5G traz avanços mas usuários ainda têm dúvidas sobre seu funcionamento

Vice-presidente do Clube de Engenharia, Márcio Patusco, faz esclarecimentos e dá orientações sobre troca de aparelho, benefícios da nova tecnologia e outros questionamentos em voga

Grande parte das capitais do país já está com o sistema de telefonia 5G em funcionamento. Mas os brasileiros ainda têm muitas dúvidas sobre essa nova geração da internet móvel. Por isso, a equipe do portal do Clube de Engenharia fez cinco perguntas ao Vice-presidente da entidade, Márcio Patusco, especialista em telecomunicações, para tentar sanar os principais questionamentos da população com relação a essa novidade. 

O início da operação do 5G dito “puro” vem sendo muito noticiada pela imprensa em geral, mas as operadoras já haviam anteriormente disponibilizado outras iniciativas de 5G que se ancoravam na infraestrutura do 4G (5G DSS e 5G em 2,3 GHz). Isso gerou muitas dúvidas para os usuários, que não sabem exatamente as diferenças e os reais benefícios de cada solução. Incertezas estas que as prestadoras de serviços, fabricantes de equipamentos e a Anatel não esclarecem, e que as matérias sobre o tema não aprofundam. É também bastante comum as pessoas se perguntarem se devem ou não trocar seu aparelho para se atualizarem. 

Em recente evento na Feira do Livro promovida pelo Sinttel (Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações do Rio de Janeiro), em agosto último, Patusco procurou retratar estas dúvidas, no sentido da busca de uma informação mais precisa sobre estas questões em sua apresentação “5G - Sua Natureza Existencial” (ver a íntegra da apresentação no link). A seguir, veja quais são os principais questionamentos que vêm sendo feitos sobre o 5G e as orientações básicas que levem a um melhor entendimento das repercussões desta nova tecnologia.

Vale a pena trocar de celular para ter acesso à cobertura 5G? 

Não. No início da oferta dos serviços a cobertura naturalmente é pequena e mesmo assim só nas capitais dos estados, e além disso, toda a infraestrutura para fornecer as vantagens de maiores velocidades, menores tempos de resposta e aplicativos estarão ainda em desenvolvimento e implantação, pois a tecnologia 5G se encontra em sua infância. No entanto, se a vida útil do celular tiver terminado, ou por perda ou furto, aí sim, recomenda-se a sua atualização para o 5G, já que os preços dos celulares se apresentam atualmente em queda. Caso opte pela aquisição de um novo dispositivo, informe-se sobre suas características, se atende às frequências 5G do Brasil, planos de operadora, e eventuais franquias existentes. Estudos de órgãos de defesa do consumidor brasileiros indicam que estas franquias, muito baixas em nosso país, acabam por interromper o uso do celular, em média no 23º dia do mês, impedindo, portanto, o uso pleno do exercício da cidadania pelo usuário.

— Qual a diferença entre as tecnologias baseadas no 4G oferecidas por algumas operadoras e o 5G “puro”?

A principal diferença inicialmente recairá em maiores velocidades. Caracteristicamente as tecnologias baseadas em 4G oferecem velocidades de dezenas de Mbps (Mega bits por segundo), enquanto as de 5G poderão chegar a centenas de Mbps. Futuramente, com outras implantações de blocos de frequências de maior velocidade poderemos chegar a velocidades de acesso de Gbps (Giga bits por segundo), com tempos de resposta perto de 1 ms (mili segundo) e com milhares de dispositivos por antena.

— Quanto tempo vai demorar para a cobertura chegar a todo o país?

Poderá levar décadas. Pesquisas recentes indicam que, para o Brasil em 2026, apenas 20% dos celulares serão 5G, enquanto o 4G ficaria com números em torno de 80%. Além disso, nosso país é reconhecidamente detentor de desigualdades digitais acentuadas, o que vai determinar áreas bem atendidas em contraposição à permanência de tecnologias existentes em regiões de menor poder aquisitivo. A previsão da Anatel para municípios de 30 mil habitantes é de atendimento até 2029. Até lá, e até mesmo depois disso, a convivência com o 4G será uma realidade para a grande maioria dos municípios brasileiros.

— O que muda no nosso dia a dia com o advento do 5G?

A grande mudança que o 5G introduz, além de maiores velocidades, é a acentuada melhora nos tempos de resposta, e de quantidade de dispositivos atendidos por área de abrangência. Com isso, algumas aplicações já se mostram adequadas a se desenvolverem incorporando estas características. São os casos de jogos em nuvem, carros autônomos, medicina remota, aplicações de realidade virtual aumentada, holografias, dentre outras. Adicionalmente, espera-se que inovações se apoderem dos recursos fornecidos pelo 5G para fornecerem soluções que atraiam os usuários, como ocorreu nas gerações anteriores que incorporaram à voz móvel inúmeros outros serviços, tais como os torpedos, e-mails, acesso à internet, streaming de vídeo, etc.

— Tenho celular 4G. Em quanto tempo ele vai deixar de funcionar em virtude da chegada do 5G?

Nunca. Vai acabar sua vida útil antes. A convivência das tecnologias faz parte da estratégia de implementação do 5G instituída pelos próprios elaboradores das normas e padrões internacionais, da mesma forma que temos hoje ainda em funcionamento dispositivos 2G e 3G em conjunto com 4G. Entretanto, dispositivos ditos 5G, poderão requerer características adicionais, ou até mesmo nem funcionarem adequadamente nas próprias redes 5G em virtude de estarem com versões não atualizadas destas padronizações. 

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