Sistema desenvolvido por professores brasileiros, que interpreta mensagens e classifica ordens e termos contidos em textos e áudios, ganha destaque em conferência de engenharia nos Estados Unidos
O excesso de mensagens de texto e áudio que as pessoas recebem no dia a dia já é motivo de perda de capacidade de atenção e de mal-entendidos. O problema não é exclusivo dos usuários comuns de aplicativos de comunicação, como o WhatsApp e o Telegram, mas também aflige os comandantes de organizações militares, órgãos administrativos e empresas. Por isso, vem crescendo a necessidade de aprimoramentos para essas plataformas digitais. Uma solução que está gerando bastante interesse é um sistema criado por professores brasileiros que interpreta mensagens e gera destaques de acordo com o conteúdo, voltado para operações de comando e controle. Os responsáveis já fizeram apresentação do projeto em conferência nos Estados Unidos e apostam na tecnologia para aproveitamento em usos diversos.

A aplicação explora o uso da inteligência artificial na sua vertente de interpretação da linguagem natural. Ela é capaz de entender a semântica das palavras e das frases e ser programada para classificar determinados termos que são de suma importância para as operações de uma organização. São recursos que ajudam a orientar os receptores das comunicações, gerando alertas e ajudando numa interpretação mais precisa dos conteúdos. A valia desse instrumento chamou a atenção da organização da 19ª Annual System of Systems Engineering Conference, que foi realizada no fim de junho, no estado de Washington, nos Estados Unidos.




A equipe do professor do Instituto de Engenharia Militar (IME) Flávio Mosafi foi convidada a apresentar a novidade no evento. O engenheiro e professor também é membro da Divisão Técnica de Eletrônica e Tecnologia da Informação (DETI) do Clube de Engenharia. Assinam também o artigo os professores Luís Pires (Universidade de Twenty – Holanda), Julio Duarte (IME) e Maria Cláudia Cavalcanti (IME).
“O objetivo da aplicação é ajudar o receptor da mensagem a entendê-la com maior precisão. Em situações críticas, se a ordem não for bem compreendida, o resultado pode ser desastroso”, ressalta o professor Mosafi.
Nos testes feitos até o momento, a ferramenta apresentou bons resultados e atendeu bem a programação para destacar perguntas, mesmo que falte o sinal de interrogação no texto. É capaz também de chamar a atenção para o tipo de unidade da que se fala, bem como da categoria de agente, equipamento ou veículo e a ação a ser implementada. É um mecanismo que facilita o sucesso das operações orquestradas a partir de centros de comando e controle, comuns nas organizações militares, mas também já bastante implementadas em prefeituras e órgãos estaduais de defesa civil, trânsito e segurança pública.

No artigo submetido à conferência de engenharia dos Estados Unidos, a equipe destaca também o fato de a aplicação ser bastante compatível com sistemas que funcionam através da arquitetura de microsserviços. Ou seja: são estruturas de software que não estão concentradas de forma monolítica numa única base e funcionam em estruturas independentes. Conforme explica o professor, esse tipo de arquitetura é mais confiável e vem sendo adotada pelas big techs, por facilitar a manutenção e poderem sofrer eventuais reparos sem atingir seu funcionamento como um todo.
“A arquitetura de microsserviços se mostra eficiente no apoio a essa aplicação em Natural Language Processing (NLP) com uso de inteligência artificial de entendimento”, afirma o professor.
O sistema processa as mensagens, dando uma interpretação, classificando sua prioridade e dando a categorização para termos específicos, tudo a partir de um orquestrador. O processamento por etapas em pipeline se dá em máquinas diferentes, mas o mais importante é que a mensagem chegará ao destinatário. Ele também gera estatísticas sobre as comunicações trocadas, o que tende a ser útil tanto para o aprendizado de máquina quanto para o planejamento das corporações.
O trabalho contou com o apoio financeiro da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e da FAPEB (Fundação de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Exercício Brasileiro), e foi desenvolvido no âmbito do projeto “Sistema de Sistemas de Comando e Controle” (S2C2), do Exército Brasileiro. Também teve o apoio do Escritório de Pesquisa Científica da Força Aérea.

Como grande parte das soluções criadas para necessidades das atividades militares, esta é mais uma inovação que tende a ser aplicada também no cotidiano das pessoas. Quem sofre para dar conta de tantas mensagens nos grupos de trabalho, dos amigos e parentes deve estar ansioso para esse auxílio no gerenciamento de seus recados.