Introdução
Um Projeto para a Soberania no Século XXI – Engenharia & Soberania – Parte 2
Amaury Monteiro Junior
A Soberania Nacional é a capacidade de um Estado de exercer seu poder de forma independente, sem a interferência de outras nações. No século XXI, essa autonomia se expande para além das fronteiras físicas, abrangendo o controle sobre dados, tecnologia, recursos naturais e até mesmo a produção de alimentos. Nesse contexto, a engenharia, em suas diversas especialidades, emerge como uma ferramenta estratégica para a defesa e o fortalecimento da soberania. Sua capacidade de projetar, construir e inovar internamente é crucial para reduzir a dependência de tecnologias e produtos estrangeiros, garantindo que o país tenha o controle sobre seus próprios sistemas e infraestruturas críticas.
O Desafio da Soberania no Século XXI: Uma Análise Crítica
Atualmente, o modelo de desenvolvimento do Brasil tem se mostrado excessivamente focado no rentismo e na produção de commodities sem valor agregado. A economia se baseia na exportação de matérias-primas e produtos básicos, deixando de lado a industrialização e a inovação. Esse modelo fragiliza a soberania, pois torna o país vulnerável às flutuações do mercado internacional e dependente de nações que dominam a tecnologia e o conhecimento.
A lógica da privatização de empresas estratégicas, como a Eletrobras e a Vale, agrava esse quadro. Essas empresas não são apenas ativos econômicos, mas ferramentas de segurança energética e tecnológica. A privatização de ativos estratégicos, na prática, é uma transferência de poder e conhecimento para o setor privado, muitas vezes de capital estrangeiro, o que enfraquece diretamente a soberania nacional. Para romper com essa fragilidade, é fundamental que o governo atue como indutor da economia, e o projeto Nova Indústria Brasil (NIB) surge como uma oportunidade para tal.
Retomada da Industrialização: O Papel das Empresas Nacionais e do Governo
A engenharia é a força motriz para impulsionar a industrialização e o desenvolvimento tecnológico. No entanto, para que essa iniciativa seja bem-sucedida, é essencial a recuperação e valorização das empresas de engenharia nacionais. O país precisa dar a elas a chance de participar de grandes projetos de infraestrutura, como o Túnel Santos-Guarujá. Por muito tempo, essas empresas foram impedidas de atuar em grandes obras, em parte devido a restrições impostas pela Operação Lava Jato.
A restrição a essas empresas não apenas prejudicou a economia, mas resultou na perda de know-how e na dependência de empresas estrangeiras. A retomada dessas empresas é, portanto, um ato de soberania. A criação de um ambiente seguro e de regras claras, com licitações que favoreçam a participação de empresas brasileiras, é essencial para que elas possam retomar sua capacidade de execução, gerar empregos e, principalmente, reter o conhecimento técnico no país. A preferência por produtos nacionais, criando facilidades para que estejam presentes em todos os grandes projetos, é outra medida fundamental para incentivar a industrialização.
A Formação do Capital Humano: O Alicerce da Soberania
A soberania não se sustenta apenas com máquinas e infraestrutura. Ela é, em sua essência, cultural e humana. A defesa de uma nação exige um povo educado, saudável e com capacidade de pensar criticamente. A engenharia é o braço executor, mas a educação é a mente que a guia.
É crucial que o país tenha um forte sistema de apoio nas ciências sociais, ciências médicas, ciências humanas e educação em todos os níveis. O conhecimento gerado nessas áreas é fundamental para o desenvolvimento de soluções para problemas complexos, como a desigualdade social, a saúde pública e a proteção do meio ambiente. Cuidar da formação tecnológica das novas gerações, com forte apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), é o primeiro passo para garantir que o Brasil tenha o capital humano necessário para dominar as tecnologias do futuro.
Pilares de um Projeto para a Engenharia do Futuro
Para que a engenharia cumpra sua missão no século XXI, é necessário um plano estratégico que vá além das obras tradicionais. Um projeto para a engenharia do futuro deve focar em áreas que definem o poder e a autonomia de uma nação, com o governo atuando como fomentador e a engenharia como executora.
- Independência Tecnológica e Digital
A soberania na era digital depende da capacidade de uma nação de controlar sua própria infraestrutura de informação. Para isso, é crucial:
- Desenvolvimento de Semicondutores Nacionais: O domínio da microeletrônica é fundamental para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros e garantir a segurança de equipamentos estratégicos, de defesa e comunicação.
- Redes de Comunicação Seguras: A engenharia de telecomunicações deve focar no desenvolvimento de hardware e software para redes 5G e 6G com tecnologia nacional, evitando o risco de vulnerabilidades e espionagem.
- Autonomia Energética e de Recursos
O controle sobre a produção de energia e a gestão de recursos naturais é vital para a independência de um país. O projeto deve incluir:
- Projetos de Energias Renováveis: Investir em tecnologias de ponta em energia solar, eólica e de biomassa para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e garantir segurança energética.
- Exploração de Minerais Estratégicos: Dominar a engenharia para a prospecção e beneficiamento de minerais críticos (lítio, nióbio, urânio) é fundamental para que o país agregue valor e controle a cadeia produtiva.
- Soberania na Produção de Alimentos e Propriedade Intelectual
A soberania não se sustenta sem a capacidade de alimentar a população e proteger o conhecimento.
- Soberania Alimentar: A engenharia agronômica e a de alimentos devem desenvolver tecnologias para a agricultura de precisão, adaptadas ao clima brasileiro, garantindo a segurança alimentar da população.
- Propriedade Intelectual: A engenharia de patentes e de software deve proteger as inovações nacionais, criando um sistema eficiente para evitar a apropriação indevida por empresas estrangeiras.
Conclusão: A Engenharia como Vanguarda da Soberania
A Engenharia, portanto, não é a única solução, mas uma ferramenta estratégica fundamental para o desenvolvimento nacional. Ao investir na profissão, nas empresas nacionais e nas tecnologias certas, o país constrói as bases materiais para sua autonomia, segurança e prosperidade. O governo, ao atuar como indutor da economia e fomentador da Nova Indústria Brasil, tem a chance de romper com o modelo de rentismo e commodities. É a união do esforço de todos os setores — da engenharia às ciências humanas — que permitirá ao Brasil construir uma nação Democrática, Soberana, Socialmente justa, Igualitária e Tecnologicamente avançada, onde cada cidadão é um protagonista de seu próprio destino.
Fonte: 68naluta.blog