Nossa indústria química está sob ameaça de destruição?  — Parte 3

Nossa indústria química está sob ameaça de destruição?  — Parte 3

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Nossa indústria química está sob ameaça de destruição?  — Parte 3
Química em Questão

O texto a seguir, escrito pelo engenheiro químico e conselheiro do Clube de Engenharia, José Eduardo Pessoa de Andrade, dá continuidade ao artigo do autor publicado na edição anterior de Clube de Engenharia em Revista sobre as perspectivas da indústria química brasileira, que pode ser lido neste link. Já a primeira parte está disponível neste link. O atual aborda as perspectivas e iniciativas que  estão sendo tomadas no sentido de reativar o setor. Na próxima edição, será publicada a quarta e última parte do trabalho, que aborda o tema “O futuro da indústria química no Brasil: chegaremos lá?”.

Corrigir os rumos para o futuro da indústria química 

Por José Eduardo Pessoa de Andrade

O referido seminário de 7 de maio, confirmou a preocupação com o “momento de crise muito aguda” que atravessamos. Manifesto assinado por 29 entidades em defesa da produção nacional de produtos químicos foi lançado em 25 de junho de 2024. “Garantir medidas de proteção da balança comercial é vital para manter a operação das cadeias e atrair novos investimentos… O governo norte americano adotou aumentos de impostos de importação acima da casa dos 30%”. Essa adoção está no meio da guerra comercial entre Estados Unidos e China. A indústria química no Brasil havia entrado, em março de 2024, com “pleitos de elevação da Tarifa Externa Comum (TEC), pedindo a inclusão na Lista de Elevações Transitórias para 65 produtos. 

Em maio deste ano de 2024, segundo a Abiquim, o nível de utilização da capacidade instalada despencou para 58% (42% de ociosidade), o menor nível mensal de utilização desde o início da série histórica da química nacional em 1990. Obviamente, dada a elevação do custo fixo unitário, quanto menor for a utilização da capacidade instalada, menor a capacidade de competição da indústria química nacional. 

Dados divulgados pela Abiquim no seminário de 7 de maio, informaram que a capacidade ociosa do setor nos últimos cinco anos se situou de 25% a 30% e 500 mil empregos estão em risco de extinção nos próximos dez anos. A indústria química no Brasil tem aderido às preocupações mundiais com a sustentabilidade. São esforços para reduzir o consumo de energia, de água, e investimento na reutilização de resíduos, na economia circular com uso mais intenso de matéria-prima renovável. Também foram destacadas pela Abiquim propostas para coibir a concorrência desleal e políticas públicas para ampliar a competitividade do setor. Nesse ponto, há necessidade de garantir o acesso a preço justo e abundante ao gás natural como matéria-prima oriunda do pré-sal; ampliar investimentos em bioprodutos, com insumos produzidos a partir de biomassa vegetal; ampliar a matriz energética limpa, com baixa pegada de carbono e um ambiente favorável para oportunidades decorrentes do novo marco do saneamento. 

A aprovação dessas ideias é apoiada pela maioria dos que defendem a indústria química. O documento “Missões”, elaborado pela Diretoria de Economia e Estatística da Abiquim, apresenta a maior parte dessas proposições, que demandam continuidade e profundidade em seu estudo. A Química e a Indústria Química do Futuro, com seus desafios são mostradas nas 10 Figuras 6 e 7, das “Missões”, a seguir. 

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Figura 6 – A Indústria Química do Futuro é Fundamental para a Sociedade 

Quais as maiores dificuldades para correção dos rumos do passado? Entendo que as diferenças de natureza ideológica geraram grandes dificuldades. De um lado, o que mais ouço é que o Estado é ineficiente por natureza e não consegue concretizar investimentos positivos e eficientes. Do outro lado, o que mais ouço é que o setor privado também não é capaz, por sua natureza, de implantar e gerir projetos, com transparência, que escondem suas limitações em gerar benefícios para a sociedade.

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  Figura 7 – A Indústria Química do Futuro é Renovável e Circular 

Na realidade, também existem empreendedores que compreendem a necessidade da promoção de uma sociedade mais justa e mais sustentável. Essa é a expressão da conjugação de dois valores para assegurar um futuro de maior qualidade. As diferenças, com opiniões extremas, ao desperdiçar energias, não levam a nada e a nenhum lugar e não contribuem para o progresso socioeconômico de nosso país. Esses extremos, uma situação 11 típica de falta de maturidade, se consideram donos da verdade. O desafio é procurar debater ideias e diálogos com o objetivo de selecionar os pontos positivos e diferentes na divergência, e trabalhar na busca das convergências presentes. As propostas devem ser aceitas e absorvidas pela diversidade de opiniões, que servirão de apoio à implementação dos projetos convergentes. Precisamos construir com participação e compromissos um projeto para o Brasil com desenvolvimento inclusivo. 

Outra grande dificuldade presente em nossa sociedade é a incapacidade, que ainda prevalece, de promover a organização e articulação dos diversos participantes inovadores com capacidade de mobilizar diferentes ideias e esvaziar as apenas ideológicas. Com isso, as diferenças, de visão, de capacitação, de conhecimento, de formação, de perfis, de temperamentos, na disposição de correção dos erros e outras poderão criar um coletivo de sucesso. 

A articulação se faz necessária para obter os melhores resultados possíveis. De fato, não é simples e nem fácil essa construção. Como diz um conhecido ditado, a união faz a força. É apenas idealismo? É compatível com a realidade humana, com seus defeitos e limitações? Precisamos refletir, sem preconceitos, com abertura de nossa inteligência inclusive emocional, para viabilizar uma conquista humana. 

Coincidentemente, em uma reflexão com ideias não restritas apenas aos aspectos técnicos abordados, Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, em sua coluna semanal na Folha de São Paulo do dia 08 de outubro de 2024, argumenta em seu título que “Precisamos urgentemente de um curso de escutatória”. Isso vem a calhar para fortalecer a capacidade de diálogo e termos sucesso na estruturação positiva de um trabalho coletivo. Ela destaca, como ensinou o autor Rubem Alves, que “A gente ama não é a pessoa que fala bonito, é a pessoa que escuta bonito. O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você…’. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta”.

Sobre o Autor

José Eduardo Pessoa de Andrade

José Eduardo Pessoa de Andrade

Bio: Foi Chefe da DTEQ - Divisão Técnica de Engenharia Química do Clube de Engenharia. É Professor colaborador voluntário do Departamento de Engenharia Química da Escola de Química da UFRJ/ Engenheiro Químico e M.Sc. em Engenharia de Produção

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