Humanidades na Engenharia aborda preservação dos povos originários

Projeto do Clube de Engenharia trouxe depoimento do historiador e professor indígena Michael Baré, que tratou sua proposta de refundação da nação

O choque cultural causado pela chegada dos europeus ao continente americano resultou nos últimos séculos em grande depreciação do valor da cultura dos povos ameríndios. No entanto, seus conhecimentos, sua filosofia e principalmente seu modo de vida em harmonia com a natureza merecem ser mais valorizados. Tanto que vem ganhando grande admiração a contribuição do professor e historiador indígena Michael Baré para uma nova forma de convivência da civilização ocidental com os chamados “povos originários”. Ele foi o mais recente participante do projeto Humanidades na Engenharia, que tratou dessa riquíssima herança no encontro virtual de agosto.

Baré, que se formou em História pela Uerj, tratou da “História e Cultura Indígena, rebusca de nossos valores ancestrais para reumanizar nossa civilização e fundar nossa nação", numa belíssima palestra. Ele foi da primeira turma de cotistas da universidade, em 2009, e enfrentou diversos tipos de preconceitos no ambiente acadêmico. Em sua palestra, ele contou como reagia às agressões e deboches, tentando responder no mesmo tom, o que não serviu para reduzir hostilidades. 

Com o tempo, ele passou a adotar outra postura com outros universitários, dando mais espaço para a fraternidade. Segundo ele, em vez de estimular mais ódio passou a compartilhar mais compaixão e solidariedade, o que mudou totalmente a atitude até dos mais refratários às minorias. 

Essa experiência resultou na elaboração de um estudo por ele e na formulação de um método capaz de ao mesmo tempo servir de fator de valorização de estudantes marginalizados como de integração entre pessoas de diferentes origens. Sua inspiração veio sobretudo da obra do educador Paulo Freire, que preconizava a educação libertadora. Assim, ele construiu sua metodologia epistemológica didático-pedagógica denominada "Educação Amorosa de Aproximação”, que já vem sendo apresentada em congressos nacionais e internacionais.

A partir do momento em que eu fui me apropriando dos saberes acadêmicos, eu fui percebendo que eu deveria mudar minha abordagem porque combater a ignorância com ignorância só causava mais ignorância”,  explicou o indígena. “Eu percebi que o único caminho que nós temos é a educação. A educação é a única arma que os povos originários podem usar que não causará reação genocida”, declarou Baré.

O Humanidades contou desta vez com a participação do engenheiro civil e diretor de Atividades Financeiras e de Atividades Patrimoniais do Clube de Engenharia, Júlio Villas Boas, que lançou algumas indagações sobre o processo de busca de maior igualitarismo com relação aos indígenas. Ele perguntou ao palestrante como essa nova geração de universitários com essa origem vai enfrentar os desafios do trabalho e da vida a partir da posse de um diploma, o que sempre foi raro no Brasil.

Baré aproveitou para aprofundar conceitos como o da “autofobia”, que retira a autoestima dessas pessoas, e da necessidade de se fortalecer o fomento ao pertencimento na sociedade. Num momento em que até as políticas de proteção aos índios e de demarcação de terras está ameaçado, sua fala foi um alento.

A vice-presidente do Clube, Maria Alice Ibañez, participou do evento e colocou para o palestrante perguntas do público, que questionou principalmente o andamento de políticas públicas para os indígenas.

Eu tenho certeza de que esse evento servirá de uma motivação adicional para nos engajarmos ainda mais na luta pela preservação das nossas riquezas, da nossa cultura, do nosso ambiente e pela defesa dos nossos povos originários, portadores de cultura, e que são os naturais defensores do nosso ambiente”, afirmou Maria Alice.

Assista ao evento:

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