Gestão Pública

O acidente de Santa Teresa reacende o debate sobre a responsabilidade das concessionárias e a falta de fiscalização dos órgãos públicos

No dia 27 de agosto, na rua Joaquim Murtinho, o bonde nº 10, ou apenas “o 10”, como era chamado pelos moradores, perdeu os freios, feriu 57 pessoas e matou outras seis. O acidente é mais um capítulo de uma longa história de reivindicações e descaso. Segundo o advogado Abaeté Mesquita, diretor da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (AMAST), “Bonde sem freio não é novidade pro morador de Santa Teresa, e nunca tivemos resposta da Secretaria de Transportes às nossas denúncias”, relatou.

Segundo relatório da Companhia Estadual de Engenharia de Transporte e Logística (Central), ligada à Secretaria de Transportes do Rio de Janeiro e responsável pela administração dos bondes, o bonde nº 10 havia passado por 13 manutenções no mês do acidente, cinco delas nos freios. Peritos da Polícia Civil encontraram um pedaço de arame onde deveria haver um pino de fixação próximo às rodas. Representantes do Sindicato dos Ferroviários encontraram trilhos desalinhados ao longo de toda a linha, além de juntas de dilatação oxidadas e corroídas sobre os Arcos da Lapa.

APLICAÇÃO DAS VERBAS

“A verba de R$ 22 milhões liberada pelo BIRD em 2008 era mais que suficiente para reformar os 14 bondes e todo o sistema mas, por opção política, decidiu-se criar um novo tipo de bonde, um híbrido de VLT que consumiu a verba sem apresentar solução. Foram gastos R$ 14 milhões até que, por decisão judicial, o contrato foi anulado. Não sabemos até hoje onde foram parar os outros R$ 8milhões”, explica Abaeté.

O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (Crea-RJ) também participou das inspeções por meio de sua Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes. Segundo Luiz Antônio Cosenza, primeiro vice-presidente do Crea-RJ, membro da Divisão Técnica de Transporte e Logística (DTRL) do Clube de Engenharia, os trabalhos culminaram em um relatório técnico que aponta erros no que a população não merece correr”, alertou.

A indignação de moradores e ferroviários cresce com o fato do governo do estado buscar assessoria em Portugal, não privilegiando o conhecimento nacional e nem reconhecendo que a engenharia nacional está capacitada para liderar o processo.

Em audiência pública no dia 15 de setembro com a Comissão de Transportes da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, sem a presença do estado, a presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), Elzbieta Mitkiewicz, apresentou manifesto subscrito por 24 entidades solicitando apuração de responsabilidade civil e criminal no acidente.

Matéria publicada no jornal número 512 do Clube de Engenharia - outubro de 2011, página 5

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