Setor recebeu aporte recorde em 2021, o que mostra a confiança no talento dos brasileiros para a inovação

Negócios inovadores, já popularmente conhecidos como startups, são empreendimentos de risco e que exigem muita dedicação na fase inicial por parte dos sócios para sua validação e sucesso. Apesar das dificuldades, algumas tendências são bastante animadoras para quem se embrenhou ou pretende trilhar por esse caminho, como o interesse de grandes investidores até do exterior por essas iniciativas brasileiras. Ao longo de 2021, essas empresas receberam o aporte de US$ 9,43 bilhões ou aproximadamente R$ 50 bilhões do chamado venture capital e as expectativas para os próximos anos ainda são de crescimento devido às mudanças comportamentais e tecnológicas pelas quais passa a sociedade.  

O volume de investimentos nas startups não só foi um recorde histórico como significou o triplo do aporte feito em 2020, segundo o relatório da plataforma Distrito. Grande parte do alto volume se deve ao interesse pelas fintechs, startups do setor financeiro, que abocanharam US$ 3,7 bilhões em investimentos, reflexo da intensa disrupção numa área onde vinha predominando uma concentração muito forte. Mas setores como varejo, mercado imobiliário, saúde e mobilidade também atraíram capitais. Apesar de a maioria desses negócios serem ancorados nas soluções tecnológicas, as inovações não necessariamente são baseadas nessas ferramentas, mas a partir de novas ideias ou métodos, o que gera oportunidades em diversas áreas como a Engenharia.

Danilo Picucci, diretor de Comunidades da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), explica que parte desse fenômeno se deve a um amadurecimento do mercado de inovação brasileiro. Segundo ele, até o fato de muitos empreendedores cujas iniciativas não deram certo no passado estarem numa segunda ou terceira tentativa contribui para esse maior preparo na fase atual. O avanço do uso da tecnologia entre os brasileiros é outro fator que estimula a ascensão das empresas inovadoras.

“Não só os investidores estão mais confiantes na capacidade de inovação brasileira, temos sido muito procurados por embaixadas ou câmaras de comércio de outros países interessados em levar para fora soluções criadas aqui”, conta Picucci.

A própria Abstartups reflete a pujança desse mercado. Há dois anos, a associação contava com cerca de 3.600 associados e chegou a março deste ano a mais de 7.400. O número de mantenedores e parceiros também vem crescendo, num sinal de maior interesse por parte de grandes empresas, entidades de fomento e órgãos governamentais pelo tema.

Ulysses Reis, Coordenador do MBA de Gestão de Varejo da FGV, afirma que vários fatores estão associados a esse boom de aportes financeiros em startups, entre eles a maior disponibilidade de capitais para esses investimentos de risco, que apresenta por outro lado excelente retorno em caso de sucesso. Além dos fundos de investimento, as próprias grandes empresas de tecnologia (big techs) também passaram a disponibilizar de grande margem para a compra de novas soluções. 

Mas a pandemia também teve um papel importante no estímulo ao desenvolvimento das inovações, segundo ele. O distanciamento social fez com que o mundo apresentasse uma evolução tecnológica muito mais acelerada e também criou novas necessidades e problemas para serem resolvidos. Num país como o Brasil, com problemas históricos de concentração de renda, deficiência de infraestrutura e muitos problemas para serem solucionados, qualquer ideia que traga mais eficiência pode ter um impacto gigantesco. Todo esse cenário serviu de terreno fértil para as startups.

“Atualmente o capital não é mais o problema. Para quem quer empreender, o importante é ter uma boa ideia inovadora, perceber uma necessidade a ser atendida, e concretizar. A partir daí, basta ir ao mercado buscar uma parceria. O momento é ótimo para isso”, afirma Reis.

Segundo o relatório da Distrito, na fase inicial os volumes de investimento são baixos. “O investimento early stage, que compreende anjo, pré-seed e seed, recebe a menor fatia do bolo, em parte por se tratar de rodadas menores, mas também porque é uma faixa de investimento considerada de alto risco, visto que essas empresas ainda não possuem reconhecimento no mercado”, segundo o estudo.

Para o presidente da Associação Brasileira de Mentores de Negócios (ABMEN), André Chaves, isso não significa que com uma aceleração, esses aportes se tornem necessariamente mais generosos. “Empreender não é nada fácil, requer uma dedicação muito forte. É um investimento de altíssimo risco e por isso o retorno é muito alto”, explica Chaves.

Segundo ele, a hora mais adequada para entrar numa rodada de investimentos é quando o negócio está plenamente testado. Mas mais do que montar uma máquina de crescimento, é preciso ter um propósito.

“A nova geração tem se apegado bastante a um propósito transformador. Isso atrai parceiros, fornecedores e facilita na hora de montar seu time, que é como uma família. É muito importante que as pessoas gostem da convivência e que estejam engajadas no mesmo propósito”, afirma o mentor.

 

 

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