Descarte de eletrônicos: problema global pede nova visão da economia

O dispositivo de onde se lê esse texto hoje, um dia será descartado. Dentro dele há componentes de plástico, diferentes metais, chips, fios e componentes químicos com potencial de grandes prejuízos ao meio ambiente e ao corpo humano. O momento em que o conjunto de tudo isso deve ir para outro lugar, seja pelo final da vida útil ou para a chegada de um modelo melhor, é um problema para usuários, empresas e poder público em geral. Para aprofundar o tema e contribuir com o debate, em 24 de novembro, o Clube de Engenharia sediou a palestra "Coleta, reciclagem e descarte de lixo eletrônico", do geógrafo Vitor Saboya, mestre em engenharia ambiental e Sócio Diretor da empresa Zyklus.

Desafio global
Segundo Vitor Saboya, a produção atual dos eletrônicos envolve métodos que necessariamente gerarão muitos resíduos, além de obsolescência programada, ou seja, os produtos são criados para logo deixarem de funcionar. Este é um problema global: as matérias-primas das novas tecnologias saem de diversas partes do planeta, a produção acontece majoritariamente na América Latina, China e Oriente Médio, e as empresas responsáveis são europeias e norte-americanas. O fluxo de resíduos eletrônicos se direciona a localidades na China, de onde se fabricam dispositivos de qualidade mais baixa, além de Índia e países africanos.

Reciclagem pela metade
No Brasil, existem poucas opções de descarte dessa modalidade de produto, e quase todas colocam em dúvida a segurança do planeta. Alternativas como cooperativas de catadores, sucateiros autônomos, leiloeiros, assistência técnica dos fabricantes e até organizações não governamentais tendem a separar apenas os componentes mais interessantes, como placas, fios e chips, e incinerar o restante, ou seja, plástico.

Mesmo componentes de mais valor, que apresentem dificuldade na desmontagem, podem ser queimados e dispersar química pesada no meio ambiente. O material tecnológico que pode ser aproveitado passa pelas fases de processamento e reciclagem, ou exportação. Segundo Paulo Murat, chefe da Divisão Técnica de Engenharia do Ambiente, anualmente o Brasil descarta 1,2 milhão de toneladas de equipamentos eletrônicos. Somente 2% são reciclados, majoritariamente por empresas não licenciadas ou fiscalizadas.

Nesse processo, em que se misturam mercado formal e informal, estes ainda não tiveram sua participação devidamente regulamentada e não são fiscalizados. Também entram em conflito as diferentes legislações a respeito, como leis municipais, Política Nacional de Resíduos Sólidos e acordos setoriais.

Um novo olhar sobre a produção
A solução, para Vitor Saboya, é a mudança no modelo de produção, comercialização e descarte, com produtos de maior vida útil e facilmente recicláveis, consumidores conscientes, com pensamento de preservação, e opções para o descarte integradas. "É preciso entender a reciclagem e o reuso de eletrônicos em função da Economia Circular. Tentar reutilizar, identificar o que ainda tem vida útil, consertar os equipamentos, entre outros procedimentos", afirmou, referenciando uma teoria que tem como objetivo conectar o final da vida útil de um produto ao início do seguinte. Ele conta com a pressão dos consumidores para que as empresas fabriquem dispositivos mais sustentáveis, e acredita que possa haver uma conexão entre as diversas alternativas atuais de descarte, como espaços colaborativos de manutenção e aplicativos de troca, num sistema centralizado, uma "Rede de criação de valor compartilhado".

O evento foi promovido pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e pela Divisão Técnica de Engenharia do Ambiente (DEA), com o apoio da Divisão Técnica de Engenharia Química (DTEQ), Divisão Técnica de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS) e Divisão de Recursos Naturais Renováveis (DRNR).

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