Há 100 anos, Einstein fazia história difundindo a Teoria da Relatividade no Brasil

Há 100 anos, Einstein fazia história difundindo a Teoria da Relatividade no Brasil

O físico e os astrônomos do Observatório Nacional. Crédito: Divulgação/Mast
Há 100 anos, Einstein fazia história difundindo a Teoria da Relatividade no Brasil
Brasília 65 anos

Físico alemão fez palestra no Clube e visitou diversas instituições no Rio de Janeiro, em maio de 1925

Há 100 anos, o Brasil recebeu o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) como uma celebridade científica. A passagem do autor da Teoria da Relatividade pelo Rio de Janeiro, então capital federal, incluiu uma visita à antiga sede do Clube de Engenharia do Brasil, onde proferiu uma palestra em auditório lotado. O cientista ainda foi recebido por outras instituições, por autoridades, e não deixou de conhecer atrações turísticas da cidade. O centenário vem sendo comemorado com uma série de eventos, que incluem a inauguração de uma placa em homenagem a ele no auditório do 25º andar da entidade, no último dia 12 de maio.

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O presidente Francis Bogossian na inauguração da placa

O vice-presidente do Clube de Engenharia do Brasil, Fernando Peregrino, destacou na cerimônia a importância de se rememorar esse episódio passado num momento de recrudescimento da intolerância política e religiosa no mundo. Einstein era judeu e já sentia na época a perseguição a esse povo na Alemanha, que se tornaria mais grave com a ascensão do Nazismo, anos depois. Sua vinda ao Brasil e a outros países da América do Sul, como a Argentina e o Uruguai, teve o apoio das comunidades judaicas desses países.

“Há uma simbologia nesse momento. Por ser judeu, o Einstein foi perseguido pelos nazistas e hoje nós vemos em vários lugares do mundo a perseguição à ciência”, declarou Peregrino.

A recepção a Einstein no Brasil, em maio de 1925, foi organizada pelo Clube, em conjunto com a Escola Politécnica e a Academia Brasileira de Ciências. O físico tinha 46 anos à época e já era mundialmente famoso pela repercussão de sua enigmática, para a maioria dos humanos, Teoria da Relatividade, bem como por ter conquistado o Prêmio Nobel de Física três anos antes, pela descoberta do efeito fotoelétrico. Por conta da realização da conferência, o Clube concedeu a Einstein o título de Sócio-Honorário da entidade.

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Einstein, em visita ao Museu Nacional

Conforme mostrou o professor e físico Ildeu Moreira, em palestra recente ao Conselho Diretor, a relação de Einstein com o Brasil tinha começado com o evento da comprovação de sua Teoria da Relatividade Geral durante um eclipse solar na cidade de Sobral, no Ceará. Provavelmente por isso, o alemão se interessou pela visita e em conhecer um pouco da cultura e da realidade do país, através do Rio. Ele também visitou o Museu Nacional, a Fiocruz e o Hospital Nacional de Alienados.

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Einstein é recebido na Fiocruz

O cientista também foi recepcionado pelo então presidente da República, Artur Bernardes, no Palácio do Catete, e pelo prefeito da cidade, Alaor Prata. Seu envolvimento com o Brasil parecia grande, tanto que depois de se despedir, redigiu ainda no navio uma carta ao comitê responsável pelo Prêmio Nobel da Paz recomendando a escolha do Marechal Rondon para ser laureado, já admirado pelo trabalho desse expedicionário.

“Conforme os historiadores analisam, havia vários motivos para que ele viajasse tanto naquele período, tanto pessoais quanto políticos. Ele também era um propagador da Teoria da Relatividade Geral. Ele percebeu que era importante também convencer as pessoas, não só fazer um trabalho científico e divulgar”, ressaltou Ildeu Moreira.

Embora surjam polêmicas com relação à visita de Einstein ao Brasil, seu esforço em transmitir aos brasileiros seus conhecimentos numa época em que o país ainda era majoritariamente rural foi notável. Em uma de suas anotações, se vê o quanto ele ficou satisfeito com a viagem: “O Jardim Botânico, bem como a flora de modo geral, supera o sonho das mil e uma noites. Tudo vive e cresce a olhos vistos por assim dizer. Deliciosa mistura étnica nas ruas: português, índio, negro, com todos os cruzamentos. Espontâneas como plantas, subjugados pelo calor. Experiência fantástica! Indescritível abundância de impressões em poucas horas”.

Apesar de seu reconhecido protagonismo com relação à Teoria da Relatividade e sua relevância para os fenômenos ocorridos em escala mais macroscópica, a contribuição de Einstein para a Física Quântica, de escala mais microscópica, também é de sua importância. A consolidação dessa teoria também está completando 100 anos, conforme mostrou o físico e professor Luiz Davidovich outro palestrante presente no Conselho Diretor. 

Einstein já havia dado imensa contribuição a essa teoria a partir de sua descoberta de que a luz se comporta tanto como onda como partícula, ou seja, os chamados fótons, mencionados por ele desde 1905. Mas foi por incrível que pareça num jornal alemão voltado para o público em geral, o Berliner Tageblatt, que ele escreveu um artigo defendendo princípios que apontavam para a imprevisibilidade do comportamento da luz, contrariando os princípios da Física Mecânica Clássica. No texto de 1924, ele diz: “Portanto, agora existem duas teorias da luz, ambas indispensáveis e como é preciso admitir hoje, apesar de 20 anos de tremendo esforço por parte dos físicos teóricos — sem qualquer conexão lógica”.

Um ano depois, o físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976), então um jovem de 23 anos refugiado numa ilha, escreveu um artigo considerado revolucionário, em que introduz a ideia de que a mecânica quântica deve ser baseada em grandezas observáveis, matando o conceito de órbitas da Física Clássica. Foram ideias aprofundadas por outros cientistas e que causaram desconfiança no início, mas atualmente os conceitos saíram do campo teórico e já estão no dia a dia das pessoas, mesmo que elas não percebam, através de aplicações na medicina, na agricultura e na computação.

“Temos vários exemplos dessas teorias quânticas. O laser que tem uma infinidade de aplicações em medicina, em disco a laser, que agora já está até ultrapassado, leitores de códigos de barra, diodos a laser que tem aplicação em câmeras fotográficas, ressonância magnética que permite ver o cérebro em funcionamento. Esse aparelho de ressonância magnética para a tomografia deu o Prêmio Nobel de Medicina a um físico e a um engenheiro. Inventaram o aparelho de ressonância magnética. Está nos hospitais. Isso é fruto da Física Quântica”, destacou Davidovich.

Portanto, o exemplo de Einstein serve de inspiração para toda a humanidade que acredita na contribuição da ciência para a melhoria na qualidade de vida, o bem-estar e a solução dos problemas, mas sobretudo para a Engenharia, que toma de empréstimo grande parte desse conhecimento para que ele se transforme em instrumentos práticos desses avanços. 

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Einstein, no auditório do Clube

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