Nascido no Rio de Janeiro e grande incentivador da mineração no país, o geólogo e engenheiro Miguel Arrojado Lisboa foi tema de debate no Clube de Engenharia. O legado de sua obra e os temas em questão desde a época de sua atuação profissional foram abordados durante o evento. Promovido pelas Divisões Técnicas de Recursos Minerais (DRM), Transporte e Logística (DTRL), Engenharia Econômica (DEC) e Recursos Naturais Renováveis (DRNR), o principal objetivo do debate foi refletir sobre o panorama atual, cem anos após os estudos de Lisboa. Desde questões mais amplas como a geologia, economia, os recursos minerais e combustíveis fosseis até as ferrovias e secas no nordeste, que já representavam um problema na época, foram pontuadas durante o evento.
O conselheiro do Clube e ex-chefe da DTRL, Alcebíades Fonseca, ressaltou a importância de debates que congregam os esforços de tantas Divisões Técnicas Especializadas do Clube de Engenharia. Para ele, “a prática do debate precisa ser cada vez mais reforçada na sociedade brasileira”.
Formado na Escola de Minas de Ouro Preto, Miguel Arrojado Lisboa participou da Comissão Schnoor de reconhecimento do traçado da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, como explicou o palestrante convidado para a mesa de abertura, William Maciel, que é presidente da Sociedade Brasileira de Geografia. “Arrojado Lisboa fez estudos importantes para essa ferrovia, como o reconhecimento e a exploração da região, que era bastante complicada. Ele ofereceu condições técnicas para a construção da ferrovia, estudou a geologia da região e mostrou o caminho que ela deveria seguir”, explicou o professor William Maciel . O chefe da DRM, Benedicto Rodrigues, lembrou que, mesmo tendo formação nas engenharias de Minas e Civil, Miguel foi um grande geólogo. “Ele abraçou a geologia, foi pioneiro e teve grande participação no desenvolvimento do nosso país. Procurou fazer trabalhos sociais no nordeste, mas foi demitido na mesma época”, contou Benedicto.
A constatação de que alguns graves problemas de cem anos atrás ainda persistem, foi levantada pelo chefe da DEC, Fernando Travassos. “Algumas questões saltam aos olhos, como a solução para a seca que até hoje não foi apresentada. Em 1880, a malha ferroviária nos Estados Unidos era maior que a que temos hoje no Brasil. Esses são dois dos maiores problemas que demonstram certa incompetência política e falta de empreendedorismo no Brasil”, argumentou.
O então subchefe e atual chefe da DRNR, José Leonel Lima, concordou com Travassos e acrescentou que há uma grande deficiência na tomada de decisões no Brasil. “Temos problemas com ferrovias porque compramos um modelo de desenvolvimento baseado na compra e venda de combustível, pneus e derivados de combustíveis fosseis em geral. A Austrália se desenvolveu através da exploração de minério. Nós também temos minério, mas não tomamos a mesma decisão”, afirmou.
Tomaz de Aquino descreveu sobre cada tipo de carvão encontrados em regiões do Brasil. Para o então subchefe da DRM, o carvão foi o grande objeto desses pioneiros. “A atuação e as publicações de Arrojado Lisboa foram essenciais para o desenvolvimento do país e da geologia. Em cada atividade que ele realizava, a geologia estava envolvida”, finalizou.