Plano nacional de prevenção contra desastres naturais vem recebendo apoio pelo país

Engenheiro Francis Bogossian defende criação de órgão responsável por estudos e licenciamentos a fim de se evitar tragédias por deslizamentos e enchentes 

Os eventos climáticos vêm se tornando cada vez mais agressivos no Brasil nos últimos anos. Recentemente, chuvas torrenciais causaram estragos e mortes em diversos estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Alagoas e Pernambuco. Apesar de o agravamento de fenômenos do tipo ser atribuído ao aquecimento global, que está longe de ser solucionado, grande parte dos problemas poderia ser evitada se o país criasse uma estrutura mais efetiva de prevenção. Essa é a visão do engenheiro civil Francis Bogossian, ex-presidente do Clube de Engenharia e conselheiro vitalício da entidade.

Recentemente, ele expôs sua proposta em palestra no CREA-PE, em Recife. A região metropolitana do estado nordestino foi drasticamente atingida por tempestades a partir do fim de maio, com índices pluviométricos muito acima da média, provocando mais de 130 mortes. Conforme o engenheiro bem ressaltou, os prejuízos e a perda de vidas afetam principalmente os mais pobres. 

Na mesma época, mais de cem municípios de Alagoas entraram em estado de emergência em virtude das chuvas, que deixaram mais de 60 mil desabrigados e causaram seis mortes. As narrativas se repetiram em diversos estados, como São Paulo, Minas Gerais, Bahia e, inclusive no Rio de Janeiro, que mais uma vez assistiu às famílias chorando seus entes mortos sob escombros em Petrópolis, Angra dos Reis e na Baixada.

Mas essas tragédias poderiam ter sido evitadas se o Poder Público tivesse tomado medidas preventivas. Segundo Bogossian, pelo menos desde 2010, quando o município de Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, foi duramente castigado, já se alertava para a necessidade de se criar uma política nacional de prevenção e mitigação de catástrofes naturais. Logo no ano seguinte, foi a vez de a Região Serrana do estado contar os mortos, que chegaram a quase mil, mas mesmo assim as autoridades não se sensibilizaram.

Segundo Bogossian, os investimentos preventivos são muito mais econômicos do que o dispêndio após os estragos. A prevenção, através de monitoramento, estabilização geológica e sistemas de drenagem, representa entre 2% a no máximo 10% do que se gasta em virtude das enxurradas, depois dos estragos feitos. A conta é simples, mas a execução das medidas a cargo dos municípios depende de recursos que nem sempre estão disponíveis, ou do emprego de pessoal especializado para a realização dos devidos estudos geológicos e geotécnicos, além dos projetos de engenharia.

Por isso, ele tem defendido em diversas palestras pelo Brasil a criação de um órgão de âmbito nacional, atrelado diretamente à Presidência da República ou a um ministério, para auxiliar nos licenciamentos e realizar estudos preventivos, principalmente em locais carentes e de maior risco. A criação do Departamento Nacional de Prevenção e Mitigação e Catástrofes reuniria técnicos capacitados para a realização de mapeamentos e projetos, servindo de apoio ao poder local.

Não é à toa que a sabedoria popular afirma que é melhor prevenir do que remediar. Temos no Brasil toda a capacidade técnica para enfrentar esses problemas, que não precisam de soluções vindas do exterior. No entanto, os municípios são carentes tanto de recursos quanto de pessoal especializado e por isso defendo a criação desse departamento nacional”, ressalta Bogossian.

O engenheiro também tem difundido um apelo para que o país adote uma cultura preventiva com relação obras públicas, muitas delas de contenção, com o mesmo fim de se poupar recursos e se evitar tragédias. Ele cita a Lei de Sitter, ou Regra de 5, segundo a qual a despesa com a recuperação de uma estrutura varia em progressão geométrica de razão 5, conforme o tempo passa e a vida útil diminui. Ou seja: quanto antes são feitas vistorias e reparos, menor é o gasto. É um princípio que se aplica também a pontes e viadutos.

Ações educacionais também são necessárias para o sucesso dos planos preventivos, pois a colaboração da população é fundamental para a prevenção de deslizamentos e enchentes e na conservação das estruturas construídas com essa finalidade. 

Acredito que devemos trabalhar com firmeza no sentido de criarmos a cultura da inspeção e manutenção no Brasil a fim de garantirmos que nossas construções se mantenham com o desempenho e durabilidade planejados, garantindo a sua funcionabilidade e segurança ao longo da vida útil”, defende Bogossian.

As propostas do engenheiro estão também detalhadas nesse artigo publicado pelo portal Brasil 247, que pode ser acessado no link [https://www.brasil247.com/blog/a-indispensavel-prevencao-de-catastrofes]. 

Assista à palestra e ao debate realizado no CREA-PE:

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