Por Saturnino Braga

O papa Francisco deixou no Rio um marcante rastro de felicidade e de unanimidade no coração do povo: pela simplicidade e afetividade genuínas; pela exortação em favor dos valores humanísticos da vida com a sabedoria de evitar um pronunciamento imediato sobre os temas mais polêmicos do aborto e da homossexualidade; pela conclamação dos jovens à participação política e às manifestações públicas; pelo desenvolvimento com distribuição mais justa e com mais atenção às necessidades o povo; pela revolução da ternura na América Latina. Como foi bom ver sua figura, seus gestos e ouvir suas palavras, numa estada prolongada e muito significativa.

O Rio de Janeiro nunca recebeu tanta gente de fora em toda a sua história. E deu conta dessa acolhida satisfatoriamente. Houve a lamentável falha do metrô logo no primeiro dia, e mais as filas enormes para a troca dos ingressos; houve o erro indesculpável na escolha do local da grande missa em Guarativa, que virou um lamaçal e teve de ser trocado, houve os assaltos de sempre; houve a pouca sorte do tempo frio e chuvoso; mas a beleza da cidade, a emoção geral e o calor da acolhida carioca compensaram com larga margem todas essas contrariedades.

Para a idade, para a sua gente, para a imagem do Rio no mundo, para o papa e para a igreja, digo mais, para a humanidade como um todo, foi um momento histórico positivo, apesar dos destaques negativos da nossa mídia, sempre tentando rebaixar os valores brasileiros.

O Rio, aliás, como as cidades brasileiras em geral, conseguiu dar um notável salto para a frente nos últimos anos, na apuração recém-divulgada do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A mídia ressaltou nas manchetes não este avanço, claro, mas a perda de posição relativa do Rio, já que outras cidades brasileiras, poucas, tiveram saltos ainda mais extraordinários, merecedores de aplausos. A mídia também abriu páginas inteiras para mostrar que a educação no Rio e no Brasil não melhorou tanto assim. Bem, isso sempre se espera, nossos jornais são assim mesmo, adoram escândalos como toda mídia no mundo, sonham com o consumo do primeiro mundo, o “american way of life”, e, definitivamente, não gostam das nossas qualidades nativas. Mas, como diz o refrão, “o povo não é bobo...”.

O grande e definitivo teste para o Rio será o das Olimpíadas em 2016. A Copa do Mundo do ano que vem terá importância grande, obviamente, mas será um evento de todo o Brasil, e a participação do Rio, com o Maracanã privatizado em padrão Fifa, não será tão especialmente relevante.

Relevante, sim, é este movimento que continua agitando nossas ruas; se ele não perder a sua energia, se a juventude do Rio captar o sentido da verdadeira Reforma Política que pode realizar om esta energia, mostrando ao Brasil e ao mundo a linha mestra da nova democracia participativa, eu acredito que as Olimpíadas de 2016 terão uma história muito maior e valiosa a contar do que o mero registro da medalhas e feitos esportivos ocorridos em nossa cidade naquele próximo momento brilhante.

Os protestos europeus têm objetivos específicos, visam ao desemprego e aos abusos dos bancos; os do mundo árabe exigem liberdade e democracia; os nossos são genéricos e querem mais participação nas decisões políticas. Aí reside sua importância maior: aí mesmo é que está a rota do novo desenvolvimento, da nova sociedade, da nova história, que o Brasil está em condições de abrir. Eu espero e acredito que consiga.

 

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