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Brasil vive a seca mais grave de sua história

Brasil vive a seca mais grave de sua história

Fogo em rodovia em São Paulo. Crédito: Reprodução Inmet
Brasil vive a seca mais grave de sua história
Indústria Química Brasileira

Diversos setores foram prejudicados com o fenômeno e alguns lugares já estão há mais de quatro meses sem uma gota de precipitação

A seca que atingiu diversos estados do Brasil este ano foi a mais severa já registrada, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Foram contabilizados dados entre 1950 e 2024, que geraram o Índice de Precipitação-Evapotranspiração Padronizado (SPEI) para cada período. Apesar de a estiagem ser um fenômeno recorrente nas estações de outono e inverno na maior parte do território brasileiro, a condição atingiu níveis extremos, acarretando diversos problemas, como má qualidade do ar, maior incidência de incêndios e prejuízos para a agricultura e a geração de energia, além de prejudicar o abastecimento de água e a irrigação.

Segundo o Cemaden, uma série de fatores provocaram a seca aguda deste ano. Contribuiu para a baixa umidade, as chuvas abaixo do esperado no período anterior nos meses de primavera e verão, em virtude do fenômeno El Niño. Isso fez com que o solo e os corpos hídricos já estivessem com água abaixo do normal no último mês de abril. O problema foi logo verificado numa extensa área que vai do Acre e Amazonas até o Estado de São Paulo e o Triângulo Mineiro. Ou seja: a estiagem já atinge toda essa faixa há mais de 12 meses.

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Ruas de Brasília encobertas por fumaça. Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil

Além disso, nos últimos meses as precipitações em grande parte do país foram bem abaixo da média histórica do período. Para se ter uma ideia, no Centro-Oeste,  em parte do Sudeste e do Nordeste ficaram mais de cem dias sem cair água. Alguns municípios foram especialmente afetados e a seca durou pelo menos quatro meses, sem registro de precipitações. 

O Cemaden também apontou como causas do fenômeno fatores de mais longo prazo, como as mudanças climáticas, advindas do aquecimento global, e o desmatamento das florestas. O primeiro deles é provocado pelo acúmulo de gases que elevam a temperatura média da atmosfera do planeta, principalmente produzidos a partir da queima de combustíveis fósseis, e tende a agravar os eventos climáticos extremos. No ano passado, em cerca de 30% dos municípios brasileiros houve pelo menos um mês de condição de seca severa, extrema ou excepcional. 

O efeito estufa também pode causar eventualmente o fenômeno inverso, como uma tempestade. Pode parecer contraditório, mas enquanto a maior parte do país sofre com a estiagem, o Rio Grande do Sul enfrentou chuvas em níveis recorde. Por outro lado, a devastação das florestas vem a reboque da expansão da agropecuária no Cerrado e na Amazônia.

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Um incêndio atingiu o Parque Nacional de Brasília. Bombeiros e populares tentavam conter as chamas. Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Ironicamente, é essa atividade econômica que sofre com os efeitos. As safras de milho, feijão, café e cana-de-açúcar podem ser as mais afetadas, além da pecuária. A falta de chuva prejudica a floração, mas os cultivos também foram prejudicados pelo fogo. A seca favorece a ocorrência de incêndios, parte deles casuais, como guimbas de cigarro jogadas por quem passa por uma rodovia, por exemplo. Mas outros são intencionais. No Interior de São Paulo, desde meados de agosto, mais de 20 pessoas foram presas, suspeitas de atearem fogo em mato ou plantações. Os motivos ainda estão sendo investigados, mas não se descarta razões políticas, pela incidência em momentos próximos. As medidas tomadas pelos governos não foram suficientes para combater o problema.

“É uma verdadeira guerra contra o fogo e criminalidade”, declarou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. “Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência nesses anos de trabalho com fogo”, ressaltou a ministra, que comparou os casos com o chamado  Dia do Fogo, cadeia de incêndios ocorridos no Pará em 2019, no governo de Jair Bolsonaro.

Os efeitos econômicos da seca incluem a elevação dos preços dos produtos, o que impacta diretamente a inflação e a taxa de juros. A estiagem prejudica também a geração de energia. Em virtude da falta de chuvas e dos incêndios, a safra de cana-de-açúcar pode ter uma perda de 470 mil toneladas, segundo o Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), o que tende a reduzir a produção do combustível etanol. Mas a geração de energia elétrica pelas usinas é a mais atingida.  

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Pôr do sol com tempo seco e qualidade do ar muito ruim na Estação da Luz, em São Paulo. Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou maior flexibilidade por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no uso das usinas termelétricas, para contornar a redução do fornecimento por parte das hidrelétricas. As unidades movidas a combustível são poluentes e caras, mas viraram a única alternativa viável para se evitar apagões. O problema acontece apesar da sobra proporcionada pela energia solar, que à noite, quando o consumo no país atinge um pico, praticamente não é gerada. Situação semelhante ocorreu em 2015, mas o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, descartou a possiblidade de apagões. O governo também estudo a volta do horário de verão como medida para se poupar energia.

“As medidas de planejamento são fundamentais. Por isso, estamos tendo esse cuidado de nos adiantar aos problemas, e com isso eu tenho a absoluta convicção de que nós não atravessaremos em 2025 o que aconteceu em 2021, que, por falta de planejamento, estivemos à beira de um colapso energético no Brasil”, disse Silveira.

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Fogo não poupa áreas de preservação ambiental. Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A falta de chuva e os incêndios florestais trazem prejuízos também para a saúde humana. Muitas cidades vêm ficando coberta por nuvens de fumaça, o que acarreta problemas respiratórios para a população. Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados mais de 180 mil focos em 2024, entre janeiro e meados de setembro. O número é mais que o dobro do mesmo período do ano passado.

Devido aos chamados “rios voadores”, que são correntes de nuvens formadas na Amazônia, que se deslocam para outras regiões e países vizinhos, as cinzas estão caindo até no Sul do país através da “chuva negra”. Esse material é considerado tóxico e também prejudicial à vida humana. A nuvem escura chegou a encobrir 11 estados brasileiros.

“Os dados foram retirados do sensor de aerossóis do satélite Sentinel. A medida de aerossóis na atmosfera indica a presença de fumaça ou poeira na atmosfera e é tradicionalmente utilizada para rastrear a evolução de eventos como incêndios e erupções vulcânicas”, explica Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil.

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Rios da Amazônia praticamente secaram. Crédito: Ricardo Stuckert/PR

O flagelo da seca afeta o turismo, tendo em vista a interrupção de passeios. O acesso ao belíssimo Alter do Chão, no Pará, precisou ser fechado por causa dos incêndios, por exemplo. Mas não faltam casos de cachoeiras que sumiram e inclusive rios caudalosos da Amazônia que estão simplesmente secando, reduzindo o acesso a transporte e pesca. 

É um cenário que obriga o Poder Público das três esferas a melhor se estruturar para o combate a incêndios, mas também reforça a necessidade de medidas que extrapolam o caráter emergencial. A criação de um centro de comando ou autoridade com poder de gerenciamento de ações de combate a incêndios no país se faz necessária, entre outras medidas. Eventos como esse tendem a se repetir e, mesmo que sejam criadas restrições às emissões de gases do efeito estufa, o Brasil e o mundo terão que conviver com os eventos extremos por muito tempo.

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