Ópera ‘O Engenheiro’ estreia no Rio e viaja para outras cidades

Espetáculo de Tim Rescala, que homenageia André Rebouças, será encenado no Theatro Municipal

Depois de uma temporada de sucesso em Porto Alegre, no Theatro São Pedro, chegou a vez de a ópera “O Engenheiro” ser apresentada aos cariocas. O espetáculo de Tim Rescala faz uma homenagem ao engenheiro André Rebouças (1838-1898) e recebeu aplausos do público e elogios da crítica pela qualidade artística, que esteve à altura da importância de uma das personalidades mais marcantes do Império. A produção será encenada  no próximo dia 24 no Theatro Municipal, mas poderá ser vista também na Escola de Música da UFRJ, em Petrópolis e em Juiz de Fora (MG).

A ópera é a primeira produção da Academia de Ópera Sinos (Sistema Nacional de Orquestras Sociais), parceria da Funarte com a UFRJ, com a curadoria da Escola de Música, e agora conta com regência do maestro André Cardoso e direção cênica de Jose Henrique Moreira. André Rebouças, personagem principal, será interpretado ora por Yago Cirino ora por Paulo André Nascimento de Jesus Maria.

A ópera que se passa no dia da Proclamação da República no Brasil, e tem o engenheiro e abolicionista André Rebouças como personagem principal. Mostra os bastidores dos acontecimentos e a reação da família real face aos acontecimentos e ao exílio iminente. No palácio, os amigos de Rebouças, Princesa Isabel, Conde d’Eu, Visconde da Penha e Baronesa de Muritiba e serviçal Manoela. Na rua os personagens Francisco e Joaquina, escravos de ganho que lutam pela sobrevivência vendendo doces e frutas.

A peça apresenta dois cenários que retratam duas facetas de André Rebouças: no interior do palácio a sua amizade com a Princesa Isabel e o Conde d’Eu, e no exterior as suas preocupações sociais. 

Nas cenas de rua com os escravos de ganho, que o reconhecem tanto pelas suas obras de engenharia que beneficiaram a população, quanto pela sua participação na luta abolicionista, André Rebouças expressa suas preocupações sociais. 

Os escravos não recebem nenhuma assistência após a Abolição e tentam ganhar seu sustento vendendo mercadorias diversas: “Libertos, mas sem ter onde morar”. Há também o Guarda do Palácio que reprime os vendedores com energia e é repreendido por André Rebouças. 

Algumas linhas de André Rebouças em diálogos com os escravos libertos:

“Muitas lutas vamos ter que enfrentar até que exista a igualdade e todos juntos vamos criar uma nova sociedade”. 

“Mãos a obra cidadão, mãos a obra cidadã, ainda há muito o que fazer pois só com muita luta igualdade social um dia no Brasil ainda vamos ter.”

“Levei ao Barão do Rio Branco a ideia de uma fazenda nacional onde os escravos libertos e os colonos unidos poderiam plantar: Libéria iria se chamar”.

“Libéria vai nos fazer progredir”

“Um dia Libéria será uma realidade”

“Libéria todos terão seu quinhão”

Estes trechos, cantados por Rebouças, nas cenas com os escravos, ilustram bem as suas preocupações sociais, sobretudo, de forma pioneira, com a reforma agrária. Ao mesmo tempo as cenas dentro do palácio refletem a grande amizade, lealdade e respeito que o monarquista André Rebouças tem pela família real e suas críticas à oligarquia rural. 

A qualidade musical da ópera faz jus à qualificação do autor, Tim Rescala, por demais conhecido por ser um dos mais premiados compositores brasileiros. 

As melodias são belíssimas e o libreto retrata com muita sensibilidade a situação vivida pelos personagens, nobres ou do povo, no alvorecer da República. Em suma, um espetáculo belíssimo e uma bela e emocionante homenagem ao Engenheiro e inventor André Rebouças, que era ele mesmo um apaixonado por ópera. Por este motivo esta obra musical é tão significativa. 

Esta obra musical magnífica nos põe em contato tanto com o André Rebouças das inúmeras e grandiosas obras de engenharia, quanto com o intelectual de enorme importância no seu tempo e cujos escritos até hoje inspiram muitas pesquisas e trabalhos acadêmicos. 

Rebouças era mestiço, filho de uma escrava alforriada e de um português. Veio de uma família culta e combativa, seu avô lutou pela independência da antiga da colônia. Seu pai foi conselheiro do Imperador. O engenheiro tornou-se um dos mais importantes articuladores do movimento abolicionista, mas se manteve monarquista e acompanhou Dom Pedro II no exílio.

Era um homem refinado, com uma formação técnica e humana invejável, que convivia com a intelectualidade e a nobreza, no Brasil e no exílio, porém nutria um grande inconformismo com as desigualdades e defendia projetos para a democratização da propriedade fundiária acreditando que a posse da terra complementaria a Abolição.

Rebouças deixou uma extensa correspondência e muitos artigos na Revista da Engenharia que são ainda hoje objeto de publicações, livros e teses de doutorado em sociologia e história. 

Além das apresentações no Rio nos palcos, haverá oportunidades para o público ter uma prévia do espetáculo com a apresentação de um trecho da ópera na Casa da Ciência da UFRJ, nesta segunda-feira (13), às 10h, e na quarta-feira (15), às 15h, seguida de um bate-papo sobre igualdade, liberdade, cidadania, História e Cultura Afro-Brasileira. As vagas são limitadas.

Os ingressos para a récita no Municipal poderão ser adquiridos na bilheteria da casa. As apresentações na Escola de Música da UFRJ estão marcadas para os dias 25, 26 e 27 de junho e serão distribuídas senhas uma hora antes de cada recita.  Já a encenação no Teatro Santa Cecília, em Petrópolis, está prevista para o dia 30. O Cine-Theatro Central de Juiz de Fora recebe o espetáculo no dia 2 de julho. 

Alguns exemplos de publicações sobre “O Engenheiro”:

http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364674765_ARQUIVO_HebeMattos_anpuh.pdf

http://www.eniopadilha.com.br/documentos/AlexandroDantasTrindade_AndreReboucas.pdf

https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/L6vS4ffxSqXyBTnRLHSxPcw/?lang=pt

https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistatrespontos/article/download/3246/2029

Maria Alice Rezende de CARVALHO. O quinto século, André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro, Revan/Iuperj, 1998. 254 páginas.

Para visualizar a ópera no YouTube: 

https://youtube.com/watch?v=x-E2NkAzlmE&feature=share

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo