Do Blog do Noblat - Jornal O Globo
Coluna de 
Paulo Alcantara Gomes*

No início da década dos 60, o Brasil estava no auge do período desenvolvimentista, obra do extraordinário e inesquecível presidente JK. Em São Paulo, eram inauguradas as primeiras montadoras e explodia a instalação das indústrias nos setores automotivo, metalmecânico e eletrônico.

Brasília foi inaugurada, e logo passou a representar a pujança da engenharia e da arquitetura de nosso país, pelas suas arrojadas formas, desafio para os grandes engenheiros estruturais brasileiros, e pela beleza do traçado urbano.

Em Minas Gerais, iniciavam-se as obras das grandes barragens dos sistemas Furnas e Três Marias, ainda hoje responsáveis por boa parte da energia elétrica consumida no país.

No Rio de Janeiro, a Fábrica Nacional de Motores produzia caminhões que viriam a se transformar no grande apoio à logística, possibilitando o transporte de grãos e alimentos, contribuindo fortemente para o avanço da fronteira agrícola, que transformou a região centro-oeste.

O Governador Lacerda promovia grandes mudanças estruturantes na cidade, com a construção do aterro do Flamengo, a definição de um novo traçado urbanístico e a expansão do sistema de abastecimento de água, o maior do Brasil.

A “boa” engenharia era o resultado de politicas públicas bem elaboradas, de projetos de viabilidade, de uma forte fiscalização dos governos, e da ação de empresas privadas que ajudavam o país a se desenvolver.
Adicionalmente, as empresas estatais começaram a oferecer notável contribuição para o reconhecimento da engenharia nacional como uma das melhores do mundo. Assim, por exemplo, a Petrobras, em parceria com universidades e institutos de pesquisa, tornou-se líder mundial na exploração de petróleo em lâminas d'água profundas.

A Eletrobrás instalou na Cidade Universitária, no Rio de Janeiro, um centro de pesquisas com atuação nos setores de energia elétrica e de fontes não convencionais de energia.

O fato é que, neste cenário, as empresas de engenharia cresceram e ultrapassaram nossas fronteiras.
Em todos os casos mencionados ocorria uma articulação equilibrada e produtiva entre os setores público e privado, em prol do desenvolvimento e do bem-estar social.

O tempo passou, e assistimos a significativas mudanças no cenário. Dentre as várias razões para isso, destaco duas: em primeiro lugar, cresceu enormemente o número de escolas de engenharia, nem sempre com o ensino de qualidade que esperamos e, diversas vezes, com estruturas curriculares que não acompanharam os avanços da ciência e da técnica, ou se tornaram excessivamente científicas em escolas que deveriam, pelas suas peculiaridades, se voltar para a prática da profissão.

Em resumo, a profissão mudou e hoje precisamos formar várias modalidades de engenheiros, para atender às necessidades do crescimento sustentável do país: os engenheiros cientistas, encarregados da concepção e da inovação, os engenheiros com os conhecimentos técnicos, competências e habilidades para adaptar às novas tecnologias, e também os engenheiros executores que vão "tocar as obras" nos padrões de qualidade que assegurem sua durabilidade, funcionalidade e segurança.

Também não resolvemos a questão estratégica da formação de técnicos de nivel médio, e muitos cursos superiores de tecnologia foram transformados em variantes dos cursos de gestão, que passam longe do “chão de fábrica”.

Em segundo lugar, porque a legislação nos processos de licitação tornou-se ultrapassada, e muitas vezes se busca o mais barato, desconsiderando a qualidade. Assim, surgem incontáveis acidentes que, exigem reconstruções, ou recuperações, com despesas muito mais elevadas e que, infelizmente, abrem as portas para a corrupção.

O “Custo Brasil”, decorrente da ausência de infraestrutura e da logística, indispensáveis para a melhoria de nossa competitividade, é fatal para as nossas ambições de crescimento. Ambas dependem da engenharia e, por isso, somente com ela retomaremos o desenvolvimento.

 

* Paulo Alcantara Gomes é ex-reitor da UFRJ e ex-presidente do SEBRAE/RJ 

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