Governo assina memorandos que abrem caminho para o desenvolvimento de pesquisas e para projetos nas áreas eólica, solar e de biomassa, entre outras
Apesar da necessidade de se assegurar a soberania nacional sobre o setor energético e as riquezas naturais e de se incentivar o desenvolvimento tecnológico do país, a cooperação internacional é um caminho que tende a trazer oportunidades de avanços a diversificação e incremento da matriz brasileira. Por isso, merece atenção os acordos recentes que o Brasil vem assinando com alguns países, o que pode alavancar a produção de energia, fundamental para a retomada do crescimento econômico. Entre janeiro e maio deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já visitou oito países e trouxe como fruto a assinatura de memorandos voltados para o estabelecimento de parcerias importantes para as áreas nuclear e de fontes renováveis.
A missão do Brasil na China teve alguns contratempos, mas foi a mais frutífera em termos de projetos que foram semeados. A ida do presidente Lula ao país asiático, realizada entre 13 e 14 de abril, sofreu adiamento em virtude de problemas de saúde do mandatário. No entanto, não impediu a reaproximação. O quase congelamento das relações sino-brasileiras nos últimos anos provocou uma guinada agora mais forte até nas relações diplomáticas, com uma enxurrada de acordos, grande parte deles na área energética.

Um dos memorandos assinados envolveu a Prumo Logística e a empresa de energia chinesa SPIC para a realização de estudos de avaliação de viabilidade financeira e técnica de projetos de energia renovável no Porto do Açu, no litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro. No lugar, há potencial para a produção de energia eólica offshore, solar e de produção de hidrogênio combustível.

Acordos assinados em Pequim envolvendo da mineradora Vale também têm como objetivo a geração de energia mais limpa. Junto com a Baoshan Iron & Steel, do grupo Baowu, a companhia brasileira vai desenvolver projeto para a produção de biocarvão, a partir de biomassa. O substituto será usado para a descarbonização da indústria siderúrgica e contribuir para o combate ao efeito estufa. A mineradora também assinou com bancos chineses financiamento para projetos que contemplam a utilização de outras fontes de energia renovável.
A empresa brasileira de soluções em energia renovável Motrice, com sede em São Paulo, que tem usinas em vários estados, iniciou entendimentos com a multinacional chinesa Gansu International Corporation for Economic and Technical Cooperation Co. (CGICO) para o desenvolvimento de projetos na área de energias renováveis. Outro grupo do país asiático, a Gansu TUS Green Technology Innovation, assinou acordo com o governo do Ceará para investimentos no estado nordestino. Faz parte desse grupo a Tsinghua University, a 14ª melhor universidade do mundo e referência mundial em inovação, que vai estabelecer parcerias com as universidades locais para o desenvolvimento de projetos com fontes alternativas, como o hidrogênio verde.
Outro resultado da missão à China, foi a assinatura de acordo entre o Ministério de Minas e Energia e a SPICcom o objetivo de realizar estudos de viabilidade para construção e operação de pequenas usinas de energia solar. As unidades serão complementadas por miniturbinas eólicas, baterias e purificadores de água, e vão beneficiar áreas remotas e isoladas da Floresta Amazônica.
No final de abril, comitiva brasileira chefiada pelo presidente visitou Portugal e Espanha. O primeiro-ministro português, António Costa, anunciou que empresas do país ibérico vão investir nos próximos anos 5,7 mil milhões de euros no desenvolvimento de projetos energéticos no Brasil.
O tour prosseguiu para a Espanha, onde foi assinada uma importante carta de intenções da qual são signatários o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação brasileiro e o Ministério da Ciência e da Inovação do Reino da Espanha. Os dois órgãos se comprometeram a desenvolver parcerias voltadas para a transição energética, mas também vão realizar projetos conjuntos que podem trazer valiosos resultados nas áreas de saúde, meio ambiente e mudança climática, alimentos de maior qualidade e valor agregado, novos recursos para a Indústria 4.0, produção mais limpa ou sustentável, mobilidade e transporte avançado, tecnologias da informação e comunicações.
Durante a visita de Lula a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, foi anunciado um investimento de R$ 12 bilhões para a construção de usina de biodiesel na Bahia.
O setor energético também foi uma das tônicas da visita de Lula a Buenos Aires, na Argentina, principalmente com relação à energia nuclear. O país vizinho vai atuar no projeto de construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) [Leia também nesta edição matéria especial sobre esse projeto]. Também houve o início de negociação sobre um possível financiamento do BNDES à construção de gasoduto entre os dois países.