Nota Pública da ASSIBGE-SN sobre o Censo Demográfico de 2021

Sindicato nacional de trabalhadores do IBGE alerta para os riscos de realização do Censo 2021. Foto: IBGE

Publicado pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística (ASSIBGE)

Alerta aos ibegeanos e à sociedade: aumentam os riscos para o Censo Demográfico 2021, trabalhadores do IBGE e população

Desde a mudança do governo e a posse da presidente Susana Guerra no IBGE, o Sindicato tem denunciado a forma como o planejamento e a execução do Censo têm sido conduzidos. Executamos campanhas em defesa do Censo e fizemos amplo debate com a sociedade e com o parlamento mediante inúmeras audiências públicas.

A ASSIBGE-SN vem desde então alertando que alterações tão drásticas no questionário, no orçamento e no planejamento do censo terão consequências possivelmente irreversíveis nos seus resultados. E não faltam experiências internacionais sobre o assunto: no Chile, o Censo 2012 teve que ser completamente refeito. Os Censos da Colômbia e do Paraguai também representaram dinheiro público desperdiçado pois não refletiram os dados necessários para a sociedade.

A pandemia do Covid-19 veio agravar os problemas até então relatados. Desde o início da pandemia houve preocupação do sindicato em garantir que todos os trabalhadores fossem preservados mediante o trabalho à distância e que qualquer perspectiva de retorno deveria ser precedida de protocolos de segurança e outras adaptações necessárias visando a preservação da vida. Reivindicamos, inclusive, a formação de uma comissão de saúde para acompanhar esse processo, que contasse com representantes de órgãos federais de saúde, representantes do Conselho Diretor do IBGE e representantes do sindicato, garantindo a discussão e transparência com os trabalhadores, o que foi negado e desprezado.

O censo, depois de adiado para 2021, teve novamente seu orçamento cortado. O que deveria ter sido de 3 bi foi fixado em 2 bi para o ano de coleta 2021. Orçamento que ainda não foi aprovado, portanto sem garantia. Ora, o adiamento do censo por conta da pandemia deveria representar mais orçamento, pois, além de ser uma operação que envolve cerca de 200 mil trabalhadores, que pressupõe treinamentos, gastos com deslocamento, equipamentos, passa agora a necessitar de equipamentos de saúde e segurança para os trabalhadores envolvidos, bem como de ampla campanha publicitária convencendo os informantes que o IBGE está fazendo pesquisa de forma responsável com todos os protocolos de saúde indicados com responsabilidade perante a população a ser entrevistada.

Entretanto, na esteira contrária, o orçamento de comunicação segue sendo um dos mais cortados, abre-se campanha de doação de equipamentos velhos e defasados para o IBGE, o complexo treinamento é convertido em "autotreinamento" e não se tem notícias claras e objetivas de quais serão as medidas de saúde adotadas na operação. É escandalosa a negativa do IBGE em responder e dialogar com o sindicato e de forma consistente e com as equipes técnicas envolvidas no censo. Quem pode descrever os processos de trabalho de forma a garantir que as medidas de prevenção de contaminação serão inseridas nas fases corretas do trabalho?

A direção do IBGE solicitou aos órgãos de saúde algum estudo sobre a viabilidade sanitária deste trabalho em todo Brasil? Não é a área de saúde do IBGE, certamente, a mais adequada para planejar sozinha um desafio de tal amplitude, uma vez que não possui profissionais que podem realizar esta avaliação, como os especialistas da Fiocruz ou das universidades, ou seja, as pessoas que tem capacidade técnica para instruir e orientar o IBGE neste momento, fazendo inclusive estudos do impacto do Censo junto a população e seus trabalhadores, diante da pandemia.

O IBGE possui enorme responsabilidade para com a sociedade brasileira. Não só em produzir um censo, mas também em preservar a saúde dos trabalhadores e dos informantes, parte fundamental das nossas pesquisas. A vacinação de toda a população do país não é algo mensurável, visto que apenas 2,7% da população recebeu o imunizante e o prognóstico diante da má gestão do governo, é que demorem a chegar quantidades suficientes para imunizar toda a população.

A pandemia é o fator condicionante, porque as pessoas envolvidas estão em risco de adoecer, tanto do efetivo interno, vários com faixa etária elevada e comorbidades, como dos que serão contratados e não há nenhuma previsão para substituição de pessoal nesse contexto. E mais, quantos equipamentos de segurança sanitária (EPI, termômetros, aventais, luvas) serão necessários para cada entrevistador ou pessoa envolvida nas atividades de campo? A direção está pleiteando vacinas para os entrevistadores e envolvidos no trabalho presencial? Esse debate, se existe, não está sendo divulgado nem para os próprios trabalhadores envolvidos nessa coleta. Não há transparência em nenhuma discussão relativa aos trabalhos do IBGE e como eles serão realizados, principalmente os relativos ao censo demográfico.

Da mesma forma, as Unidades Estaduais figuram como meras executoras de trabalho e independente do contexto específico em que cada estado vivencia no que se refere à pandemia. Há estados vivendo um caos na saúde com recordes de contaminação, falta de leitos de UTI e ausência de insumos. Foi dimensionado perante administrações locais tudo o que pode ser piorado com uma operação censitária?

Além destes problemas decorrentes da pandemia, seguem aqueles que tampouco obtiveram solução:

- O déficit crônico de pessoal efetivo da casa para realizar as tarefas permanentes do censo, planejamento, elaboração, crítica e análise. O número de cargos vagos no IBGE é de cerca de 6 mil. Mortes e aposentadorias não são repostas de forma sustentável ao longo do tempo, o que influenciou todas as equipes do IBGE, gerando perda de conhecimento, inclusive nas equipes envolvidas no Censo Demográfico. - Um orçamento insuficiente para a preparação e realização da operação censitária, sendo que grande volume de recursos é utilizado para contratar pessoal temporário fundamental para listar e achar os domicílios.

Com gente a menos, e cadastro de endereços do IBGE desatualizado em cerca de 70%, ampliam-se os riscos de subenumeração de domicílios e pessoas, na medida em que será necessário muito treinamento em quantidade e boa qualidade, dificultado com a ausência de pessoal efetivo e experiente na casa e pessoal em quantidade necessária para realizar o trabalho. Estas questões foram expostas em diferentes momentos para a direção do IBGE e publicizadas.

Entretanto, a atual direção do IBGE, em acordo com as políticas fiscais de enxugamento de recursos financeiros e humanos do atual governo, não pleiteia as melhores condições e se submete ao "fazer do jeito que der, ou de qualquer maneira" . Como estão de passagem, para fazer jus aos DAS que recebem, o seu compromisso é com o governo e não com a instituição e o resultado, porque talvez nem estejam aqui para ver as consequências de um Censo mal feito e cheio de problemas para as necessárias análises e políticas públicas.

Nesse sentido, a ASSIBGE - representante dos trabalhadores desta respeitada instituição, vem, mais uma vez a público demonstrar e declarar sua imensa preocupação com a qualidade do trabalho, com a respeitabilidade do órgão e responsabilidade com os nossos informantes e usuários.

A ASSIBGE informa ainda que está fazendo amplo debate com os trabalhadores através de assembleias estaduais preparatórias para a Plenária Nacional. Este fórum vai incorporar decisões e iniciativas locais que já existem na casa como o movimento já em curso de coordenadores de área que defendem a entrega de cargos coletivamente tendo em vista a realização do censo nas atuais condições, sem vacina e sem controle da pandemia.

Os trabalhadores do IBGE não podem se sentir responsáveis pelas decisões erradas da atual direção do IBGE (Presidente e Conselho Diretor), fruto da postura intervencionista e negacionista desta direção. Exigimos que ela abra os ouvidos e um amplo diálogo com o sindicato e com os técnicos de todo Brasil envolvidos no Censo, por meios transparentes para que se discuta os melhores rumos para esse projeto que se for deixado nestes termos, está fadado ao fracasso.

Concurso público já!
Abaixo a Emenda 95!
Por um censo sem cortes!
A vida acima de tudo!
Vacina já para todas e todos! Não à reforma administrativa!

Executiva Nacional da ASSIBGE - Sindicato Nacional
22 de Fevereiro de 2021

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo