Os irmãos e engenheiros André Rebouças e Antônio Rebouças foram merecidamente homenageados quando o Governador Carlos Lacerda (1960 a 1965) contemplou com o nome de "Túnel Rebouças" o conjunto de quatro galerias de túneis viários que estabeleceu ligação viária, franca e expressa, entre a Zona Sul (Lagoa) e a Zona Norte (Rio comprido) da cidade do Rio de Janeiro, com afloramento no vale do Cosme Velho, vencido pelo viaduto Machado de Assis.

Quando inauguradas em outubro de 1967, já no governo Negrão de Lima (1966 a 1971), as galerias L-1 (André Rebouças) e L-2 (Antônio Rebouças), cada qual com 2.040m de extensão, eram os mais longos túneis urbanos do Brasil - título só perdido mais tarde para o Túnel Engenheiro Raymundo de Paula Soares, na Linha Amarela.

O sistema Rebouças, em seus quarenta anos de prestação de serviços à mobilidade da população carioca só tinha seu fluxo viário interrompido durante os horários de 23h às 5h, a cada quinze dias, em cada sentido de tráfego. Além, naturalmente, de acidentes ou ocorrências policiais, prontamente atendidas para restabelecer o fluxo de tráfego, sabidamente essencial ao direito de ir e vir do cidadão carioca, nos seus múltiplos anseios de trabalho, educação e lazer.

Pode-se constatar a importância do Túnel Rebouças através de seu fluxo diário de 180 mil veículos nos dias úteis, com pico máximo, em um dia, de 205 mil. Trata-se do terceiro maior fluxo médio diário de tráfego viário na cidade do Rio de Janeiro, só suplantado pela Avenida Presidente Vargas, com 192 mil veículos/dia, e pela Avenida Brasil, que chega a atingir 240 mil veículos/dia.

Às 22 horas do dia 23 de outubro de 2007 o Túnel Rebouças foi totalmente fechado e só foi reaberto uma semana depois. Uma demanda viária reprimida de 180 mil veículos/dia começou a buscar novos trajetos por vias saturadas, que geraram congestionamentos generalizados nas zonas Sul, Norte e no Centro, com reflexos por toda a cidade. Uma semana de caos urbano!
Qual o valor dos prejuízos impostos à sociedade como um todo e aos usuários do túnel em especial? A imprensa começou a buscar explicações com especialistas em transportes, trânsito e geotecnia. Aos caos urbano gerado pelos congestionamentos agregava-se também o caos da informação, contra-informação e anti-informação, montados em palcos/cenários antes destinados à circulação viária.

O deslizamento ocorrido no emboque da galeria L-2 do Túnel Antônio Rebouças (sentido Lagoa) mais uma vez acendeu a luz de alerta em nossas instituições técnicas e políticas. Interditar uma via como o Túnel Rebouças não é decisão fácil, no entanto, a segurança deve ser colocada em primeiro lugar.

É importante ressaltar que no momento dos primeiros movimentos não havia registro de chuva. O tipo de deslizamento ocorrido nos leva a supor que existia uma fonte de infiltração independente da chuva. Novos estudos e análises devem apontar qual a fonte e de que forma ela contribuiu para a deflagração do movimento de massa. As grandes chuvas daquele dia agravaram o problema, mas não podem ser apontadas como causa isolada.

Destaque-se que desde a sua inauguração, com tráfego intenso e diário, durante 40 anos, nunca houve qualquer problema de deslizamentos de encostas em suas oito bocas de acesso, convindo lembrar, ainda, que mesmo nas torrenciais chuvas sobre a cidade nos anos de 1966 e 1967, as duas maiores nos últimos 50 anos, não houve qualquer problema no local ora afetado.

A mobilização de profissionais de grande experiência em um debate público com a extraordinária afluência de engenheiros, arquitetos, técnicos e jornalistas, realizado no Clube de Engenharia alguns dias após o acidente, demonstra o comprometimento do meio técnico com a busca pela real causa do acidente. O Clube tem a missão de convergir idéias, discutir hipóteses e apontar as causas, sempre comprometido com a boa técnica da engenharia.

A Diretoria

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