Retrofit na Universidade da Califórnia. Crédito: Creative Commons
Parque do Flamengo, 60 Anos
Modelo de construção que preserva parte da estrutura das edificações avança com modernas técnicas de avaliação estrutural, projeto em BIM e IoT
O brasileiro está aprendendo a conjugar um verbo novo: retrofitar. Trata-se de um neologismo para designar a implementação de um projeto de retrofit, termo criado para a adaptação de uma construção antiga ou até de um equipamento às condições mais modernas. Está cada vez mais comum na construção civil, que concilia esse método com princípios de sustentabilidade, na medida em que se poupa grande parte das estruturas. Mas para que os projetos deem certo e sejam viáveis, várias inovações tecnológicas estão sendo introduzidas nesse processo.
O conceito de retrofit para a construção civil surgiu na Europa, onde a quantidade de edificações antigas é muito grande e havia a necessidade de preservação das características arquitetônicas delas, mas com a modernização dos sistemas elétrico, hidráulico e de elevadores, por exemplo. Logo, começou a ser usado nos Estados Unidos, e mais tarde também no Brasil.
Pinacoteca do Estado de São Paulopassou por retrofi
Segundo o professor Mohammad Najjar, do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da UFRJ, se no começo do uso do retrofit já havia um ganho para a sociedade pela preservação de fachadas que embelezam a paisagem das cidades, muitas delas tombadas, com o tempo ele foi também se aliando à valorização do conceito de sustentabilidade. Isso porque na medida em que essas obras mantêm de pé essas estruturas, todo esse material deixa de ser novamente fabricado, reduzindo-se o impacto ambiental. É o caso do vidro, do cimento e de tijolos, por exemplo, que são mantidos, diminuindo o pegada de carbono. Mas até madeiras nobres podem também ser salvas. Por outro lado, ao evitar-se a demolição, reduz-se também a geração de resíduos.
“Quando bem planejado, o retrofit é hoje um instrumento estratégico de sustentabilidade, pois estende a vida útil do edifício, reduz impactos ambientais e atualiza o desempenho. A evolução de métodos de diagnóstico, reforço estrutural e planejamento digital torna cada vez mais viável preservar ao máximo as construções existentes, evitando a geração de resíduos sempre que a integridade estrutural permite”, ressalta o professor.
Na Grã-Bretanha, retrofit valoriza a sustentabilidade. Crédito: Creative Commons
Mas para que o prédio seja entregue aos novos usuários em condições de segurança e haja o máximo de aproveitamento das estruturas existentes, o projeto deve começar por uma cuidadosa avaliação estrutural. Na construção civil moderna, essa etapa já não é mais realizada pelo método visual apenas. Além de rachaduras ou fissuras, há outros indícios de deterioração que não são tão visíveis, como infiltrações mais internas, corrosão das armaduras, efluorescência ou recalques. A tecnologia ajuda nessa detecção, sem a necessidade de quebradeiras.
“A grande revolução foi a adoção de ferramentas que permitem a inspeção sem precisar quebrar ou danificar a estrutura. Isso inclui radar de penetração no solo para mapear a malha de aço dentro do concreto e a localização de tubulações e cabos, análise por ultrassom para identificar falhas internas, vazios ou fissuras, avaliando a qualidade e a resistência do concreto, termografia para detectar anomalias térmicas que podem indicar problemas de umidade ou degradação de materiais, além de scanners a laser 3D e drones para criar modelos tridimensionais precisos da estrutura”, explica Najjar.
A engenharia moderna evita com isso mais destruição e também proporciona intervenções mais cirúrgicas nas estruturas. Até o impacto visual é menor, sem a utilização de reforços estruturais drásticos e desnecessários. As técnicas de reforço, com utilização de fibras de carbono, injeção de resinas, e recuperação de concreto, aumentam a vida útil das estruturas, com sustentabilidade.
“A engenharia de retrofit evoluiu de um processo reativo para uma abordagem proativa e data driven (análise a partir de dados). A segurança dos usuários não é mais garantida apenas por reforços estruturais, mas por um entendimento profundo, detalhado e tecnológico da edificação, permitindo intervenções cirúrgicas e seguras em vez de grandes e arriscadas demolições”, destaca o professor.
Crédito: Freepik
A tecnologia dá ainda maior eficiência ao processo, se desde o início o projeto de retrofit for feito por meio do modelo BIM (Building Information Modelling). Ele cria uma representação fiel do edifício existente, identificando patologias, como rachaduras, e localizando tubulações e fiações para evitar imprevistos. Conforme o projeto avança, as intervenções necessárias são digitalmente inseridas, e eventuais conflitos são apontados e solucionados.
“O BIM transforma o processo de retrofit de um trabalho reativo e cheio de imprevistos em uma abordagem proativa e controlada. A tecnologia não só melhora a precisão do projeto, mas também otimiza a gestão, o que resulta em projetos entregues no prazo e dentro do orçamento, com muito mais segurança para os futuros usuários”, conclui Najjar.
A sustentabilidade é atingida também quando se vê o quanto de economia de energia e água a modernização do retrofit proporciona. Novos equipamentos, com sensores inteligentes conectados à internet (Internet of Things – IoT) para o monitoramento da temperatura, umidade, qualidade do ar e presença de pessoas são um exemplo disso. Eles permitem que sistemas de automação predial (Building Management System – BMS) ajustem automaticamente climatização e iluminação, desligando luzes e ar-condicionado em ambientes vazios e possibilitando controle centralizado por computador ou smartphone e já podem ser instalados mesmo em prédios históricos. O Variable Refrigerant Flow (VRF), em português Refrigerante Variável, é um sistema de refrigeração moderno que regula o fluxo refrigerante conforme a demanda e proporciona grande eficiência. Sem contar a iluminação de LED.
Nova fachada de antigo hotel no Rio de Janeiro retrofitado
Não é à toa, portanto, que o mercado imobiliário das grandes cidades, onde o espaço para a construção também é exíguo, olha cada vez com maior interesse o retrofit. Graças ao avanço tecnológico, ele está mais eficiente e econômico no seu na sua implantação e, por outro lado, têm sido responsável pelo lançamento de edificações mais sustentáveis para seu uso futuro.
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