Parque eólico na Bahia. Foto: Ulgo Oliveira/Fotos Públicas.

Por José Luiz Alquéres
Publicado em Diário de Petrópolis

Recentemente, em evento presidido pelo Presidente dos Estados Unidos Joe Biden, aquele país anunciou que se comprometeria em não contribuir mais com gases de efeito estufa a partir de 2050. O Premier da China XI-Jinping fez o mesmo, apenas deslocando a meta de seu pais para 2060. Nosso Presidente Jair Bolsonaro, também presente, em discurso de grande repercussão, prometeu o mesmo que os Estados Unidos. Um balanço zerado de emissões em 2050 e, de quebra, prometeu intensificar as medidas de proteção à Amazônia.

Embora a credibilidade dessa promessa de tão longo prazo, 30 anos, possa estar sendo posta em dúvida, principalmente porque fatores conjunturais impuseram um corte nas verbas do Ministério de Meio Ambiente no dia seguinte do discurso de Bolsonaro, não devemos desmerecer o passo dado. Foi um progresso.

Algo muito importante se pôs a andar no mundo e no Brasil: a consciência de que as mudanças climáticas são causadas em grande parte pelo homem e cabe a ele, homem, começar a agir, com intensidade, para resolver o problema que criou para si.

Um tema muito importante paralisou os avanços por décadas nessa ação: os países em vias de desenvolvimento queriam que os países desenvolvidos pagassem pelas medidas de coibir as suas emissões, já que eles eram responsáveis pela maior parte das emissões passadas. Como sabemos, elas são cumulativas: uma vez emitidas, elas vão para atmosfera e lá ficam por cerca de 10.000 anos causando o aquecimento no planeta e toda sequência de problemas que daí decorrem. De certa forma, com a China hoje liderando as emissões, ela um país em vias de desenvolvimento, o argumento perdeu força.

Assim todos, ricos e pobres, grandes e pequenos, parecem dispostos a fazer a sua parte.

O Brasil é um caso particular. Contrariamente à maioria dos países onde as habitações, as fábricas, o comércio e os transportes representam os setores mais poluentes (cerca de 80 por cento nestes países), no Brasil é o contrário. Aqueles segmentos são responsáveis por 25% das emissões, sendo que os 75% restantes, a maioria, é causada pelas queimadas, deflorestamento e agropecuária.

O nosso desafio é, portanto, reduzir os 2 bilhões de toneladas de CO2 que mandamos pelos ares a cada ano a zero.

Aqui explico um outro conceito. Não se fala mais emissões nulas e sim balanço de emissões nulo, significando que se reconhece que algo é emitido mesmo e que este algo nós devemos dar um jeito de captar plantando florestas, cultivando algas, ou capturando do ar e injetando em cavernas ou poços já esgotados de petróleo. Métodos caros e na maior parte dos casos ainda experimentais.

A primeira e mais simples forma de emitir menos é eletrificar todo o transporte: aéreo, marítimo e terrestre, com combustíveis da biomassa, eletricidade ou hidrogênio. As possibilidades de aumento da produtividade das nossas terras agricultáveis são enormes, mas há que se desenvolver variedades genéticas de cana de açúcar que capturem o nitrogênio do ar e o fixem no solo, reduzindo o consumo altamente poluente e gerador de gases estufa dos adubos nitrogenados. A agropecuária igualmente deve merecer a nossa atenção; aliás, já temos visto as grandes empresas supridoras de proteína animal, como Marfrig e JBS, entrando violentamente no comércio de substitutos da carne animal produzidos com soja, e cada vez mais apetitosos e melhores para saúde.

O desflorestamento é um desafio político, social, policial e ambiental. Esforços e uma repressão frequentemente dúbia não têm melhorado muito o quadro. Se conseguíssemos desflorestamento zero, o Brasil da noite para o dia teria atingido 40% da sua meta de redução das emissões para 2050.

Podemos dizer que com eólicas e solares na produção da energia elétrica, álcool e hidrogênio nos combustíveis líquidos, gestão e monitoramento por satélites e drones do uso do solo e desflorestamento, podemos cumprir a meta do país. Eventualmente mais para o horizonte do planejamento, 2040 em diante, venhamos a necessitar de usinas nucleares.

O que mais falta? Vontade política. Cumprir o anunciado

Todas as tecnologias no nosso caso estão disponíveis. O hidrogênio é o que mais demandará pesquisa e desenvolvimento de equipamentos seguros para seu uso, o que cai não mais no nível da pesquisa científica, mas tecnológica, para o que já se empenham empresas como Siemens, Mitsubishi e outras. Seu futuro no Brasil é promissor, tanto no chamado hidrogênio verde (obtido a partir da energia solar) como o hidrogênio azul, transformando o gás natural por osmose reversa.

Se corrermos, ganharemos enorme vantagem no comércio internacional que estará, possivelmente a partir de 2030, impondo pesadas barreiras não tarifárias aos produtos de exportação oriundos de países descumpridores de suas metas ambientais. As entidades financeiras igualmente já começaram a recusar todos os projetos que envolvam energias de origem fóssil como o petróleo e o carvão.

Este é o mundo limpo que precisamos nos integrar e marchar na dianteira, beneficiados pelo que a natureza e nossos antepassados nos legaram.

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