Professor Cristiano Travassos explica que modelo tende a ser cada vez mais usado no mercado, mas faltam profissionais habilitados para uso da tecnologia
A partir de 2028, obras feitas para atender a órgãos públicos da administração federal terão que ser executadas com uso da metodologia BIM (Building Information Modelling). No entanto, empresas, profissionais e até os servidores desses departamentos ainda precisam se capacitar para que a determinação possa ser posta em prática. Segundo o professor de Engenharia da PUC-Rio e da UFF Cristiano Travassos, os desafios para que essa tecnologia seja plenamente difundida no país ainda são significativos, a começar pelas próprias universidades que formam profissionais, mas ainda carecem de laboratórios adequados para o ensino da nova modelagem.
Em palestra no Clube de Engenharia, intitulada “Cenário BIM no Brasil e no Mundo”, o professor traçou um panorama histórico dessa tecnologia, que começou a ser discutida academicamente já na década de 1970. É uma metodologia, que segundo ele explicou, não se limita à digitalização dos projetos através de modelagem computacional em 3D. Trata-se também de uma abordagem colaborativa em que todos os participantes dos projetos tendem a buscar a melhor solução possível e que também reúne todas as informações das construções nessa plataforma.
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Ao longo dos anos, pesquisadores foram aprimorando a ideia da construção planejada de forma totalmente digital, o que levou a um novo padrão em que a execução e até a manutenção posterior são gerenciadas por essa plataforma. Mas foi só no início dos anos 2000 é que a metodologia ganhou o nome de BIM, sigla hoje já muito difundida no mundo. Apesar da dianteira dos países escandinavos na implementação dele, o Brasil não está tão atrasado em termos institucionais, podendo até se equiparar à China e aos Estados Unidos em termos de exigências governamentais, mas ainda está muito atrás em termos de publicações científicas sobre o assunto e no ensino da tecnologia nas universidades.
“Estamos publicando muito pouco sobre o tema. São universidades específicas que publicam e a maioria não desenvolveu a parte científica. Enfrentamos dificuldades pela falta de investimentos. Não conseguimos montar um laboratório com 50 computadores. Às vezes, precisamos usar o computador do aluno ou o nosso, o que limita o nosso potencial de pesquisa”, explicou o professor.
Portanto, é necessário um esforço do poder público e da sociedade para que o aprendizado do BIM deslanche. Os investimentos podem ser até pequenos diante do potencial de ganho para o país. O próprio governo estima que com a difusão da técnica, o PIB da Construção Civil pode crescer quase 30% até 2028. Mas os benefícios não param por aí. O BIM proporciona melhor qualidade nos projetos, ao permitir não só uma maior colaboração entre diferentes profissionais, evitando erros, além de possibilitar uma visualização prévia por parte de clientes e redução de acidentes de trabalho.
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Por agilizar a realização das obras, tem fortes motivos para ser introduzido em projetos de infraestrutura que o país pretende implementar e teoricamente já deveria estar sendo utilizado na fase inicial em todas as obras do governo federal, mas a própria Lei de Licitações de 2021 foi, segundo o professor, um tanto hesitante com relação à obrigatoriedade. O texto prevê a adoção da tecnologia de forma preferencial e ainda abre a possibilidade de tecnologias similares, o que pode atrelar o país à modelagem em AutoCAD, mais antiga.
“Já numa pesquisa feita em 2017, quando os computadores e softwares nem eram tão avançados quanto atualmente, o mercado já enxergava como benefícios do BIM a redução de conflitos com a implementação, melhor comunicação e entendimento do projeto, redução de erros e omissões dos documentos de construção, redução de custo de construção, redução de retrabalho e melhor engajamento com o cliente. Hoje em dia isso é cada vez mais forte”, destaca o professor.
Ao mesmo tempo em que é desafiador, o BIM traz muitas vantagens comparativas com relação a antigas metodologias, por proporcionar também o compartilhamento de responsabilidades entre os envolvidos no projeto, reduzindo os conflitos entre diferentes colaborados. É mais eficiente para a gestão do fluxo de trabalho, facilitando o compartilhamento de informações entre as equipes. Para o poder público, são fatores que reduzem os custos dos projetos em quase 10%.
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Diversos órgãos públicos das três esferas da administração vêm publicando cartilhas e capacitando seus servidores a respeito do BIM, o que é um avanço significativo. Mas o professor lamenta a falta de profissionais no mercado capacitados nas ferramentas dessa tecnologia, apesar de haver até softwares gratuitos.
O presidente do Clube, Márcio Girão, também lamentou a falta de investimentos nas universidades, mas propôs a criação de um hub tecnológico no Rio de Janeiro para fortalecer a Engenharia e estimular a capacitação do BIM.
“O Rio de Janeiro tem potencial de pessoas e empresas para alavancar a Engenharia”, afirmou Girão.
Assista aqui à palestra: