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A MÁQUINA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CHEGOU NO DEGRAU DE SALTO TECNOLÓGICO

Conselheiro Cesar Drucker

O mundo digital ficou agitado neste inicio do ano com o aparecimento da ferramenta ChatGPT, produzida pela empresa OpenAI em colaboração com a Microsoft. A extraordinária aceitação de cem milhões de usuários ativos por mês parece estar mostrando que atingimos um degrau que se configura como salto tecnológico.

Até aqui, a resposta da Inteligência Artificial a perguntas dos usuários eram informações. Agora, a máquina redige textos, com base em enormes conjuntos de dados extraídos da internet, e ainda dialoga com o internauta para refinar o produto entregado. Ela deixou de ser fornecedora de informações e passou a ser coautora da produção intelectual.

O Chat Generative Pre-Trained Transformer pode elaborar textos ou dar soluções para atender a quase tudo: resume livros, compõe poesias, faz roteiros, explica qualquer assunto em diferentes níveis, faz programação e até dá solução a problemas técnicos. A maquina tornou-se um colaborador, o internauta ganha tempo e agrega qualidade no seu trabalho, e o produto final é a soma da participação dos dois.

Por exemplo para criar e-mails, basta dar uma idéia resumida, e a máquina devolve redação completa, que o solicitante ainda pode pedir em algum estilo, como informal ou formal. Na área profissional, os advogados podem solicitar textos de jurisprudência, intimações, defesas; os médicos podem solicitar diagnósticos; os engenheiros, laudos técnicos.
Entretanto, há que considerar três limitações: 1) as informações da ferramenta vão até o ano 2020. 2) ocorreram após essa data dois eventos que influíram sobre os rumos do mundo: a pandemia da COVID-19 e a guerra entre a Ucrania e a Russia.3) o próprio ChatGPT adverte sobre suas imperfeições, portanto seus produtos devem ser recebidos com cautela.

Saltos tecnológicos acarretaram muitos receios e variadas perguntas.

Na área do trabalho, aumentou o receio pelo desemprego trazido pela máquina. Até aqui, ações repetitivas, como a dos operários de chão de fábrica, estão sendo substituídas pelo robô. Agora, os atingidos são profissionais de nível superior, e com a sensação de que só se sobrevive com elevada qualificação digital.

Professores e livreiros se preocupam: como vai ficar a avaliação intelectual, medida pela apresentação de textos, agora cocriados pela máquina?

E os padrões dos algoritmos não podem levar a uma homogeinização da cultura? E agora não ficou mais fácil que usuários possam ser induzidos por interesses econômicos ou políticos ?

Hoje damos de graça nossos dados, aparentemente neutros, para empresas bilionárias que os revendem ao comércio. E agora, com esse compartilhamento da cocriação com a máquina?

Nós, engenheiros que projetamos e construímos máquinas, estamos em
posição privilegiada para acompanhar as consequências desta revolução, já que no passado vimos as mudanças na sociedade causadas pelo surgimento de sucessivas maquinas relacionadas com produção cultural.

Gutemberg inventou a maquina impressora plana em 1439, e ela foi fundamental para o Renascimento humanista e a Reforma protestante. A informação e as ideias eram até então controladas pelos conventos, onde trabalhavam os copistas.

A máquina fotográfica trouxe o registro e a divulgação do nosso mundo.

A maquina impressora rotativa, de 1843, possibilitou a informação em massa, e com ela surgiu uma nova classe, a dos donos das cadeias de jornais, que passaram a ter poder sobre a formação da opinião dos seus leitores. No Brasil da Era Vargas, Assis Chateaubriand foi o precursor desses barões.

Há um grupo de três máquinas, que foram geradas para a comunicação, mas estão relacionadas, na história, com o uso político para a violência e destruição. Falamos do fonógrafo, do cinematógrafo e da radiodifusão, surgidas no final do século 19 e inicio do século 20. Em 1920, foi fundado na Alemanha o Partido Nacional-socialista dos Trabalhadores Alemães, o partido nazista. Os nazistas desenvolveram intensivamente o uso politico destas novos instrumentos, com discos de marchas militares, filmes patrióticos e discursos inflamados transmitidos pelo rádio. O resultado, dezenove anos depois, foi a Segunda Guerra Mundial, com enorme destruição da Europa, o Holocausto e a morte de 50 a 70 milhões de pessoas.
O poder das empresas gigantes de comunicação é crescente, com o desenvolvimento cada vez mais rápido da tecnologia, e portanto sua regulação precisa ser enfrentada.

O Clube de Engenharia, através do programa Encontros com Tecnologia, traz esse momentoso assunto para debate, na próxima quarta-feira, dia 5 de abril, às 18 horas, através do Sympla. O expositor será o especialista Michel Ferreira de Castro. Estão todos convidados, sócios e não sócios, profissionais e alunos.

Nosso convite tem um respaldo de peso. Entrando no ChatGPT e perguntando a opinião dele sobre nosso Programa, ele escreve: “ Os programas Encontros com Tecnologia são uma iniciativa relevante e benéfica para a comunidade científica e tecnológica do Rio de Janeiro e do Brasil “ .

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