No Dia Internacional da Mulher vale a pena resgatar a história de pioneirismo da engenheira e empresária Clara Steinberg a partir do texto com o título “Quem é Clara Perelberg Steinberg na Rocinha? publicado no site www.rocinha.org (o portal oficial da Rocinha) assinado por Cida Belford, com colaboração de Andréa Mury, que divulgamos parcialmente a seguir:
“Confessamos que até a nossa editoria desconhecia essa pessoa, mas, para isso existe o Portal da Rocinha, que informa o que temos de melhor. Clara foi premiada com o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, em 2009, por bons serviços prestados à Rocinha. Clara Perelberg Steinberg é engenheira civil formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde também se especializou em engenharia industrial e econômica. Foi responsável pela construção de um centro comunitário na Rocinha, no Rio, de um centro cultural no Colégio Pedro II e pela recuperação da Oficina de Artes Maria Tereza Vieira, também no Rio, que oferece a crianças, jovens e adultos cursos de artes visuais, arte educação, música e cultura.
Aprovada em 1º lugar no vestibular da Escola Nacional de Engenharia – entre 400 candidatos, apenas cinco eram mulheres – foi uma das pioneiras na carreira. Fundou em 1948, com o marido e também engenheiro Jacob Steinberg, a Servenco Serviços de Engenharia Continental. Com bom humor, recorda os obstáculos que enfrentou no início: “Somos um casal que trabalhou junto a vida toda. Na época, eu não podia ser sócia. Mulher não podia negociar, não podia fazer coisas assim. Para trabalhar, eu tinha que ter licença do marido. Íamos no tabelião, ficávamos pra lá e pra cá. Eu era sócia dele, como é que precisava de licença? Eram bobagens desse tipo.” Mas, segundo afirmou, o Brasil era mais adiantado em relação à presença de mulheres na engenharia. Clara sempre viajou muito, para reunir-se com colegas de profissão em diferentes países. “As engenheiras de outros países se queixavam mais”, garante ela, que cursou engenharia química e civil e teve seu primeiro emprego numa fábrica de tintas.
Avó e bisavó, mãe do publicitário Rogério Steinberg, que morreu aos 34 anos, num acidente de trânsito, a engenheira transformou sua dor em uma obra social de imensurável valor. Em 1997, criou o Instituto Rogério Steinberg (www.irs.org.br) que já prestou mais de 20 mil atendimentos a crianças e jovens carentes da rede pública e de instituições beneficentes de ensino. Entre várias atividades, são oferecidas aulas de música, dança, informática, artesanato e desenho. Orgulhosa, enumera as conquistas desses jovens, como o ingresso em universidades públicas, em colégios como o Pedro II, e a produção do informativo “Jornal do IRS”, com matérias escritas pelas próprias crianças. “É um trabalho muito importante, porque o Brasil tem uma riqueza inestimável nas crianças pobres. Esta é uma obra não apenas para ser lembrada, mas para ser mais apoiada”, ressalta ela.
A Servenco começou no segmento de incorporação e construção de empreendimentos, como espaços residenciais, lojas, salas comerciais e apart hotéis, somando cerca de 10 mil unidades. Entre os projetos que merecem destaque está, ainda nos anos 70 a criação dos playgrounds. Lembrando que brincava nas ruas do Méier, Zona Norte do Rio, quando era menina, Clara Steinberg frisou a importância desses espaços para as crianças, principalmente nos dias de hoje.
Com atuação marcante na Associação Promotora de Estudos de Economia (Apec), no Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio (Sinduscon-RJ) e na Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), quando na presidência da Servenpla S/A e Servenpla RDB S/A, foi fundadora e presidente do Conselho Deliberativo do Banco da Mulher. Foi escolhida uma das 10 mulheres do ano na especialidade engenharia, em 1977, e recebeu o título de Cidadã Benemérita do Rio de Janeiro em 1982, sendo citada no livro Mulher – Cinco Séculos de Desenvolvimento na América, capítulo Brasil, e no dicionário Mulheres do Brasil – De 1500 até a Atualidade. Na Associação Comercial do Rio de Janeiro há mais de 30 anos, Clara tomou posse como diretora convocada, sempre caminhando de mãos dadas com o desenvolvimento econômico e social do Estado”.
Em janeiro de 2015, o Clube de Engenharia e o Brasil deram adeus a Clara Steinberg, com a certeza de que as mulheres, não importa o país e a cultura, têm na sua visão de um mundo mais justo e solidário um legado que orgulha e estimula, em especial a mulher brasileira, em sua agenda de lutas por direitos.