A principal crítica dos especialistas foi ao fato de o projeto do governo somente estender a linha 1, da Estação Ipanema, na Zona Sul, em direção à Barra da Tijuca, na Zona Oeste, passando pelo Leblon, fazendo uma espécie de “tripa”, como eles se referem, e abandonado a ideia de uma malha metroviária em rede. “Isso vai contra o sistema de várias linhas de metrô usado no mundo inteiro”, afirmou o engenheiro de transportes Paulo Cezar Ribeiro, professor da Coppe-UFRJ e presidente do comitê organizador do seminário. “Em vez de ser em formato de ‘tripa’, precisamos do metrô em formato de rede”, acrescentou.

“Nós não criticamos a obra de expansão. A posição oficial do Clube de Engenharia é de que é prioritária a construção da Linha 4 original. O que o governo está construindo é uma mistura da linha 1 com a Linha 4”, afirmou engenheiro Miguel Bahury, conselheiro do Clube de Engenharia, ex-secretário municipal de Transportes e ex-presidente do Metrô. O projeto original da Linha 4 a que Bahury se refere chegou a ser licitado, e previa a ligação da Barra da Tijuca ao Centro da cidade passando pelos bairros do Jardim Botânico, Humaitá e Laranjeiras. “Apenas estendendo a Linha 1, vai lotar o metrô. De outra forma, se você tem um sistema em rede, você não sobrecarrega as demais linhas, tem uma segurança maior e uma demanda por parte dos passageiros também maior”, acrescentou.

Com ‘tripa’, metrô chegara lotado à Copacabana, diz especialista 
No seminário, o gerente de projetos da RioTrilhos, Heitor Lopes de Souza, representante do governo do estado no seminário, explicou que a opção pelo novo traçado foi a menor demanda no caso de se construir a Linha 4 de acordo com o projeto original. Segundo Souza, o trajeto, passando por Jardim Botânico, Humaitá e Laranjeiras, receberia cerca de 110 mil passageiros por dia. Enquanto que, pelo novo traçado, passando por Ipanema e Leblon, seria demandado por 230 mil pessoas diariamente.

Mas a quantidade de pessoas que vão usar o metrô após a expansão para a Barra da Tijuca, em formato de “tripa”, também foi alvo de críticas. “Se o trem for da Barra para o Centro pela Zona Sul, em Ipanema, ou Copacabana, ninguém mais vai conseguir entrar”, afirmou Ribeiro. Entretanto, o gerente da RioTrilhos afirmou que pesquisas do governo do estado mostram que 50% das pessoas que embarcariam na Barra da Tijuca, saltariam nas estações da Gávea, do Leblon ou Ipanema.

O argumento não convenceu o professor da Coppe/UFRJ. Ribeiro afirma que, de acordo com estudos, o Centro da cidade é o local de convergência da grande maioria dos passageiros dos transportes coletivos e individuais da cidade. “Eu não consigo visualizar as pessoas indo apenas para Ipanema e Leblon. Elas estão atravessando esses bairros para chegar ao Centro da cidade”, ressaltou Ribeiro.

‘O governo não está tendo transparência pública’ 
Segundo o professor, o fato de ninguém ter acesso aos estudos do governo do estado inflamou os debates no seminário. “Eu esperava um pouco mais de dados e de razões técnicas. Eu não fui convencido”, concluiu Ribeiro. Ele foi acompanhado de Bahury: “Quem conhece essa pesquisa do governo? Quem tem acesso a essa pesquisa? Eles faltam com dados técnicos confiáveis.” O conselheiro disse que o Clube de Engenharia “estuda medidas legais cabíveis”, baseada na Lei de Acesso à Informação, caso o governo continue a não fornecer dados sobre o projeto para a Linha 4 do metrô. “O governo não está tendo transparência pública. Tem três cartas do presidente do clube ao governador, pedindo acesso às informações para que possam ser discutidas tecnicamente. E o governo não manda”, enfatizou Bahury.

Procurada pela reportagem do G1, na tarde de quarta-feira (22), a assessoria de comunicação da Secretaria estadual de Transportes primeiramente informou que respondia pela RioTrilhos. Mais tarde, à noite, a assessoria informou que quem responde pelo projeto da Linha 4 do metrô é a Secretaria estadual da Casa Civil. Procurada pela reportagem do G1, ainda na noite de quarta-feira (22), a assessoria de comunicação da Secretaria estadual da Casa Civil informou que não haveria tempo hábil para fornecer uma resposta.