigualdades sociais e raciais, teria feito 104 anos no último dia 18 de julho.

A conselheira Carmen Lúcia Petraglia participou do evento e ressaltou a importância de se colocar também os preceitos de humanização em prática. “Como servidora pública, eu segui muito esse princípio de prestar o serviço necessário aos outros e acho que vou fazer isso até o final da minha vida. Se todos fizermos isso, teremos uma sociedade mais humanizada”, afirmou Carmen. 

A palestrante reconheceu o desafio e lembrou que grande parte dessa missão se faz necessária para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU.

Eu vejo que pensar e contemplar os outros e não deixar ninguém para trás é o caminho para nós reconstruirmos o tecido social e não apenas pensarmos no nosso eu. Para que ser engenheiros e engenheiras, se não pensarmos em construir grandes feitos para as pessoas”, afirmou Luanda, que também respondeu às perguntas dos participantes.

A coordenadora do projeto Humanidades na Engenharia, a vice-presidente do Clube, Maria Alice Ibañez Duarte, saudou as palavras da palestrante. “Essa é uma mensagem ao mesmo tempo lúcida e cheia de esperança para nossa missão, que é realmente colocar a tecnologia a serviço da Humanidade. Essa é a grande missão que nós técnicos temos agora, que é quebrar esse paradigma de que a tecnologia serve apenas para o consumo e para acumular”, ressaltou Maria Alice.

 

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