Instituição com sua trajetória marcada pelos grandes debates da vida nacional, o Clube de Engenharia também preserva patrimônio material. Um deles é uma relíquia de mais de 160 anos, marco da nossa engenharia ferroviária: a bandeira do Brasil Imperial, que pelas mãos de Dom Pedro II ornamentou a locomotiva “Baroneza”, trem inaugural da primeira linha férrea brasileira.
A Estrada de Ferro de Mauá, obra do industrial e banqueiro Barão de Mauá, também conhecido como Visconde de Mauá (Segundo Reinado, 1831-1889) foi inaugurada em 30 de Abril de 1854. A peça foi doada ao Clube de Engenharia pelo Comendador José Correia de Aguiar, um dos responsáveis pela linha férrea e o último engenheiro vivo da equipe de Mauá. Após 164 anos da inauguração da locomotiva, o Clube de Engenharia promove, no dia 07 de maio, segunda-feira, às 17h30, no 20º andar, cerimônia de apresentação da bandeira.
O evento, promovido pela Diretoria de Atividades Culturais, contará com a participação de Isabel Cristina Junqueira de Andrea, presidenta da Associação de Engenheiros Ferroviários (AENFER), e Lilian Ramos, tetraneta de Barão de Mauá. Lilian Ramos lançou, em 14 de junho de 2017, no Clube de Engenharia, o livro "Mauá, muito além da família". Saiba mais.
A locomotiva "Baroneza" está em exposição no Museu do Trem, em Engenho de Dentro.
Foto: Wikimedia Commons
Memorável Empreendimento
A bandeira passou quase dois anos em restauração, nas mãos da museóloga e restauradora de têxteis Márcia Esteves Cerqueira, e foi novamente emoldurada para entrar em exposição. Na moldura da peça constam os dizeres: “A bandeira que foi collocada por D. Pedro II na locomotiva ‘Baroneza’ que a 30 de Abril de 1854 comboiou o trem inaugural da primeira linha férrea no Brasil - a Estrada de Ferro de Mauá construída às expensas do concessionário, o benemérito Irineu Evangelista de Souza (Visconde de Mauá). Offertada ao Club de Engenharia pelo Comendador José Correia de Aguiar, o último sobrevivente dos auxiliares do grande brasileiro na realisação do memorável emprehendimento”.
A bandeira imperial do Brasil vigorou de 1822 a 1889, em duas versões. A primeira foi oficial entre 18 de setembro e 1º de dezembro de 1822. A diferença entre uma e outra é apenas a cor do fundo da coroa. O desenho da bandeira é do pintor francês Jean-Baptiste Debret. A peça tem fundo verde, com um losango amarelo-ouro no centro, e, dentro deste, o brasão nacional imperial. Os elementos do brasão são a esfera armilar (instrumento de astronomia) e a Cruz da Ordem de Cristo, com um aro azul com 20 estrelas brancas representando as províncias brasileiras. Acima do escudo, vê-se a coroa imperial. Nas laterais do escudo, um ramo de café e um de tabaco, representando as principais exportações do país à época.
Baroneza em foto de 1934.
Foto: Arquivo Nacional do Brasil.
Locomotiva: monumento cultural
A ocasião da inauguração da estrada de ferro foi também quando Dom Pedro II deu ao industrial Irineu Evangelista de Souza o título de Barão, e o nome da locomotiva, Baroneza, é uma homenagem a sua esposa, Dona Maria Joaquina. A locomotiva foi retirada de tráfego em 1884, e só voltou a serviço posteriormente, poucas vezes, para viagens específicas. A Baroneza foi a única locomotiva a vapor brasileira transformada em monumento cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e se encontra hoje no Museu do Trem, em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.
A Estrada de Ferro de Mauá tinha como nome oficial Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis. O trecho ferroviário seguia, por 14,5 km, da Estação Guia de Pacobaíba (que viria a ter o nome de Estação Mauá), no atual município de Magé, até Fragoso, localidade de Inhomirim, também conhecida como Raiz da Serra. Ainda resta um pequeno trecho com tráfego de trens, entre as estações Piabetá e Vila Ihnomirim.