Clube de Engenharia participa do IX GEO Políticas com jornada de debates

Evento tratou de “Mineração, Petróleo e Geoconservação” no auditório da entidade e foi transmitido pelo canal da Febrageo no YouTube

Um dos maiores desafios do país é explorar suas riquezas minerais de forma sustentável, com vistas ao desenvolvimento econômico e social. No entanto, ainda há muitos obstáculos para o aproveitamento mais racional desses recursos naturais brasileiros. Para discutir os aspectos técnicos e estratégicos da área, diversas entidades de Geologia organizaram o IX GEO Políticas, que este ano contou mais uma vez com a participação do Clube de Engenharia. O tema dessa edição em evento híbrido foi “Mineração, Petróleo e Geoconservação”, com quatro painéis diferentes.

Na abertura, o presidente do Clube, Márcio Girão, ressaltou a importância da cooperação entre diferentes entidades para a realização de debates em prol do desenvolvimento nacional. 

Mais uma vez, fazendo jus à sua História, o Clube de Engenharia contribui na proposição de caminhos para o desenvolvimento nacional. A atual Diretoria está cumprindo o seu propósito em estreitar parcerias com as entidades coirmãs, não apenas no Rio de Janeiro como de todo o Brasil, compartilhando preocupações em matérias técnicas e políticas que nos afetam e discutindo questões essenciais sobre o futuro do Brasil”, afirmou Girão.

O conselheiro Renato Ramos, presidente da Associação Profissional dos Geólogos do Estado do Rio de Janeiro, destacou a necessidade de o Brasil voltar a debater sua soberania sobre o setor de petróleo e gás e alertou na abertura sobre o risco de o país cair na “depressão cívica”, entorpecendo a discussão política. “A mineração é uma das facetas mais importantes do país, e o que nós mais vemos no noticiário nos últimos meses e nos últimos anos sobre o setor são garimpos clandestinos em terras indígenas”, ressaltou o geólogo, que saudou a recente criação de geoparques no país.

Ricardo Latgé, geólogo e diretor de Atividades Institucionais do Clube, ressaltou a união de esforços para o cumprimento da missão que as entidades envolvidas têm em comum.

O Clube vai escrever suas propostas e a Febrageo também, e quiçá um grupo de entidades vai conseguir  escrever suas propostas para os candidatos à Presidência da República e também aos governos dos estados de forma sempre democrática. Esse é o nosso papel, que é de motivar a participação e a transformação deste país”, afirmou Latgé.

A jornada realizada no Clube começa com a mesa “Mineração: perspectivas e desafios”. O palestrante Márcio José Remédio, que é Diretor de Geologia e Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil/CPRM, apresentou um panorama da mineração no Brasil, com suas enormes potencialidades. A necessidade de o país produzir maior quantidade de fertilizantes para a agricultura também contribui para esse cenário positivo. O Brasil também possui reservas de minerais que estão encontrando grande procura no mercado internacional como o lítio, o urânio e cobalto. Uma maior integração entre as bases de dados disponíveis ainda é um desafio.

Houve abertura para o debate e o Geólogo Edson Farias de Mello, diretor na Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro, falou sobre outros desafios do setor como o impacto socio-ambiental. Ele citou o exemplo das comunidades locais que comumente são afetadas pela mineração. Latgé também participou da mesa ressaltando a necessidade de reestruturação do aparelho estatal que cuidava do setor.

A segunda mesa tratou do tema “Petróleo, para onde vamos?”. A indagação foi abordada pelo geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras. Ele contou de forma resumida como foi a descoberta do pré-sal pela Petrobras, que só foi possível graças a um esforço da empresa no aprimoramento técnico da exploração em águas ultra profundas. Investimento este que não foi empregado por multinacionais estrangeiras, conforme destacou ele.  O geólogo defendeu a soberania do país sobre o setor energético com uma matriz diversificada.

Alberto Machado, diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), criticou a falta de uma visão integrada na elaboração de políticas e de estratégias para o setor energético como um todo, do qual o petróleo e o gás fazem parte. Segundo ele, a transição energética para uma matriz mais renovável e com menores emissões de CO2 não pode prescindir de uma preocupação também com a segurança energética e com a soberania nacional, em conjunto com os aspectos ambientais. Para ele, a extração petrolífera deve durar pelo menos quatro décadas e permitir também a potencialização das outras fontes, que dependem de componentes derivados do petróleo. Machado também defendeu o conteúdo local na cadeia do setor.

O economista João Alberto De Negri, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ressaltou no debate que a transição para energias renováveis não se dará necessariamente à revelia das grandes petrolíferas, que estão adotando como escopo a produção energética como um todo e não apenas a exploração do mineral. A mesma visão, segundo ele, deveria ser recuperada pela Petrobras, que chegou a tentar no passado se transformar numa empresa de energia e não apenas petrolífera. A companhia brasileira estaria ficando para trás em pesquisa e desenvolvimento de outras fontes não fósseis, em contraposição até a empresas chinesas.

As palestras da primeira etapa podem ser vistas no link:
https://www.youtube.com/watch?v=SpH5pwyflms&t=1436s

A segunda etapa do evento começou com o debate sobre o “Projeto Costões e Lagunas: oportunidades e ameaças”. A geóloga Katia Leite Mansur, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Projeto Costões e Lagunas, falou em sua palestra sobre a importância da criação dos três primeiros geoparques brasileiros. É uma classificação instituída pela  Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco), que já tem em sua lista o Caminhos dos Cânions do Sul, situado entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o parque Seridó, localizado no Rio Grande do Norte, e o Araripe, localizado na Bacia do Araripe, que se estende pelo sul do Ceará, noroeste de Pernambuco e leste do Piauí. 

Ao contrário do que muitos pensam, os geoparques não são áreas de proteção ambiental, mas também podem ter partes protegidas sim. Em seu conjunto, abrigam todo um ambiente cultural que precisa ser preservado junto com a natureza. Essa característica só reforça a importância turística deles, pois além da beleza da paisagem geológica, há diversas atividades a serem exploradas neles. Por isso, seria tão vantajoso para o Estado do Rio a consolidação do geoparque Costões e Lagunas, que abrange 16 municípios do litoral norte e leste fluminense.

Bacharel em Turismo e Engenheiro Marco Navega, Presidente do Conselho Regional de Turismo da Costa do Sol do Rio de Janeiro (CONDETUR da Costa do Sol), apresentou o ambiente cultural e natural da região abrangida pelo projeto do geoparque fluminense, com paisagens deslumbrantes formadas por praias, lagoas, lagunas e diferentes formações geológicas, além de sítio arqueológicos. Renato Ramos também participou do debate e alertou sobre o risco representado pelo projeto de construção de um terminal portuário em Maricá onde se encontram as famosas “beachrocks”, que influenciaram os estudos do naturalista Charles Darwin. Esse patrimônio estaria ameaçado pelo projeto, que enfrenta ação na Justiça.

O último painel do dia teve como tema “O Sistema Confea/Crea’s e seus desafios nas atividades de Petróleo, Mineração e Geoconservação”. O geólogo Adriano Sampaio, assessor da Presidência do Crea-RJ, abordou em sua palestra as atribuições dessa estrutura de entidades, que atuam no sentido de estabelecer as normas para as diferentes áreas profissionais abrangidas e pela fiscalização do exercício profissional. Ele falou das limitações que esse acompanhamento sofre, mas mostrou também avanços na garantia dos direitos dos trabalhadores das áreas vinculadas e da segurança para a sociedade. Profissões regulamentadas que têm potencial de risco ao patrimônio e à vida ou pela complexidade técnica dos empreendimentos, como engenheiro, engenheiro agrônomo, geólogo, geógrafo, meteorologista e tecnólogo são abrangidas pelo sistema.

A engenheira civil Carmen Lucia Petraglia, ex-Presidente da SEAERJ e Conselheira do Clube de Engenharia, lamentou as dificuldades de fiscalização sobre os órgãos públicos e defendeu o fortalecimento da Comissão de Relações Institucionais para melhorar o diálogo com outras instituições. Ricardo Latgé contribuiu para o painel abordando a questão da reforma da Lei 5.194/1966 (Lei dos Engenheiros) e defendeu uma maior representatividade do Confea e criticou a proposta do governo de escancarar a atividade de engenharia a estrangeiros.

Além desses painéis no Rio, o IX GEO Políticas contou também com eventos nos dias 28 e 29 de junho na Unesp de Rio Claro (SP).

Essa segunda etapa do programa pode ser vista no link:
https://www.youtube.com/watch?v=G_RMApRsSQQ&t=7s

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