Dia histórico para as geociências no Brasil: ganhamos dois novos geoparques globais

O dia 13 de abril de 2022 passou a representar uma data importantíssima para as Geociências brasileiras, especialmente para a Geologia. Foram reconhecidos pela UNESCO dois novos geoparques globais no país: o Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte, e o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Apenas nesse dia, o Brasil triplicou seu número de geoparques, visto que nosso único até então era o Geoparque Araripe, no Ceará.

O conceito de Geoparques surgiu em meados dos anos 1990 e, segundo a definição da UNESCO, estes constituem áreas geográficas unificadas onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Nestes territórios, coexiste a conservação com desenvolvimento sustentável, tendo como aspecto fundamental o envolvimento das comunidades locais. Os geoparques mundiais da UNESCO não envolvem tão somente sítios geológicos de relevância internacional, mas também se propõem a explorar, desenvolver e celebrar as relações entre esse patrimônio geológico e todos os outros aspectos patrimoniais naturais, culturais e imateriais da área. Atualmente existem no mundo 177 geoparques mundiais, distribuídos em 46 países, reunidos na Rede Global de Geoparques Nacionais, uma organização internacional não-governamental e voluntária. A China é o país com o maior número de geoparques, totalizando 41.

O Geoparque Seridó envolve uma área de cerca de 2.800 km2, envolvendo integralmente os municípios de Cerro Corá, Lagoa Nova, Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas. Envolve uma população superior a 110.000 habitantes, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio de 0,65. Perguntamos ao geólogo Matheus Lisboa Nobre da Silva, doutorando da UFRJ e um dos principais articuladores da candidatura do Geoparque Seridó, sobre a importância social dessa iniciativa e ele nos respondeu que os “geoparques em geral possuem um fator social muito importante, pois almejam o desenvolvimento econômico sustentável de uma comunidade. Na região do Seridó potiguar isso não é diferente, pois dominada pelo semiárido sofre constantemente com períodos de seca, o que dificulta o sustento de boa parte da população. Mas dessa mesma terra, com sua geodiversidade imponente, surgem as diferentes possibilidades por meio do Seridó Geoparque Mundial da UNESCO. A interiorização e fortalecimento do turismo na região é um dos principais benefícios já observados no território, que tem visto a ampliação do trabalho e das oportunidades de renda. Nesse mesmo sentido, o reconhecimento dos patrimônios natural (geológico e biológico) e cultural seridoense com a chancela da UNESCO promove uma visibilidade internacional para o território, colaborando com as ações de educação, turismo e proteção ambiental. É, portanto, um reconhecimento formal da singularidade desse território, emoldurado por serras, planaltos, morros, rios, cachoeiras, mas também por registros humanos antigos, gastronomia forte e de pessoas fantásticas.”

O outro novo geoparque global brasileiro é o Caminho dos Cânions do Sul, situado entre o Rio Grande e Santa Catarina, envolvendo sete municípios (Jacinto Machado, Morro Grande, Praia Grande e Timbé do Sul, em SC; e Cambará do Sul, Torres e Mampituba, no RS), e uma população de 75 mil pessoas em uma superfície pouco superior a 2.800 km2. É uma região de beleza ímpar, caracterizada por um prolongado e sinuoso escarpamento que limita o planalto e a planície costeira, com desníveis que atingem os 1.000 m. Essa escarpa vem sendo dissecada ao longo de centenas de milhares de anos, formando cânions muito profundos e de singular beleza, repletos de quedas d’água, piscinas naturais e abrigando uma fauna e flora luxuriante. Conversamos com Maria Elizabeth da Rocha, geóloga da Prefeitura Municipal de Torres (RS) e perguntamos qual foi o envolvimento da população local em relação à proposta do Geoparque. A coordenadora científica do novo geoparque nos respondeu que “a população teve e tem um papel fundamental na proposta, uma vez que Geoparque é um programa que visa o desenvolvimento econômico sustentável, através do conhecimento das geociências e de sua divulgação. Assim que as pessoas entenderam o significado e a importância de sermos um Geoparque com reconhecimento mundial, todos perceberam que o território trabalhando como um único ente poderia evoluir e trazer um crescimento real para todos. Hoje temos um povo que está aprendendo que o individualismo não é a melhor forma de conseguir uma melhor qualidade de vida. Cabe salientar que o conhecimento da história e a cultura dos povos que deram origem às populações atuais, está fortalecendo o sentimento de pertencimento de todos. Portanto, estamos percebendo um envolvimento significativo de todos os segmentos da sociedade e um sentimento de orgulho por fazer parte de um dos novos Geoparques Mundiais da UNESCO.”

No Rio de Janeiro, desde 2010 vem sendo discutida e articulada a proposta de criação de um geoparque englobando a região dos Lagos Fluminenses e a Planície Campista. É o Geoparque Costões e Lagunas dos Estado do Rio de Janeiro, envolvendo 16 municípios desde Maricá até São Francisco de Itabapoana, com uma superfície de 10.900 km2 e mais de 1,8 milhões de habitantes. A região proposta para o geoparque compreende área com evolução geológica singular envolvendo mais de 2 bilhões de anos de história geológica e afloramentos que podem ser enquadrados em tipologias variadas como, por exemplo, espeleológico, estratigráfico, geomorfológico, hidrogeológico, história da ciência, ígneo, marinho-submarino, paleoambiental, mineralógico, tectono-estrutural, incluindo vestígios arqueológicos e sítios de interesse histórico/cultural.

Outras propostas de geoparques brasileiros, tais como o da Chapada dos Veadeiros (GO), Caçapava (RS), Cariri Paraibano (PB), Corumbataí (SP), Chapada Diamantina (BA) e vários outros, seguem caminhando rumo ao reconhecimento pela UNESCO, visando não apenas proteger e divulgar a Geodiversidade brasileira, mas também gerar desenvolvimento e prosperidade para os municípios e populações envolvidas.

Visitem os geoparques brasileiros! Se não puder ser presencialmente, visitem as suas páginas eletrônicas. Conhecer o Patrimônio Geológico é conhecer onde tudo começou, é conhecer a história antes da história.

 

Renato R. Cabral Ramos
(vice-chefe da Divisão Técnica de Recursos Minerais – DRM)

Imagem em destaque: ICMBIO / Divulgação

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