A Petrobras deve? Deve porque tem petróleo para tirar, por Pedro Celestino

Divulgamos, a seguir, a segunda parte do artigo do presidente do Clube de Engenharia, publicado por Fernando Brito no blog tijolaco.com.br neste domingo, 13/03/2016 (leia a primeira parte clicando aqui), rebatendo críticas e posicionamentos dos articulistas do jornal Valor, que “dão sugestões para o equacionamento da situação financeira da Petrobras, tendo, como sempre, a visão de mercado” e apontam um caminho para o país que, sob qualquer hipótese, se justifica:“reinventar a Petrobrás.” 

 

A Petrobras deve? Deve porque tem petróleo para tirar

O aparelhamento de parcelas da Petrobrás, empresa constituída por mais de 80 mil profissionais concursados, é crítica que conduz inevitavelmente à exigência de atestado ideológico (neoliberal) para a assunção de qualquer cargo de direção na empresa. Não cabe em regime democrático, como ainda é o nosso.

Em seguida, os articulistas passam a dar sugestões para o equacionamento da situação financeira da Petrobras, tendo, como sempre, a visão de mercado. Não levam em conta o que está ocorrendo no setor petrolífero mundial, em virtude do jogo geopolítico das nações hegemônicas ocidentais nas regiões grandes produtoras de óleo e gás, principalmente no Oriente Médio, situação que apresenta sinais evidentes de instabilidade. Qualquer estimativa que se faça quanto à evolução desse quadro está carregada de incertezas.

A indústria petrolífera trabalha, planeja e decide a longo prazo. Os horizontes de implantação de novos projetos são da ordem dos 5 ou frequentemente 8, 10 anos. Consequentemente, não se sustenta qualquer análise de perspectivas para a indústria petrolífera que se baseie em preços conjunturais, como fazem os articulistas. A razão do endividamento da Petrobras ser maior que o das concorrentes é ter petróleo. Porque descobriu o Pré-Sal, endivida-se para produzi-lo, com lastro nas reservas descobertas. É endividamento que possibilita contínuo aumento da produção de petróleo, ao contrário das concorrentes, que ano a ano têm reservas e produção diminuídas. Este fato, aliás, é o que levou a Shell a, já na conjuntura atual de preços, comprar a BG por 75 bilhões de dólares para que, a partir da exploração do nosso Pré-Sal, aumente de 100.000 barris por dia para 500.000 bpd  a sua produção de petróleo aqui nos próximos 5 anos.

A visão catastrófica que os articulistas transmitem acerca dos problemas da Petrobrás é desmentida pelo seu excelente desempenho operacional: bateu recorde de produção em 2015, o custo de extração no Pré-Sal está em torno de 8 dólares por barril, já produz cerca de 1.100.000 bpd no Pré-Sal e já tem no campo de Lula o principal campo produtor do País.

Acertam os articulistas nas críticas que fazem à atual diretoria da Petrobrás. Por carecer ela de visão estratégica, sendo conduzida infelizmente no momento por um pensamento tão somente financeiro e de curto prazo, açodadamente se propõe a reestruturar a empresa e a vender ativos,sem critério nem transparência.

Finalmente, aventuram-se a propor o esquartejamento da Petrobras, na contramão de todas as
grandes petrolíferas, públicas ou privadas, que são integradas. Com isso, atendem ao mercado,
interessado em tornar a empresa irrelevante.

A Petrobrás, com o lastro material de suas reservas totais, de cerca de 30 bilhões de barris de petróleo e gás, com sua mundialmente reconhecida competência técnica, tecnológica e operacional para produzir petróleo, tem todas as condições de renegociar suas dívidas, alongando seu perfil, principalmente através de instituições financeiras multilaterais de que participam países grandes importadores de petróleo, para os quais o compromisso formal de seu suprimento é estratégico.

Caberá, em última instância, ao Governo federal capitalizar a empresa, para que se preserve seu papel estratégico, fundamental para o nosso desenvolvimento. Nada efetivamente justifica “reinventar a Petrobras”. Pelo contrário, basta mantê-la íntegra e fortalecê-la para que possa continuar a cumprir sua missão na construção da grande nação brasileira.

(*) Pedro Celestino, Presidente do Clube de Engenharia. 


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