Confea e Clube de Engenharia do Rio de Janeiro estudam parcerias

Publicado originalmente pelo Confea

A atuação em debates históricos do país desde o século XIX marca o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. Fundada em 1880, a entidade é a mais antiga da área em atividade e acompanhou os altos e baixos da valorização do conhecimento científico. É com essa responsabilidade que o engenheiro civil Márcio Girão participou da plenária do Confea, nesta quarta (8), para tratar de projetos de parceria com o Federal. Eleito em agosto deste ano para substituir o engenheiro civil Pedro Celestino e empossado no mês seguinte, o engenheiro conheceu o Confea na ocasião, ao lado do diretor financeiro da entidade, Júlio Vilas Boas.

“O Clube de Engenharia representa uma tradição muito grande na história da engenharia brasileira, atuando desde pouco antes da libertação dos escravos. Discussões no campo da energia, da criação da Petrobras, questões estratégicas da democracia marcam sua atuação. Inclusive, um dos seus ex-presidentes dá nome a esse prédio, engenheiro Francisco Saturnino de Brito Filho. E na semana das comemorações do Dia do Engenheiro, vamos ter essa participação em nossa plenária. Muito honroso ter a nossa entidade mais antiga, na semana do Dia do Engenheiro e do aniversário do Federal. Vamos fazer boas parcerias”, disse o presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, ao convidar o presidente Márcio Girão a fazer parte da mesa, representando uma comemoração das mais simbólicas para a passagem do dia 11 de dezembro, Dia do Engenheiro.

Maior bancada do Crea-RJ, com 26 integrantes, o Clube de Engenharia se preocupa com o destino e as políticas do Sistema Confea/Crea. O presidente da entidade considerou que o convite do presidente Krüger possibilita conhecer melhor a realidade do Sistema. “Todas as conquistas e também fracassos do Sistema são responsabilidade de todos nós, engenheiros do Brasil, e a responsabilidade maior é de seus dirigentes, entre estes, os do próprio Clube de Engenharia”.

Presidente Joel Krüger destaca a tradição da entidade fluminense

Espírito do Sistema
Para Márcio Girão, “é essencial recuperar o espírito do Sistema Confea/Crea, que organiza a infraestrutura, identificando e dando protagonismo a quem faz e a quem ensina, consolidando um modelo vitorioso, de promoção do desenvolvimento por meio da ciência, da tecnologia e inovações. Não podemos pensar no desenvolvimento de um país sem a participação intensa da Engenharia e da Academia. Nesse sentido, não há como o Sistema e as demais entidades se omitirem diante do progressivo desmonte desse modelo do Estado brasileiro, crimes de lesa-pátria como o desmonte da Eletrobras e da Petrobras”, disse o engenheiro ao início da sua fala.

A liderança do Clube de Engenharia reforça que essas empresas estatais contribuem decisivamente para o desenvolvimento das tecnologias e de empresas de conteúdo local, bem como para a redução das desigualdades sociais. “Essas empresas têm missões estratégicas e são protegidas pelo artigo 173 da Constituição”.

Sucessor do engenheiro civil Pedro Celestino, Márcio Girão pretende manter a defesa da soberania nacional como premissa do Clube de Engenharia

Ele também citou a “apropriação por contingenciamento de recursos fundamentais, como o do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT, que garantem o fluxo de pesquisa e laboratórios acadêmicos, fundamentais ao acompanhamento da evolução tecnológica e das inovações”.
Segundo o presidente do Clube de Engenharia do Estado do Rio de Janeiro, o Brasil faz inovação.

Ao dar continuidade a seu discurso, o presidente do Clube de Engenharia reconheceu as dificuldades financeiras enfrentadas pelo Clube de Engenharia e considerou que “infelizmente, alguns protagonistas da economia brasileira pensam em políticas industriais que retiram do país a prerrogativa de atendimento de compras públicas por meio de empresas nacionais e pensam ainda que a tecnologia não se faz, se compra”. Por isso, acrescentou, “é capital que o Sistema Confea/Crea amplie os instrumentos para estimular o fortalecimento das entidades profissionais. Inclui-se aqui a Mútua, que pode oferecer soluções financeiras, em apoio às entidades para superar eventuais adversidades que ora enfrentam”.

Parcerias
O engenheiro civil Márcio Girão afirmou que o Clube delibera e debate sobre políticas públicas, por meio dos 150 membros de seu Conselho Diretor e de suas 20 Divisões Técnicas Especializadas, que cobrem os principais aspectos técnicos da Engenharia. “Vamos sugerir várias parcerias com o Confea, e essa é uma delas, ou seja, o Clube receber as demandas das atividades parlamentares e executivas do país para poder trabalhá-las em suas divisões técnicas no seu conselho. E por sua vez, devolver à assessoria parlamentar as sugestões para essa atividade aqui em Brasília. Acho que se isso der certo, será uma parceria profícua para todos nós”.

Outra preocupação é com a aproximação com a Academia. “O vertiginoso avanço das ferramentas tecnológicas à Engenharia, apoiando, mas também substituindo e até criando empregos, exige uma reavaliação permanente dos parâmetros curriculares, maior integração de seus acadêmicos com as empresas”, disse, exemplificando com o Pré-Sal, cuja tecnologia mundialmente reconhecida começou a se tornar realidade, segundo ele, no dia em que o pessoal do laboratório de pesquisa da Petrobras, o Cenpes, foi para o campo. “Essa liga entre ciência, tecnologia e inovação nas empresas é um desafio que o país ainda precisa aprender a superar”.

Debate intenso demonstrou a preocupação dos conselheiros com os rumos dos investimentos na Engenharia brasileira

Ele informou que a Comissão de Educação do Crea-RJ está organizando o primeiro Encontro online de Gestores e Coordenadores de Cursos das Instituições de Ensino Superior, sobre a implantação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais nos cursos de Engenharia, Agronomia e Geociências, “iniciativa que merece ser acompanhada de perto pelos demais Creas”.

Márcio Girão revelou que a nova diretoria do Clube de Engenharia criou o projeto “Humanidades na Engenharia”, voltado a trazer arte, cultura e ainda debates sobre questões sociais. “Nossa colaboração pode atuar, por exemplo, na construção de soluções para a engenharia social. Uma realidade no país em que, não raro, processos envolvendo setores mais pobres da população exigem julgamentos sem que disponhamos de normativos que atendam a essas adversidades”.

Outra preocupação da gestão será promover um plano de comunicação “mais ousado, que permita à sociedade perceber o papel relevante deste órgão de controle do exercício profissional em suas vidas. A ideia é informar pontos como a real abrangência dos cursos da área de Engenharia”.

Ex-presidente do também centenário Clube de Engenharia do Pará, o engenheiro eletricista Daniel Sobrinho saudou a liderança da entidade mais tradicional da engenharia brasileira

Debate
O debate com os conselheiros movimentou a apresentação do presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. A conselheira Andréa Brondani saudou a liderança, destacando o papel das entidades de classes. O conselheiro federal Daniel Sobrinho, ex-presidente do Clube de Engenharia do Pará, destacou a longevidade da entidade da região Norte, felicitando o convidado. “A união dos Clubes de Engenharia do Brasil é necessária para a defesa dos engenheiros do país”, respondeu Márcio Girão, enquanto o presidente Joel destacou o papel precursor do Instituto de Engenharia do Paraná.

O conselheiro Gilson Queiroz comentou que sente falta de o sistema profissional se debruçar sobre os temas levantados pelo Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. “Todos os ataques que estamos tendo em relação à Petrobras, às alterações que geraram os preços dos derivados de petróleo hoje, privilegiando os lucros da Petrobras. A gente precisa debater tudo o que envolve essa política de petróleo desastrosa como essa que está sendo adotada no país”, disse, ressaltando a necessidade de o Confea e os Creas também se dedicarem a esse debate sobre a soberania brasileira, como em relação aos compromissos assumidos na COP-26 para o uso de matrizes de energia limpa.

Engenheiro agrônomo Luiz Lucchesi reconheceu a importância da participação da entidade no debate sobre os destinos do país

O conselheiro Jorge Luiz Bitencourt, do estado do Rio de Janeiro, comentou que o legado da entidade fluminense envolve não só um processo político, mas também tecnológico. “O Clube foi o arcabouço das campanhas ‘O Petróleo é Nosso’, ‘Diretas Já’, Marcha pela Democracia, Abolição. Foi o primeiro que instituiu uma comenda para a etnia negra, então, esse legado, talvez seja incomparável”, disse. No mesmo sentido, o conselheiro Luiz Lucchesi manifestou apoio à iniciativa de receber a primeira entidade brasileira da engenharia para discutir os destinos do país.

Engenheiro eletricista, o conselheiro Francisco Soares lembrou a primeira conferência de Albert Einstein no país, no Clube de Engenharia, e afirmou que a entidade não pode perder seu protagonismo histórico. “Que esta seja a pedra de arrasto para que a gente possa reunir a engenharia em um grande debate. Além do petróleo, energia, temos outros temas que estão passando em branco. Temos que discutir o que estamos deixando de fazer. Há três anos, estive no Clube de Engenharia para falar da gestão 4G de trânsito. Tivemos a oportunidade de fazer uma bela discussão. E essa é uma área sensível, mal gerenciada, que provoca um morticínio de quase 50 mil pessoas por ano no Rio. O Clube de Engenharia pode assumir esse debate”, conclamou, ao que Girão se manifestou disponível para discutir o tema com o Confea.

Vice-presidente do Confea, o engenheiro civil João Carlos Pimenta lembrou que o Clube de Engenharia de Brasília, presidido por ele entre 2010 e 2016, é mais antigo que Brasília, fundado em 1957, três anos antes da inauguração de Brasília. “Com o tempo, a gente conseguiu uma situação financeira estável. E a gente se inspirou muito no Clube do Rio”, disse, disponibilizando-se a mediar o diálogo com entidades locais e convidando Girão a conhecer a sede da instituição.

“Deveríamos reconhecer a qualificação profissional que tem que ser feita pelas entidades de classe, o que pode ser uma fonte de recursos para elas. A Engenharia é praticada nas entidades de classe”, comentou o conselheiro federal William Barbosa. “Você tocou em um ponto importante. Nessa revolução tecnológica, a adaptação dos nossos profissionais é fundamental. Estamos discutindo esse problema”, disse o presidente Márcio Girão.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea

Fotos: Marc Castro/Confea

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