Hidrocarbonetos não-convencionais ganham importância mundial

Evento conjunto do Clube de Engenharia, SBG-RJ/ES e da APG-RJ discute os avanços técnicos e econômicos dessa exploração de óleo e gás, também no Brasil

Muito se tem falado sobre a transição energética entre fontes de energia fósseis e as renováveis, mas de fato a humanidade ainda depende fortemente da geração através do processamento de matéria orgânica. Por isso, obteve grande interesse a palestra do geólogo Edison Milani em um evento organizado pelo Clube de Engenharia,  Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Rio de Janeiro/Espírito Santo (SBG-RJ/ES) e  Associação Profissional dos Geólogos do Estado do Rio de Janeiro (APG-RJ). O tema foi “Hidrocarbonetos Nāo-Convencionais: Exemplos no Mundo e Possibilidades no Brasil” e abordou tipos de sedimentações que se diferenciam principalmente do petróleo e carvão mineral e que vêm ganhando viabilidade econômica nos últimos anos.

O palestrante, que é chefe da Divisão de Bacias Sedimentares do Serviço Geológico Nacional (CPRM), ressaltou que 63% da energia consumida no mundo ainda vem de fontes como o carvão, óleo e gás. Como o fornecimento através de placas fotovoltaicas (solar), usinas eólicas e outras alternativas renováveis não dá conta de toda a demanda, é crescente a exploração de matéria orgânica de diferentes tipos existentes no subsolo. Enquanto tradicionalmente os hidrocarbonetos convencionais predominaram, vêm ganhando participação os não-convencionais, pelo esgotamento de poços antigos e maior viabilidade econômica. 

Conforme explicou Milani, eles se diferenciam dos convencionais por apresentarem uma menor maturação, ou seja, não fluíram de seus reservatórios para camadas de mais fácil extração.  Essa característica torna sua exploração econômica mais complexa do que a da indústria do petróleo, por exemplo. Isso não impede, entretanto, que o desenvolvimento tecnológico torne viável esse aproveitamento. 

É o caso, por exemplo, das areias asfálticas, grãos de quartzo ligados por uma massa de piche depositados em reservatório. Sua extração tem sido bem-sucedida no Canadá, que emprega uma técnica baseada na injeção de vapor, o que aumenta a viscosidade do material, facilitando sua retirada. É também necessário um processo mais complexo de separação do óleo da areia em que se usa lavagem e blend com outros óleos. No Brasil, há reservas conhecidas principalmente no Interior de São Paulo, mas os possíveis impactos ambientais dificultam essa extração.

Outro exemplo dado foi o do folhelho pirobetuminoso, também conhecido como xisto. São rochas com potencial de gerar fontes de energia, mas que não atingiram condições técnicas adequadas à maturação. Uma ocorrência importante no Brasil é de São Mateus do Sul, na  Bacia do Rio Paraná, onde há uma planta que foi privatizada pela Petrobras. Para retirar óleo da rocha, é preciso mineração, britagem e aquecimento do material para posterior separação dos derivados. 

Os hidratos de gás, compostos sólidos cristalinos constituídos de gelo e metano, são outros casos do gênero de não-convencionais. Ocorrem em solos congelados e em águas  profundas de baixa temperatura e estão presentes principalmente em zonas polares, mas também na base da plataforma continental brasileira no mar. Reservas no Amazonas e no Rio Grande do Sul já foram encontradas mas a tecnologia a ser emprega ainda está em fase de desenvolvimento.

O palestrante também abordou o caso do gás metano em minas de carvão, onde é feito processo de injeção de água para a retirada do material, método já muito empregado nos EUA, China e Índia, entre outros. O Brasil possui poucas minas de carvão, que estão concentradas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul e ainda é baixo o potencial econômico dessa exploração no país.

Arenitos fechados também são exemplos de reservatórios de hidrocarbonetos não-convencionais com potencial de exploração. Apesar das dificuldades de extração já há bastante aproveitamento dele nos Estados Unidos, graças à técnica de multiperfurações. Sua ocorrência na Bacia de Santos, em Barra Bonita na Bacia do Paraná, entre outros casos, tende a favorecer a contribuição desse material para a matriz brasileira.

O especialista tratou também do shale gas, muitas vezes confundido com gás de xisto, que provocou uma verdadeira revolução no campo energético estadunidense, devido ao baixo custo. Sua extração se dá separadamente do óleo e é fruto de perfurações em grandes quantidades. Apesar de já haver no Brasil estimativas de reservatórios em todo o território nacional feitas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), ainda não avançou a viabilização dessa exploração totalmente, em grande parte aos questionamentos quanto aos impactos ambientais.

Os não-convencionais já têm uma participação relevante na produção de hidrocarbonetos no mundo. Por meio da produção doméstica, alguns países até se supriram de óleo e gás, eventualmente até gerando excedentes para exportação. E há exemplos também de países em que os não-convencionais representaram a retomada do setor porque as bacias estavam já bastante desgastadas”, afirmou Milani.

Após a palestra houve abertura de debate. O debatedor Frederico Miranda, diretor de Exploração da Eneva, afirmou que o Brasil ainda enfrenta o desafio de monetizar esse campo energético, o que deve ocorrer à medida que as pesquisas avancem. Melhorias de infraestrutura também são fundamentais, segundo ele, citando o próprio caso da empresa na Bacia do Parnaíba, no Nordeste. Ele ressaltou que nem sempre uma extração atípica pode ser considerada não-convencional. 

O consultor Luiz Antônio Trindade falou de sua experiência na Argentina, cuja exploração na região de Vaca Muerta (província de Neuquén) vem batendo recordes, em termos de gás e óleo não convencionais. Ele atribui o sucesso ao avanço da infraestrutura, mas também à cooperação entre as empresas e o apoio da sociedade.

Os participantes também fizeram perguntas sobre o risco de acidentes ambientais e o potencial brasileiro, dando oportunidade aos debatedores aprofundarem as questões. O chefe da Divisão de Geologia e Mineração (DGM) do Clube de Engenharia, Marco Latgé, saudou os convidados. “Foi fantástico mostrar a participação de cada um nesse processo de não-convencional. Essa abrangência é mundial mas cada um com sua especificidade”, ressaltou Latgé.

A íntegra do evento pode ser vista no link: https://portalclubedeengenharia.org.br/2022/08/02/hidrocarbonetos-nao-convencionais-exemplos-no-mundo-e-possibilidades-no-brasil/

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