País desperdiçou R$ 200 bilhões com uso de termelétricas

Engenheiro Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobras, disse em palestra na DPG que esse foi o custo a mais pela contratação dessas usinas poluentes em comparação com as fontes renováveis 


Nos últimos anos, o Brasil vem enfrentando um acentuado crescimento no preço dos combustíveis e das tarifas de energia elétrica. Esta ainda conta com o agravante desta estar sob o risco constante de racionamento. Esse quadro, segundo o especialista em setor energético Ildo Sauer, é resultado da adoção de um modelo equivocado de produção e distribuição dessas fontes, o que tem resultado em aumento da inflação, obstáculo ao crescimento econômico e acirramento das desigualdades sociais. Professor da USP e ex-diretor da Petrobras, o engenheiro disse em palestra promovida pela Divisão de Petróleo e Gás (DPG) do Clube de Engenharia que o emprego das termelétricas aumentou a conta de luz dos brasileiros em cerca de R$ 200 bilhões nos últimos dez anos.
 

“Eu costumo dizer que nós queimamos nesses últimos dez anos, fruto dos modelos que levaram à construção desse portfolio ou conjunto de usinas, cerca de 200 bilhões desnecessariamente”, afirmou Sauer 

Essa foi a sexta apresentação de um ciclo que trata do setor energético brasileiro organizado pela DPG. O professor Sauer falou sobre a “Crise dos Combustíveis e da Eletricidade: Soberania e Desenvolvimento Nacional”. Apesar da amplitude do tema, o especialista mostrou como as diferentes fontes estão relacionadas, principalmente tendo em vista que o país tem recorrido a usinas termelétricas abastecidas com combustíveis fósseis para suprir a demanda por energia elétrica em períodos de menor vazão das hidroelétricas. Ele criticou duramente essa alternativa adotada por ser muito cara e mais poluente. 

Períodos de intermitência das chuvas

Sauer afirmou que o Brasil deveria parar de “culpar a natureza” pelos erros do modelo adotado por decisões políticas e investir na exploração de fontes renováveis de energia elétrica, como a hidráulica, a eólica e a fotovoltaica. Segundo ele, o sistema poderia ter sua capacidade acrescida em 1,1 TWh/ano, com o potencial hídrico ainda não explorado. Por outro lado, a energia eólica pode ainda somar outros 2,3 TWh/ano. Sem contar a solar, que seria praticamente infinita, e outras alternativas menores como a biomassa ou biogás. 

Mas como a intermitência das chuvas leva a períodos de menor nível dos reservatórios das hidroelétricas, sem que as demais renováveis supram essa queda de produção hidráulica, o Brasil precisa acionar termelétricas a diesel, gás e outros combustíveis. Essa contratação, que é facilitada pelo atual modelo dos leilões, encarece o preço final ao consumidor e não afasta totalmente o risco de racionamento.  

 “No setor energético brasileiro todos os recursos estão disponíveis para garantir o abastecimento e garantir o desenvolvimento. Estamos em crise de preços e de tarifas e ameaças de racionamento permanente. Isso está vinculado ao modelo de organização e gestão e da estrutura política”, ressalta o professor. 

Alteração na lógica de operação do sistema

Sauer também abordou na sua palestra a questão dos combustíveis, que tem sido outra dor de cabeça para os brasileiros e motivo de agravamento da crise social. Segundo ele, mesmo com os atuais preços do barril do petróleo no mercado internacional, seria possível praticar no país valores mais acessíveis à população se o Brasil aumentasse a produção de suas refinarias, cuja capacidade está sendo utilizada apenas em 75%, e adotasse uma política de estabilização de preços, através de um fundo, que evitasse as altas bruscas e imprevisíveis.  

“Parece que houve uma ação concertada de 2014 para cá de mudar a lógica de operação do sistema, que era precária antes, é verdade, devia ser diferente, mas mal ou bem mantinha as necessidades”, afirmou Sauer. 

Os participantes fizeram algumas perguntas sobre o contexto político das propostas do palestrante, incluindo a questão da proposta de referendo revogatório com relação a medidas privatistas tomadas nos últimos anos. O professor se disse favorável às consultas populares, por serem mais democráticas. 

O presidente do Clube, Márcio Girão, elogiou a palestra: “É muito importante que a gente tente discutir esse assunto, trazendo novos elementos para que o Clube de Engenharia possa defender a soberania nacional e seu desenvolvimento, que faz parte da nossa missão institucional”. 

 Foto: Victor Carvalho / Flickr

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