José Eduardo Pessoa de Andrade1
O presente artigo, escrito pelo engenheiro químico e conselheiro do Clube de Engenharia, José Eduardo Pessoa de Andrade, trata da importância da indústria química para a sociedade e seu papel em diversas cadeias produtivas, bem como de suas vulnerabilidades no Brasil. Pela relevância do tema e para que seja explorado com a profundidade devida, o texto será publicado em quatro edições de Clube de Engenharia em Revista. O próximo número trará o capítulo “Como vai a indústria química no Brasil?”.
1 – Introdução – o que é a indústria química?
Conhecido internacionalmente, o engenheiro químico e empreendedor americano Ralph Landau, recebeu em 1985 a primeira Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação. Foi um dos fundadores da empresa “Scientific Design”, também muito conhecida por ter obtido êxito na área de projetos de engenharia2. Landau também foi professor, pesquisador e autor de vários livros e artigos. Em um dos seus textos, já alertara sobre a complexidade da indústria química: “Para o público, assim como para muitos economistas e formuladores de políticas, e mesmo para alguns participantes da indústria, a indústria química é praticamente invisível, exceto quando é envolvida em um problema ambiental profissional”3 .
A publicação anual da Abiquim4, “O Desempenho da Indústria Química Brasileira“, contém as principais informações econômicas acessíveis sobre a situação da indústria química no Brasil. A última dessas publicações disponíveis é a de 2023. A maioria dos dados deste ano ainda é tratada como estimativa que pode ser comparada com os anos anteriores e que permite analisar a evolução da situação no Brasil.
A Tabela 1 apresenta os segmentos, ou setores industriais, classificados por tipo de uso pela Abiquim, de forma a poder consolidar os dados divulgados pelas associações representativas dos respectivos setores.
Os dados econômicos que servirão de referência para a reflexão sobre a situação da indústria química no Brasil têm base no documento “O Desempenho da Indústria Química Brasileira – 2023”, da Abiquim, e serão mostrados nas tabelas seguintes. É necessário entender que organizações com controle estrangeiro também participam da indústria química brasileira. E mais necessário ainda, consolidar a soberania brasileira para atuação nessa relevante indústria.
A Tabela 3 realça o valor mundial do faturamento líquido da indústria química, cerca de US$ 4,7 trilhões, que representa o somatório das vendas internas e as exportações dos produtos químicos fabricados em cada país. Fica evidente o atual grau de concentração dessa indústria mundial, com a China e os EUA alcançando cerca de 49,2% das vendas. Esse valor também reforça a compreensão da importância estratégica dos produtos químicos, com produção sempre disputada pelos principais países. Com a agregação da Alemanha e do Japão, atualmente a dependência desses quatro principais países alcança cerca de 57% das vendas mundiais.
Adiante, no texto deste artigo, será mostrada a relevância da produção e vendas da União Europeia (EU27) e do Reino Unido (UK) para o atendimento das necessidades sociais e econômicas dos países que a integram. A estrutura da União, como exemplo da região mais evoluída do nosso mundo, influencia o avanço semelhante de outros países e regiões que não a integram. Sem a disponibilidade de produtos químicos para outros setores, necessários à diversidade da vida atual, se torna muito mais difícil a conquista desses avanços. Em 2012, com o Reino Unido (UK) ainda presente, a União Europeia era a região com maior fabricação de produtos químicos no mundo. Após a saída da UK, ocupou desde então a 2ª maior região produtora no mundo, atrás apenas da China, país não classificado nessas estatísticas como região. Outros países relevantes também foram destacados das respectivas regiões. O Brasil e a Índia permanecem disputando a 6ª posição nessa classificação5.
A Figura 1, a seguir, exemplifica a diversidade e a necessidade social e econômica de produtos químicos para a União Europeia. A ênfase mostra a grande demanda por produtos químicos dos diversos tipos de outras indústrias e atividades econômicas. A indústria, classificada isoladamente, absorveu 56% dessa demanda. Atividades sociais e de saúde absorveram 17%.
Grande parte da sociedade brasileira se manifesta favorável ao desenvolvimento econômico e social nos moldes da União Europeia e dos Estados Unidos. Será necessário ao povo brasileiro e às suas instituições muita dedicação, esforço, educação e formação para superar as fortes barreiras e desafios existentes num processo que demandará longo prazo. As lideranças socioeconômicas, como as empresariais dos diversos segmentos do Estado brasileiro, do Poder Executivo e dos parlamentares, das instituições de pesquisa e de participação social e dos trabalhadores atuantes, precisam se qualificar e assumir seus compromissos com a organização/estruturação desse amplo grupo de atuação no Brasil.
A indústria química no Brasil, com apoio de nossa sociedade, também disputa sua relevância no cenário internacional dos produtos químicos, com vendas de 2,7% sobre o total, a exemplo da citada disputa com a Índia. Essa ordem da participação de nossa indústria química, 6ª posição mundial em faturamento líquido, é bastante relevante para entender a necessidade de mais estudo, conhecimento e identificação de seus pontos positivos e negativos.
A análise da indústria química será efetuada com esse objetivo. O primeiro passo será a observação das vendas líquidas por segmento.
1 Engenheiro Químico/EQ/UFRJ; MBA/Coppead/UFRJ; M.Sc./Engenharia de Produção/Coppe/UFRJ; Engenheiro aposentado/BNDES; Professor aposentado/EQ/UFRJ – atual professor colaborador voluntário.
2 “Wikipedia – Ralph Landau”. Acessado em 2 de agosto de 2024.
3 Tradução livre, pelo autor desse artigo, da citação de LANDAU, R.; ARORA, A.; E ROSENBERG, N., “Chemicals and Long-Term Economic Growth”. John Wiley & Sons, New York (1998), “Introduction – A Brief Introduction to the Chemical Industry”, p.5.
4 Abiquim – Associação Brasileira da Indústria Química.
