Geologia celebra data com reflexão sobre desastres naturais

Como comemoração do Dia do Geólogo e da Geóloga, Clube e outras entidades promovem mesa redonda sobre gerenciamento de deslocamentos de massa

Em homenagem ao Dia do Geólogo e da Geóloga, comemorado em 30 de maio, o Clube de Engenharia promoveu um debate para ressaltar a importância desses profissionais, mas também para evidenciar a responsabilidade da atividade para o país. Como forma de retomada dos eventos presenciais com segurança, a entidade promoveu no auditório a mesa redonda "Riscos Naturais e a Importância da Geologia no Gerenciamento de Desastres”. Foi uma oportunidade para um reencontro de pessoas de várias gerações e também de reflexão sobre o papel da categoria no mundo atual.

O evento foi uma realização conjunta com a Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo RJ/ES (SBGRJES), Associação Brasileira de Geologia e Ambiental – Núcleo Regional RJ/ES (ABGE-NRRJES), Associação Brasileira de Mulheres na Geologia de Engenharia – Núcleo Rio de Janeiro (AGMGEORJ), Associação Profissional dos Geólogos do Estado do Rio (APG-RJ) e Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo).

A abertura contou com a participação do professor e diretor presidente da SBG RJ-ES, Hernani Chaves, que comemorou o retorno às atividades presenciais. A retomada também foi saudada pelo conselheiro do Clube e subchefe da Divisão de Recursos Minerais (DRM), Renato Cabral Ramos. Ele também defendeu a união de esforços entre as entidades participantes e alertou para os ataques que as universidades públicas vêm sofrendo no país.

“Temos enfrentado nos últimos anos a dificuldade de sobrevivência de nossas entidades de geologia. Por isso, é muito importante estar aqui juntas a SBG, a APG, o Clube de Engenharia, a Associação Brasileira de Mulheres na Geologia, a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, a APAS, as universidades, e representantes de instituições como o CRM e a GeoRio. É muito importante estarmos juntos e voltarmos aos encontros presenciais”, destacou Ramos.

Antes da realização da mesa redonda, Ingrid Lima, diretora da SBG, apresentou um panorama sobre a questão da gestão de risco. Segundo ela, a maior reponsabilidade desse trabalho está relacionada com a necessidade de se salvar vidas. Isso porque lamentavelmente 9,5 milhões de brasileiros vivem em área de risco, sendo que 75% deles em áreas sujeitas a movimentações de massa ou escorregamentos de materiais, como solo ou rochas.

Através de medições e cálculos, a geologia, segundo ela, já evoluiu bastante na previsão de rupturas e do volume e direção de fluxos, no planejamento de obras e também na gestão de eventuais desastres, com ações imediatas. Mas o fator humano ainda é o maior desafio.

“Na gestão de risco, o geólogo pode atuar em todo o ciclo. Na identificação e análise a responsabilidade maior é dos geocientistas. Mas há também a questão das medidas de prevenção, incluindo as obras, um sistema de alerta ou uma barreira, os planos de contingência, ou de emergência. Mas o maior desafio nosso é treinar a sociedade e aumentar a percepção de risco e todos temos essa responsabilidade”, afirmou a geóloga.

Raquel Fonseca, da Fundação GeoRio e diretora da Associação de Geologia de Engenharia destacou a necessidade de se buscar uma maior representatividade feminina e de a categoria buscar aprofundar o debate ético. “Quando tratamos do gerenciamento de risco, estamos lidando com vidas e por isso é muito importante tratar da questão da ética e da aptidão. Há sempre pressões políticas, de perda de cargo ou midiáticas, que não podem se sobrepor à técnica”, defendeu ela.

Já Leandro Galvanese Kuhlmann, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), colocou o desafio de tornar os riscos geológicos mais conhecidos pela população para uma gestão mais eficiente. “O nosso maior desafio é o de comunicação com a população, que enxerga a terra de forma diferente dos geólogos. Temos que tentar mostrar que esses eventos fazem parte de um processo natural e cíclico”, explicou Kuhlmann.

O debate prosseguiu com a participação da diretora de Geologia do Departamento de Recursos Minerais  do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), Joana Ramalho, que apontou as limitações enfrentadas no dia-a-dia pelas equipes por conta da falta de políticas públicas mais efetivas de prevenção. Além de pessoal reduzido, o que obriga profissionais a emitirem grande quantidade de laudos, principalmente nas emergências, faltam verbas para obras.

“Este foi um verão atípico. Tivemos as chuvas de janeiro, de fevereiro, de março e outra entre março e abril em Angra, Mangaratiba e Paraty. A meta do DRM de emissão de documentos técnicos é de 120 documentos do NADE [Núcleo de Análise e Diagnóstico de Escorregamentos] por ano. Mas só até abril já tem 420”, alertou a diretora, que também teve forte atuação em Petrópolis.

A mesa prosseguiu com a contribuição do arquiteto Waslington Luís da Paz, da Defesa Civil de Angra dos Reis, município da Costa Verde fluminense, também muito castigado pelas chuvas este ano. Ele abordou a questão da dificuldade de se remover famílias de áreas de risco para que não sejam vitimadas pelas tempestades, mas salientou que o problema afeta também a classe A.

O secretário de Defesa Civil e Ações Voluntárias de Petrópolis, Gil Vieira, também expôs as dificuldades de gerenciamento de risco em um território bastante acidentado, mas destacou os avanços que estão sendo feitos na estruturação de um programa mais efetivo de prevenção, através, por exemplo, da criação do instituto Geo-Serra.

“No dia 20 de março, tivemos os incríveis 550 milímetros em 24 horas de chuva e recentemente nosso colega de Angra passou pelos 880 milímetros em 48 horas. Então, isso indica a necessidade de uma mudança nos protocolos e na forma de enxergar a gestão de desastres”, afirmou Vieira, que alertou para os problemas causados pelas mudanças climáticas.

O professor e presidente da APG, Cláudio Amaral, que foi homenageado por ex-alunos, defendeu uma postura mais crítica por parte da categoria, que deveria cobrar uma mudança de paradigma do poder público.  “Enquanto não temos um Estado forte, um ente forte que realmente se responsabilize pela gestão, não vamos avançar, vamos ficar dando voltas e apenas atendendo as chamadas nos desastres”, afirmou ele.

O chefe da Divisão Técnica de Recursos Minerais, Marco Aurélio Latgé, ressaltou a importância da escolha do tema: “O próprio nome do evento já mostra essa responsabilidade. Como a Geologia pode contribuir para a gestão. É muito importante o papel do geólogo para mitigar os riscos de desastres”.

O diretor de Atividades Institucionais do Clube, Ricardo Latgé, ressaltou a qualidade técnica dos servidores que participaram do evento, integrantes das três esferas da Administração Pública. “Nós temos que arregaçar as mangas e construir um Brasil para todos. Esse é o nosso papel. A questão ética foi discutida e é verdade. Funcionário público da estrutura estatal tem que tem compromisso público com o brasileiro acima de tudo”, afirmou o diretor.

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