O Clube de Engenharia realizou, em 11 de abril, a palestra “Reciclagem de lixo urbano: uma boa alternativa de ação sustentável”. Ministrada por Claudio Garcez, especialista em gestão ambiental pela Universidade Estácio de Sá e consultor ambiental da Organização Não Governamental EcoMarapendi, o evento trouxe discussões sobre destino de resíduos e reciclagem, e aconteceu na semana anterior à comemoração do Dia da Terra (22 de abril).

Para a abertura da palestra, o engenheiro químico Paulo Murat, chefe da Divisão Técnica de Engenharia do Ambiente do Clube, e coordenador da Câmara de Engenharia Química do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), destacou a urgência do tema. “Todo assunto ligado a meio ambiente não é apenas importante, mas questão de sobrevivência” defendeu. “À medida que o desenvolvimento industrial avança, com modernização e inovação tecnológica, vêm os problemas de poluição e agressão ao meio ambiente”. 

A palestra foi promovida pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e Divisão Técnica de Engenharia do Ambiente (DEA) do Clube de Engenharia, e contou com o apoio das Divisões Técnicas de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS), de Recursos Naturais Renováveis (DRNR), de Engenharia Química (DTEQ) e de Engenharia de Segurança (DSG).

Política Nacional de Resíduos Sólidos
“Antes de falar sobre reciclagem, não podemos deixar de citar a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que é a lei nº 12.305/10”, inicia Claudio Garcez. A lei abrange uma série de definições e políticas de enfrentamento a problemas ambientais, como o gerenciamento de resíduos, acordos setoriais, política de 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e coleta seletiva, entre outros. Apesar de abrangente, a lei brasileira enfrenta dificuldades em sua aplicação.

O palestrante explicou que o conceito de resíduos sólidos abrange todo tipo de produto derivado da atividade humana, podendo ter origem agrícola, de serviços de saúde, industrial, residencial, comercial ou perigosa, como são chamados os materiais que oferecem risco à saúde. Além de aprender quais desses resíduos são recicláveis, é necessário informar à população quais não são. Garcez cita o exemplo de determinados tipos de papéis, como o higiênico e guardanapos, ou mesmo espumas, isopor e acrílico, que muitas vezes são recebidos nas cooperativas apesar de não serem recicláveis. Cada grupo de recicláveis (vidro, plástico, papel e metal) possui especificidades na coleta. No caso do vidro, por exemplo, a indicação é que não sejam misturados materiais de diferentes origens. Feitos de diferentes ligas, materiais como vidros de janela e garrafa de vidro não podem ser reciclados juntos.

Um dos principais problemas enfrentados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos é o destino das milhões de toneladas de lixo coletados nas cidades brasileiras. O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) aponta que 7,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, 9,2% do total produzido em 2015 (ano mais recente da pesquisa), não tiveram cobertura de coleta. Ao receber destino impróprio, todo esse lixo pode vir a contaminar o solo e prejudicar a saúde da população.

Após a coleta, os resíduos podem ter, basicamente, três destinos. Os lixões são locais que não possuem preparação do solo contra contaminação, onde trabalhadores coletam recicláveis sem proteção adequada, expostos a acidentes e doenças. Já os aterros controlados são antigos lixões que receberam algum tipo de proteção. “O lixão recebe camada de cobertura de terra e grama, com queima de gás metano para minimizar os impactos e como proteção contra a contaminação do solo com chorume”, explica o especialista. Juntos, lixões e aterros controlados ainda recebem 41,3% do total de resíduos sólidos urbanos coletados no país, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza pública (Abrelpe). Um caso conhecido de aterro controlado é Gramacho, na região metropolitana do Rio. “O lixão foi encerrado em 2012, e hoje é um aterro controlado. Diminuiu o impacto, embora ele ainda exista”, afirma Garcez. Por fim, o destino mais adequado são os aterros sanitários, que possuem estrutura para proteger o meio ambiente de contaminações. “Antes do resíduo chegar, o solo recebe uma manta de PVC com argila. Existe captação do chorume, que é tratado para virar água de reuso, e captação e queima de gás metano, que é transformado em gás carbônico, 25 vezes menos poluente. Nesse local não existem pessoas trabalhando de forma inadequada, nem animais ou contaminação do lençol freático”, explica o palestrante. Segundo a Abrelpe, 58,7% do total coletado no país recebe esse destino.

Vantagens da reciclagem
Um dos principais pontos positivos da reciclagem destacados pelo palestrante é justamente o enfrentamento dos problemas de coleta e depósito de resíduos urbanos quando ocorre diminuição dos rejeitos depositados nos aterros sanitários — rejeito porque o que vai ser depositado ali é somente o que não tem mais serventia. “Quando você manda os resíduos para a indústria recicladora, você dá mais tempo de vida aos aterros sanitários, já que eles têm uma capacidade específica, não são eternos”, afirma.

A economia de recursos ambientais também é um grande ganho. O especialista aponta o dado de um fabricante de garrafas de vidro no Rio de Janeiro, que afirma que 65% do seu produto provêm da reciclagem. “6 em cada 10 garrafas são feitas a partir de outras garrafas, deixando de consumir 75 toneladas de material virgem por ano”, diz Garcez. A indústria da reciclagem gera, ainda, trabalho e renda. “Quando o lixão de Gramacho fechou, as pessoas que tinham no lixão a única fonte de renda foram para as cooperativas de reciclagem”, explica ele.

A reciclagem ainda faz parte da política dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), que propõe uma forma responsável de gerenciar os resíduos produzidos pela atividade humana, e é contemplada como meta pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. Reduzir significa consumir de forma consciente, evitando a produção desnecessária de resíduos. Reutilizar significa usar novamente um mesmo material (como garrafas), que de outra forma iriam para o lixo. E reciclar significa transformar um material em outro através de processos químicos, como quando materiais plásticos viram fibra para a produção de roupas.

Recicloteca
Garcez destacou que a reciclagem é um tema amplo, e que outras abordagens, como a da legislação, devem também ser discutidas. A ONG EcoMarapendi, fundada em 1989, mantém desde 1991 o projeto Recicloteca, um centro de informações sobre reciclagem e meio ambiente. No site do projeto é possível pesquisar pontos de coleta de material reciclável em diferentes cidades do país, além de obter informações sobre quais tipos de lixo podem ser reciclados e outros materiais educativos. Um escritório no bairro de Botafogo oferece assessoria para projetos ligados ao tema. Para mais informações, acesse: www.recicloteca.org.br

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