Transolímpica: “É necessário um olhar estratégico”

Clube debate vias expressas no Rio de Janeiro a partir do caso da Transolímpica

A defesa de um olhar sistêmico e estratégico para os transportes no Rio de Janeiro foi ponto comum no debate promovido pela Divisão Técnica de Transporte e Logística (DTRL) na noite da última segunda-feira (30/9). Representantes do poder público e da sociedade civil puderam debater o caso específico da Transolímpica, via expressa com extensão de 23 quilômetros que cortará os bairros de Magalhães Bastos, Curicica e Sulacap.

Para apresentar o projeto, o Clube de Engenharia trouxe o gerente da Secretaria Municipal de Obras, Carlos Alberto dos Santos, que explicou o trajeto e os investimentos empregados na Transolímpica. “O projeto prevê a construção, ao longo do trajeto, de 18 estações para o BRT, além de dois terminais. O objetivo é ligar a Avenida Brasil, à Barra da Tijuca”, apresentou. Carlos explicou também que a via não terá semáforo e nem travessia de pedestres, otimizando o tempo de travessia tanto do BRT, que contará com corredor próprio, como dos carros. “Uma faixa será exclusiva para implantar o BRT; para os carros a Transolímpica será uma alternativa à Linha Amarela”, destacou.

Questionado sobre o volume de recursos empregados na via e os baixos investimentos em transporte sobre trilhos, Carlos justificou que a prefeitura não teria tempo e nem recursos para construir metrôs ou trens com um trajeto tão extenso. Outro ponto com o qual o plenário divergiu foi o conceito de transporte de massas. Carlos defendeu que o BRT pode ser considerado como um tipo de transporte de massas, mas outros palestrantes discordaram.

Uma questão importante trazida pelo debate foi a das remoções. O presidente da Associação de Moradores de Magalhães Bastos, Renato Moura de Oliveira, falou sobre a luta dos moradores pela preservação do bairro. “Assim que soubemos que a Transolímpica passaria por Magalhães Bastos, decidimos nos mobilizar, pois já sabíamos o que estava acontecendo em outros bairros”, afirmou.

Segundo Renato, os moradores queriam saber o que vai acontecer, já que o bairro está abandonado pelos governos, sem nenhum investimento, há anos. Ele contou também que os moradores se reuniram e formaram uma comissão para discutir o traçado da Transolímpica, que desapropriaria centenas de residências de Sulacap até a Avenida Brasil. “Na primeira reunião com representantes do poder público, apresentamos como opção para o traçado uma área abandonada pelo Exército, que não precisaria remover casas de pessoas. O prefeito então prometeu que ninguém seria removido, mas depois mudaram tudo porque o Exército não quis liberar a área”, contou.

Em agosto deste ano, os moradores de Magalhães Bastos solicitaram providências junto ao Ministério Público, já que alguns moradores receberam visitas de representantes da prefeitura que disseram que alguns deles seriam removidos de suas residências devido às obras. Os moradores também pediram ajuda da Defensoria Pública. Algumas informações sobre esse assunto podem ser encontradas no site da Associação www.magalhaesbastos.com.br.

Investimento em transportes

O deputado federal Edson Santos falou sobre a precarização dos trens no Rio de Janeiro. Para ele, os investimentos na área são insuficientes e a malha ferroviária do Rio é ínfima se comparada com a de outras cidades que já foram sede de megaeventos. Edson demonstrou preocupação com o que, segundo ele, parece ser uma vulgarização do termo transporte de massa. “O BRT é um avanço diante do que se tem hoje na cidade, mas não é transporte de massas, é coletivo. Temos que ter um olhar mais estratégico diante dos problemas que temos e teremos no futuro”, afirmou.

O representante do mandato do vereador Reimont, Fabio Tergolino, falou sobre a falta de diálogo com o poder público. “As audiências públicas parecem ser feitas só pra cumprir protocolo, o povo precisa ser parte dos processos de decisão”, destacou. Edson Santos afirmou o mesmo ao falar sobre as remoções. “As remoções mexem com a vida das pessoas, o diálogo precisa existir”, disse.

Edson destacou também que hoje no Rio de Janeiro há um carro pra cada duas pessoas. “Esse é um número muito alto. Na Europa existe um desejo de evitar o uso de carros e hoje no Brasil não temos conseguido fazer isso, pelo contrário. É preciso pensar a cidade do ponto de vista da melhoria da capacidade de circulação de pessoas. Falta um pensamento mais estratégico de quem pensa os investimentos”, arrematou.

 

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