Viaduto do Joá: fatos, denúncias, argumentos e ações

A prefeitura se prepara para uma obra de recuperação com a perspectiva de eliminar os perigos ocasionados pela falta de manutenção e pela ação do mar na estrutura. 

Após muito debate e visões conflitantes de especialistas – os favoráveis à completa demolição da estrutura e os que defendem a sua recuperação – a prefeitura do Rio de Janeiro, no final de janeiro, optou pela manutenção do Elevado do Joá. Segundo decla-rações do prefeito Eduardo Paes à imprensa, “a obra será grandiosa, emergencial e, em seis meses, a um custo elevadíssimo, acabaremos com qualquer risco ou problema no Elevado do Joá”.

A resposta da prefeitura veio depois da apresentação de estudo do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Contratado pela própria prefeitura em 2009, a Coppe divulgou, no dia 04 de dezembro de 2012, no Clube de Engenharia, o documento resultante de dois anos de pesquisa, apontando ações imediatas a serem tomadas e recomendando a troca total dos tabuleiros superiores e inferiores por meio de desmontagem e remoção.

Recuperação

Do outro lado da história estão técnicos e empresas que acreditam ser possível recuperar a estrutura. Entre esses nomes, o de Bruno Contarini se destaca. Ainda estudante de engenharia, Contarini calculou e projetou parte do viaduto Negrão de Lima, em Madureira, no Rio de Janeiro. Especialista em pontes e viadutos – tendo sido o diretor técnico do consórcio que construiu a ponte Rio-Niterói –, e ganhador de diversos prêmios, Contarini trabalhou na recuperação do Elevado do Joá em 1988, ocasião em que conhe-ceu bem a estrutura. “Na época, o alarde era o mesmo. Queriam interditar o viaduto porque cerca de 15 fios de um total de 720 haviam rompido. Fizemos a recuperação e, 25 anos depois, as vigas e a armação – completamente substituída na época – estão todas boas, como consta, inclusive, no relatório da Coppe”, aponta.

Segundo Contarini, as fundações e os pilares do viaduto estão íntegros como também apontam os estudos da Coppe. “O que derruba viaduto é fundação e pilar e todos eles foram recuperados. Aparelhos, apoio e dentes Gerber, que na minha opinião são altos, não derrubam um viaduto com transversinas”, declara. O argumento do engenheiro é que parar um viaduto que recebe 120 mil carros por dia, sem perigo iminente de colapso, é impensável. A recuperação e a manutenção seriam, segundo ele, os caminhos para a eliminação completa de quaisquer problemas na estrutura. “Se houve falha de manutenção em algum ponto, então que se faça a recuperação sem o alarmismo de man-dar derrubar tudo.Engenharia não é isso”, alerta.

Mitos e ações

Embora a prefeitura não vá levar a cabo a sugestão de demolição do elevado do Joá, outras medidas apontadas como emergenciais já foram implementadas. Desde dezem-bro, o tráfego de caminhões foi proibido, a velocidade máxima foi reduzida de 80 km/h para 60 km/h e a altura máxima na pista inferior foi fixada em 4 metros de altura. As obras, que estão sendo executadas pela Bruno Contarini Engenharia e Concremat já preparam o reforço que será feito nos dentes Gerber. “Embora não houvesse sobrecarga, o coeficiente de segurança aumentou com as ações pedidas pela Coppe e isso é mais que suficiente para dar um retorno à população que, obviamente, está preocupada. Mandar derrubar uma estrutura é muito fácil para quem não tem responsabilidade alguma nisso. Agora, pra falar que não precisa derrubar, que o viaduto pode continuar funcionando, tem que ter muita capacidade e responsabilidade”, destaca o engenheiro.

Possíveis erros cometidos na execução das obras na época da construção do viaduto e a proximidade do mar, apontados por alguns como possíveis causas da deterioração, também foram refutadas por Contarini. Segundo ele, havia engenheiros acompanhando a construção do elevado e o projeto, apontado em alguns casos como falho, foi muito elogiado. As críticas à escolha do projeto mais barato, segundo informa, também não procedem. “Hoje o projeto teria algumas restrições, mas na época, foi muito elogiado. 

E é claro que o projeto que venceu a licitação foi o mais barato. A lei brasileira determi-na que seja assim. Eu entrei na concorrência e perdi. A engenharia ao menor preço não é o ideal, mas é assim que é”. 

Debate vital para a cidade

Desde 2010 o Clube de Engenharia vem discutindo o assunto com sócios, divisões técnicas e convidados. Os debates continuam. No início de março o Fórum Permanente de Mobilidade Urbana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fundado pela divisão técnica especializada de Transporte e Logística (DTRL) e a Federação das Associações de Moradores do Rio (Fam-Rio), encaminharam documentos à presidência do Clube de Engenharia defendendo posiçãocontrária à decisão da prefeitura do Rio pela manuten-ção do Viaduto do Joá, solicitando que o Clube se pronuncie. O documento destaca que “temos vivido tempos em que a imprevidência e inadvertência do Poder Público, com suas obrigações fiscalizadoras e como provedor da segurança coletiva dos cidadãos, têm tido consequências desastrosas e de comoção irremediável”. A Fam-Rio, entre outras críticas, questiona o elevadíssimo custo das obras da prefeitura. Inicialmente orçadas em R$ 7 milhões, a obra custará dez vezes mais.

O posicionamento do Fórum teve como base parecer técnico emitido pelo engenheiro Thomaz de Aquino Arantes, experiente em materiais construtivos e grandes estruturas e obras de arte urbanas. No documento, Aquino cita estudos dos engenheiros Nelson A-raújo Lima (o primeiro a tratar do tema em palestra no Clube de Engenharia) e Eduardo M. Batista e destaca a necessidade de se “licitar imediatamente estudos de pré-viabilida-des técnica, econômica, financeira, ambiental e social para a construção de novo viadu-to” e imediata interdição do atual.

Contarini, concorda com a construção de novo viaduto, não para substituir a estrutura atual, mas para dar vazão ao fluxo cada vez maior de carros em direção à Barra da Tijuca. “Eduardo Paes vai fazer outro viaduto e colocar ambos em funcionamento. Não existe a necessidade de se parar o viaduto atual. Ninguém tem o direito de ir à imprensa dizer isso antes de falar com a prefeitura e com os técnicos. Isso é mais que alarmismo, é terrorismo”, finaliza Bruno.

Os trabalhos apresentados por Nelson Araújo Lima (2010) e os estudos da Coppe/UFRJ (2012), assim como o de Thomaz de Aquino podem ser acessados no Portal da  Engenharia

- Matéria publicada na página 4 do jornal número 528 do Clube de Engenharia.

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