Aeroportos do Rio: em defesa de uma perspectiva integrada

Nos últimos meses, em várias oportunidades, a grande imprensa tem repercutido o embate entre a ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil) e o Governo do Estado do Rio de Janeiro acerca dos usos e destinos dos dois grandes aeroportos de nossa cidade – o Antonio Carlos Jobim e o Santos Dumont. De um lado, o Governo do Estado defende que o Santos Dumont deveria operar exclusivamente com vôos para e de São Paulo. Acredita-se que uma certa reserva de mercado permitiria ao Aeroporto Antonio Carlos Jobim manter, e mesmo ampliar, seu movimento, asseguraria sua vitalidade, pavimentando, desta forma, o caminho para sua privatização, para a qual parece já haver sido dado o sinal verde da parte de Brasília.

A ANAC, por seu lado, assim como o Ministério da Defesa, coerentes com a defesa pública de que o Santos Dumont receba novos vôos, já os autorizou. Em suas manifestações, têm questionado a reserva de mercado. Afirmam que o Galeão não será prejudicado e que o grande beneficiário será o usuário, posto que é este quem sai ganhando quando se instaura uma “saudável concorrência”. Em outras palavras, afirma-se que, privatizados ou não, os dois aeroportos devem concorrer no mercado (livre) de serviços aeroportuários.

Entre os interesses de potenciais interessados na privatização do Galeão e os de empresas de aviação, o que parece haver sido esquecido é que ambos os aeroportos constituem equipamentos coletivos da cidade do Rio de Janeiro. Nossa cidade dispõe de dois grandes aeroportos, distantes 15 km, que em função da distribuição da malha urbana no entorno da belíssima (embora também maltratada e poluída) Baía de Guanabara, oferecem uma vantagem rara em grandes cidades no mundo: proximidade do centro urbano. Até agora o debate tem sido dominado pela visão dos aeroportos, das agências reguladoras e das companhias aéreas; é chegado o momento de olhar para estes dois aeroportos do ponto de vista da cidade, como equipamentos urbanos. Estes dois aeroportos devem ser pensados e administrados como partes integrantes de um mesmo e único serviço urbano. Precisamos de uma visão e uma gestão de conjunto, que explorem complementaridades. É necessário evitar que os serviços aeroportuários sejam submetidos à mesma e anti-social lógica que impera nos transportes públicos da cidade, em que um irresponsável processo de privatização levou a que os diferentes modais – ônibus, barcas, metrô, trens, vans - concorram entre si de maneira predatória, ao invés de se integrarem numa malha consistente e coerente a serviço do interesse público. 

As propostas trazidas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ao Conselho Participativo do Plano Diretor UFRJ 2020, conselho para o qual, entre outras instituições da sociedade civil, foi convidado o Clube de Engenharia, apontam a existência de uma alternativa à guerra dos aeroportos. Neste Plano é proposta uma ligação rápida entre os dois aeroportos. Esta ligação poderá ser metroviária ou, preferencialmente, através do veículo de levitação magnética que vem sendo desenvolvido pela COPPE – o Mag Lev Cobra – que poderá operar com energia solar, sem gerar qualquer poluição.. Seus custos de implantação e operação são muito favoráveis, quando comparados às opções alternativas – metrô, trem, ônibus. Sua adoção colocaria a cidade do Rio de Janeiro e seus aeroportos na vanguarda tecnológica em termos de transporte público ambientalmente amigável.

A linha a ser criada, além de permitir uma ligação direta entre os dois aeroportos poderia ter diversas estações, atendendo também a comunidade universitária e à enorme população da Ilha do Governador, Complexo da Maré e Bonsucesso, entre outras áreas. Isto faria do Santos Dumont um terceiro terminal do Antonio Carlos Jobim, superando de uma vez por todas a inócua e improdutiva perspectiva competitiva. 

Um serviço aeroportuário de qualidade é indispensável para uma cidade que permanece como principal destino turístico e segundo centro de negócios do país. Ademais, a proximidade ao centro e à Zona Sul confirmaria o Rio de Janeiro como grande receptor de encontros científicos e congressos profissionais. E também, é bom lembrar, como lugar privilegiado para reuniões empresariais e governamentais de âmbito nacional, para as quais a cidade de São Paulo tem-se mostrado progressivamente inadequada (enorme distância de Guarulhos, limitações de Congonhas, trânsito que prolonga interminavelmente os deslocamentos) Mais que possível, é necessário e urgente romper a visão segmentar que impera no debate sobre o melhor aproveitamento de nossa infra-estrutura aeroportuária. No momento em que se aproxima a Copa do Mundo e em que se participa da disputa para sediar os Jogos Olímpicos, o interesse da cidade deve sobrepor-se aos interesses de grupos ou empresas. 

“Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro”. Será que autoridades também serão capazes de ver o Rio de Janeiro e seus interesses? Um primeiro e importante passo seria abrir o debate público a respeito da proposta apresentada pela UFRJ.

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