Após pressão da sociedade organizada, novas ações prometem avanços concretos no ensino da engenharia

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil forma menos engenheiros do que a China, Rússia e Índia, integrantes do Brics. Enquanto formamos menos de 40 mil novos engenheiros por ano, o número chega a 120 mil na Rússia, 300 mil na Índia e 400 mil na China. Os dados apontam, ainda, uma evasão superior a 50% logo nos primeiros dois anos do curso. Como resultado, segundo a entidade, caso a economia cresça mais de 4,5% ao ano, o mercado pode vir a ter mais vagas que profissionais disponíveis para ocupá-las.

Há anos o Clube de Engenharia vem lutando para chamar a atenção das autoridades para o problema. Bandeira pessoal do presidente Francis Bogossian, apoiado pelo trabalho constante da divisão técnica de Formação do Engenheiro (DFE), o apoio aos universitários das várias engenharias, como forma de evitar a desistência durante o ciclo básico, e o incentivo à adesão de novos vestibulandos aos cursos se tornou uma das principais frentes de trabalho do Clube. Ações como o “Café com o Presidente”, aulas magnas e a exposição itinerante, que visita os corredores das principais faculdades de engenharia do estado contando a trajetória dos 130 anos do Clube e informando sobre a relevância da atuação dos engenheiros para o avanço da nação, se complementam.

Os esforços conjuntos dos diversos setores da sociedade em prol do novo momento vivido pelo país finalmente alcançaram a área da educação profissionalizante e universitária. Com destaque especial na nova política industrial nacional, que agrega ações e promete investimentos na área, a engenharia é colocada como prioridade, sendo um dos pilares de sustentação do plano governamental através do Plano Nacional Pró-Engenharia.

Ações integradas

O Plano Nacional Pró-Engenharia foi anunciado ainda em 2010 pela Coordenação de Aperfeiçoa mento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC) com o objetivo de diminuir o déficit de profissionais no mercado futuro, dobrar em cinco anos o número de formados por intermédio de bolsas de permanência e implantar projetos de inovação nas escolas para que os alunos tenham contato com a prática da profissão, aumentando sua qualificação e somando experiência antes mesmo de deixarem os bancos das faculdades. A previsão é de um investimento de R$ 300 milhões a serem gastos ao longo de cinco anos.

O plano da Capes que consta no texto do Plano Brasil Maior recém apresentado pela presidenta Dilma teve como apoio estudos desenvolvidos pela CNI e apresentados ao MEC com propostas para aumentar a oferta de engenheiros no mercado de trabalho. As ações previstas pelo plano vão além da esfera pública, buscando a participação do setor privado por meio de parcerias que possam inserir os alunos nas indústrias ainda durante a faculdade em estágios remunerados de qualidade.

Para o chefe da divisão técnica de Formação do Engenheiro (DFE), Jorge Bitencourt, “faltou ousadia na política da presidenta Dilma para alavancar o ensino de engenharia. Essa era uma boa oportunidade para chamar a iniciativa privada à responsabilidade de contribuir ativamente para a qualificação dos estudantes como as grandes estatais já fazem”, destacou. O presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, concorda: “Sempre insisti na integração das universidades com as empresas, mas o Brasil, historicamente, se caracteriza por um enorme distanciamento entre as duas esferas. É preciso tempo para que a mentalidade de ambas as partes evoluam”.

Rio de Janeiro dá a largada

Tão logo foi anunciada oficialmente a adoção do ensino da engenharia como questão estratégica para o avanço do país, o governo do estado do Rio de Janeiro organizou reunião no Palácio Guanabara. O governador Sérgio Cabral e o secretário de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso, receberam reitores de diversas universidades e representantes de entidades e organizações para definir os primeiros passos de um projeto estadual que será coordenado pela Fundação Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Uma comissão coordenada pela Faperj – formada por um representante das universidades federais, um das estaduais, um das particulares, um do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Sockow da Fonseca (Cefet) e um das organizações ligadas à categoria – irá debater o tema e apresentar um modelo de convênio.

Representando o Clube de Engenharia, Francis Bogossian aposta nas parcerias para um plano eficiente para a engenharia no Rio de Janeiro. “Vejo com muito otimismo as instituições governamentais mobilizadas. Penso, no entanto, que a máquina pública, com a sua lentidão paquidérmica, não terá agilidade suficiente para alcançar o atraso instalado. Aí entra a importância das corporações nesse processo, com seus programas de capacitação para atender às necessidades específicas dos diversos setores.”

 

Jornal 511 – setembro 2011 – página 6 – Educação

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